Senna, o rei da pole position

Ayrton Senna na busca da perfeição absoluta

Se há um recorde de Ayrton Senna a ser lembrado pelas próximas gerações de corredores, com toda certeza ele será o das 65 pole positions em 161 Grandes Prêmios. Só para comparar, quem vem logo depois dele é Jim Clark, com metade: 33 melhores tempos em treinos. E nos dias de hoje, Schumacher e Lewis Hamilton, porém precisaram de mais GPs para superá-lo.

Para Senna, a pole position não era somente um meio de alcançar o objetivo, mas sim, o melhor lugar para largar numa corrida. Ele levou essas voltas velozes nos treinos ao limite absoluto através de uma disciplina rigorosa, que fazia parte da sua arte na Fórmula 1.

Ele se alegrava com a lembrança de uma pole position especial quase tanto com a de uma vitória.

Um dos seus melhores e mais importantes tempos de treino foi o de Interlagos 1991, onde ele, para seu público de casa, fazia coisas no limite do impossível – e depois tentava explicar com exatidão como conseguia esse feito.

Eu sabia que a Williams se transformaria num grande desafio para mim – quando reduzi o meu melhor tempo até então em meio segundo. Para me superar um pouco mais, eu precisava fazer duas coisas: melhorar tecnicamente o carro e subir de nível como piloto. As duas coisa não são fáceis, quando já na primeira tentativa a gente sabe que está num nível alto.

A grande melhora entre o primeiro e o segundo treino, o processamento de todas as informações colhidas no primeiro, essa era uma das especialidades de Senna. Naquele sábado em Interlagos ele ficou sentado no carro quase vinte minutos entre as duas tentativas, imóvel, os olhos fixos no cronômetro. No que estaria pensando?

Os pensamentos tomam duas direções. Existe um lado técnico e um lado psicológico. Tecnicamente, procuro percorrer na lembrança a última volta, vendo o que o carro fez em cada curva, o que foi bom, o que não foi bom. Penso nas alterações possíveis, discuto-as com os engenheiros, trocamos algumas ideias, decidimos o que fazer no carro.

Em Interlagos ele queria, puramente por instinto, uma alteração aerodinâmica, ou seja, uma alteração do aerofólios. Os engenheiros verificaram no computador se era possível e se tinha sentido; o computador confirmou e então imediatamente se propôs uma alteração de, digamos assim, X. Mais uma vez, por instinto, decidi pela metade X.

Mas a experiência lhe diz que essas alterações não são, por si mesmas, suficientes para ganhar meio segundo. Depois de se ter alterado alguma coisa no carro que já estava bom, fica faltando ainda a força psicológica, acreditar na possibilidade da auto-superação. É uma questão de fé em si mesmo, de vontade de dar tudo. Ele espera no boxe, dentro do carro, até o último momento. Quando, então, saio do boxe, um milhão de coisas me atravessam a cabeça e o corpo, numa velocidade inexplicável. Tudo ocorre tão irracionalmente rápido.

As situações e reações vêm em tal quantidade e numa sequência muito rápida…. É uma mistura de instinto natural e capacidade técnica, da experiência, do que foi feito antes.

São padrões que podem ser recordados e com os quais se trabalha. A volta que lhe garantiu a pole position durou um minuto e 16,392 segundos, um minuto e dezesseis segundos cheios de tensão e concentração, no limite máximo da capacidade humana: É um processo indescritivelmente rápido que ocorre na cabeça, e no corpo, tudo dirigido a um só objetivo. É como se estivéssemos fixando um pequeno ponto, tão distante que os olhos não o pudessem ver; o ponto está na cabeça e só através do pensamento é que vemos…… quando, depois da volta, seguiu para o boxe sob aplausos dos espectadores, teve de afastar as lágrimas de alegria, entre os apertos de mão de cada membro da equipe – o que valia por uma vitória.

 Senna adorava esses desafios. Uma volta como a de Interlagos, que para ele era pura Fórmula 1, a busca do limite extremo, e quando a gente chega nesse limite, percebe que ainda tem um pouquinho mais para avançar….. Essa corrida de velocidade, essa luta solitária contra o tempo, em que tinha de buscar toda a capacidade, toda a experiência e o instinto era isso que permitia a ele, vencer os limites, na busca da perfeição absoluta.

 

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