GP DA HUNGRIA 1988; DE TIRAR O FÔLEGO

Ayrton Senna GP da Hungria 1988; de tirar o fôlego

Com motores aspirados fortes em Hungaroring, o esperado duelo entre as McLaren só aconteceu na metade da prova – e a vitória foi de Senna.

Hungaroring, inaugurado em 1986, era o circuito mais novo da Fórmula 1. Com 19 curvas e um traçado sinuoso, incluía-se na categoria das pistas de velocidade média e baixa. Era boa notícia, em 1988, para os carros de motor aspirado, que só tomaram pau dos turbos ( para usar o jargão dos pilotos ) nas nove provas disputadas no Mundial de Fórmula 1 até então.

As chuvas que começavam a cair no final da semana também colaboravam para aumentar a expectativa por uma corrida enfim equilibrada no Grande Prêmio da Hungria. Este é um circuito onde você pode explorar a potência do motor nem todo o potencial de um bom chassi. Acaba dependendo muito do piloto, que tem de prender a respiração e mandar ver, explicou Alain Prost, da McLaren.

Entretanto, quando os carros foram á pista para os primeiros treinos oficiais, na sexta-feira, nem todos conseguiam mandar ver. Um grande temporal pela manhã deixou enormes poças na pista, que secaram apenas á tarde, já próximo do final da sessão de classificação. De qualquer forma, o grid de largada parcial já indicava que os aspirados vinham bem, com Alessandro Nannini, da Benetton, na primeira fila, ao lado de Alain Prost, dono do melhor tempo. Nigel Mansell e Ricardo Patrese, da Williams, compunham a segunda fila. Ayrton Senna ficou só com o quinto lugar; ainda que o desempenho do brasileiro tenha sido prejudicado pela pista molhada e pelo tráfego, não deixava de ser estranho vê-lo na terceira fila.

DE IGUAL PARA IGUAL

No sábado, o dia clareou. E assim os pilotos, em pé de igualdade, tiveram todos os 60 minutos do treino decisivo para melhorar seus tempos de classificação. Os aspirados então comprovaram definitivamente a hipótese de que, em Hungaroring, havia uma chance de os turbos serem derrotados. Quem diria: Nigel Mansell, com seu motor Judd, disputou palmo a palmo a pole position com o poderoso propulsor Honda de Senna. No final, Ayrton levou a melhor, mas por uma diferença de somente um décimo de segundo: 1m27s635 contra 1m27s743 do inglês.

Na sequência, vinham mais quatro aspirados, todos a menos de 1 segundo do líder: Thierry Boutsen, da Benetton (1m27s970), Ivan Capelli, da March (1m28s350), Nannini (1m28s493) e Patrese (1m28s569).

Alain Prost? Em uma surpresa ainda maior, o francês registrou apenas o sétimo tempo, sua pior classificação no ano. Apesar de ter usado como justificativa o tráfego interminável, admitiu também um erro de avaliação em relação aos rivais de motor aspirado. Eu esperava que eles fossem rápidos, mas não tão rápidos. Confesso que estou um pouco surpreso, declarou Ayrton Senna, que alcançou sua oitava pole na temporada, parecia pais preparado. Já esperava que a combinação de curvas lentas com um piso de pouca aderência favorecesse os aspirados, afirmou.

Devemos ver algumas brigas que ainda não vimos este ano. Mas fez questão de deixar claro. Meu adversário direto ainda é Prost, sem dúvida.

UM RIVAL DEPOIS DO OUTRO

O roteiro do Grande Prêmio da Hungria foi exatamente o previsto por Senna, o que fez da prova a mais disputada e emocionante da temporada. A corrida teve duas partes distintas. Na primeira, Ayrton sofreu o ataque da turma dos aspirados, especialmente do velho rival Nigel Mansell. Agressivo como sempre, o inglês partiu para cima do brasileiro na largada e por pouco não conseguiu a ultrapassagem. A pressão foi mantida pelas 11 voltas seguintes, quando, também como de hábito, Mansell foi a vítima de seu próprio ímpeto, rodando e caindo para o quarto lugar. Ricardo Patrese então herdou a segunda posição e continuou por um tempo a caça a Senna, mas não manteve o ritmo e acabou ultrapassado por Thierry Boutsen na 30a volta.

A essas alturas, porém, a ameaça já tinha outro nome: Alain Prost. O meticuloso francês vinha fazendo a corrida de recuperação que dele se esperava. Apesar da pista lenta e travada e dos escassos pontos de ultrapassagens de Hungaroring, conseguiu deixar todos os rivais para trás e assumiu a vice-liderança na 47a volta, quando então acelerou para duelar com o brasileiro.

Na volta 49, aconteceu o grande momento da tarde – que acabaria definindo o resultado da prova. Com ritmo mais rápido do que Senna, Prost encostou na McLaren do brasileiro na metade da reta. Dois retardatários estavam na frente de Ayrton: Philippe Alliot, da Lola, e Gabriele Tarquini, da Coloni.

Tarquini abriu pela direita para ultrapassar Alliot, ao mesmo tempo que Senna também abria pela direita para ultrapassar os retardatários. Enxergando um corredor para passar o líder, Prost foi até a extrema direita da pista e conseguiu tomar a posição de Senna na curva. Entretanto, na sequência imediata, Senna cortou por dentro e retomou a ponta. Depois disso, Prost não teve uma segunda chance, e Senna rumou para a vitória. Foi a corrida mais difícil do ano. Ainda não havia sofrido tanta pressão, afirmou o brasileiro, aliviado.

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