Projetista, chefe de equipe e homem de negócios, o engenheiro britânico que criou a Lotus mudou a Fórmula 1 com suas ideias revolucionarias.
Na cinquentenária história da Fórmula 1, foram muitos os personagens que contribuíram para que a categoria, antes um passatempo de aristocratas, se tornasse a mais eletrizante e popular modalidade de automobilismo do planeta. Alguns protagonizaram avanços na área tecnológica, construindo máquinas cada vez mais velozes; outros deixaram seu legado na parte do negócio, viabilizando a F1 como um produto multimilionário. Poucos, porém, conseguiram deixar suas marcas nos dois setores – e, entre esses, sem dúvida, destaca-se o genial Colin Chapman, fundador da Lotus.
Um dos mais criativos e ousados engenheiros do esporte a motor, o britânico projetou e construiu carros que venceram sete campeonatos mundiais de construtores e seis pilotos, eternizando, em seus bólidos, nomes como Graham Hill, Jim Clark e Emerson Fittipaldi. Fora das pistas, foi o responsável por uma tacada de mestre: a negociação de patrocínios para os carros, inclusive mudando a pintura de acordo com as cores das empresas. A injeção de capital dos patrocinadores alçaria a Fórmula 1 a outro patamar.
MAIS LEVE, MAIS RÁPIDO
Nascido em 1928, Chapman formou-se engenheiro e interessou-se pela aeronáutica, chegando a ingressar na Força Aérea Real, em 1948. Mas mudou de planos e, em 1952, decidiu investir no que antes era apenas um passatempo a Lotus Engineering Limited, construtora de carros esportivos. Dois anos depois, nasceria a Lotus, dedicada as competições de automobilismo – e que, após obter diversos resultados importantes nas categorias intermediárias, ingressou na Fórmula 1. A estreia da equipe aconteceu no GP de Mônaco de 1958, com Graham Hill e Cliff Allisson ao volante da Lotus 12.
É interessante notar que Chapman, ao contrário de muitos construtores, não fez carreira de sucesso como piloto. Bem que ele tentou: em 1956, chegou a ser inscrito para o GP da França de F1 pela equipe Vanwall. Porém, ainda nos treinos classificatórios, bateu seu carro no do companheiro de equipe, Mike Hawthrn, e resolveu pendurar as luvas de uma vez por todas. Sorte da Fórmula 1: com o foco totalmente voltado para o desenho e a construção de carros, em especial os de corrida, Colin Chapman revolucionaria a categoria máxima do automobilismo com uma série de inovações de ponta. Era obcecado pela simplicidade e pela leveza, que considerava muito mais importantes do que os cavalos. Daí vem seu lema, mais atual do que nunca: Adicionar potência faz você ficar mais rápido nas retas. Subtrair o peso faz você ficar mais rápido em todos os lugares.
A DINASTIA DA LOTUS
A primeira vitória de uma Lotus na Fórmula 1 veio em 1960, no Grande Prêmio de Mônaco, com Stirling Moss pilotando a Lotus 18. Mas seria a Lotus 25, que introduziu os chassis monocoque, o modelo responsável por garantir o primeiro título para o Team Lotus. Lançado em 1962, o bólido levou Jim Clark a conquista do Mundial de Pilotos de 1963 – e seria também o modelo base para as versões que, em 1965 e 1968, conquistariam mais dois títulos mundiais, respectivamente, com Clark ( Lotus 33 ) e Graham Hill ( Lotus 49 ). Este, aliás, foi o primeiro carro de Fórmula 1 a ter o motor como componente estrutural do carro e a utilizar aerofólios, outros pioneirismos com a assinatura de Chapman.
A Lotus 49 também foi a primeira a ser inteiramente pintada com as cores de uma patrocinador: no caso, o branco, vermelho e dourado substituíram o verde tradicionalmente usado pelas escuderias britânicas. A partir daí, os concorrentes copiaram sem pudores a ideia, uma sacada de Chapman que, de uma só vez, coloriu as pistas, tornando as corridas visualmente mais atrativas, e recheou os cofres das equipes, permitindo maior investimento em tecnologia.
Em 1972, o britânico acertaria um novo patrocínio e a Lotus ganharia o preto e dourado, tornando-se um clássico no dejes una palabra sola al final del párrafo.
Dentro da pista, a década de 1970 viu a conquista de mais três mundiais de pilotos, com Jochen Rindt ( 1970, Lotus 72 ), Emerson Fittipaldi ( 1972, ainda com o modelo 72 ) e Mario Andretti ( 1978, Lotus 79, este com o lendário efeito solo ).
MORTE PRECOCE
No início da década de 1980, Chapman começava a testar o conceito de suspensão ativa, que, muitos anos mais tarde, seria aplicado com sucesso na Fórmula 1, em especial na Williams, no início dos anos 1990.
Mas o fundador da Lotus não veria o fruto de mais avanço. Em dezembro de 1982, aos 54 anos, Colin Chapman sofreu um ataque cardíaco fulminante e morreu dentro de sua casa, em Norfolk ( Reino Unido ), deixando a esposa, Hazel, duas filhas, Jane e Sara, e um filho, Clive.
Ele viveu duas ou três vidas ao mesmo tempo, declarou Nigel Roebuck, editor da revista britânica Auto Sport, ao The New York Times, por ocasião de seu falecimento. Foi um chefe de escuderia, projetista de carros e homem de no dejes una palabra al final del párrafo.