A bordo da Lotus 72, piloto paulistano venceu o Campeonato Mundial de Fórmula 1 em 1972 e deu injeção de ânimo ao automobilismo nacional.
Sinônimo de automobilismo no Brasil desde os tempos do patriarca Wilson, o Barão, o sobrenome Fittipaldi ganhou projeção mundial com as conquistas de Emerson. Rápido, ousado e talentoso, o Rato teve um sucesso meteórico nas pistas internacionais: pouco mais de um ano após correr pela primeira vez fora do Brasil – em abril de 1969, na Holanda, uma prova de Fórmula Ford – já fazia sua estreia na Fórmula 1, no Grande Prêmio da Inglaterra, em julho de 1970. Daí pra frente, a história está nos almanaques: dois campeonatos mundiais da categoria e um título na Fórmula Indy, além da aventura, com o irmão Wilsinho, no comando da equipe Fittipaldi, que participou de um total de 104 grandes prêmios de F1.
Toda essa trajetória teve como ponto de partida a Lotus, escuderia pela qual Emerson ingressou na Fórmula 1 e com a qual venceria seu primeiro título mundial, em 1972, tornando-se o mais jovem campeão da história da categoria até então. com 25 anos de idade. Aquela temporada mudaria para sempre não apenas a carreira de Emerson, mas a própria história do esporte a motor no Brasil: no ano seguinte, o País entrava, pela primeira vez, no calendário oficial do Campeonato Mundial de Fórmula 1, com a disputa do Grande Prêmio do Brasil. E Emerson se tornaria referência para as futuras gerações de pilotos brasileiros – inclusive o jovem Ayrton Senna da Silva, que, levado pelo pai Milton, assistiu a prova em Interlagos.
Nessa bela história, é preciso dar o devido crédito a Colin Chapman, que identificou rapidamente o talento do brasileiro e entregou, em meados de 1970, o cockpit de uma Lotus ao novato brasileiro. Fittipaldi não decepcionou nas três corridas iniciais, chegando em oitavo na Inglaterra, quarto na Alemanha e 15a na Áustria, correndo ainda com carro da temporada anterior, o Lotus 49 – o primeiro piloto da equipe e líder do campeonato, Jochen Rindt, já pilotava o revolucionário Lotus 72C. Mas, nos treinos para o GP da Itália, em Monza, Rindt sofreu um acidente fatal; duas corridas depois, no retorno da Lotus as pistas após o luto, em Watkins Glen, Chapman promoveu Fittipaldi a primeiro piloto. E o brasileiro retribuiu a confiança ao vencer o Grande Prêmio dos Estados Unidos, resultando que garantiu o título póstumo a Jochen Rindt.
UM CLÁSSICO INSTANTÂNEO
A grande expectativa em torno de Emerson e da Lotus no ano seguinte, porém, acabaria em frustração. O modelo 72D desenhado para aquela temporada não rendeu tanto como o esperado, e o brasileiro terminou apenas na sexta colocação do mundial de pilotos, sem conseguir vencer nenhuma prova. Os projetistas, entretanto, já trabalhavam nos ajustes do carro; assim, quando a Lotus 72D ganhou os circuitos novamente, no início de 1972 – agora com a nova pintura em preto e dourado do patrocínio da John Player Special -, nem mesmo o abandono no GP de estreia da temporada, na Argentina, abalou a confiança da equipe.
Nas seis corridas seguintes, Emerson emendou uma sequência de seis pódios: três vitórias, na Espanha, na Bélgica e na França; e um terceiro, em Mônaco. No Grande Prêmio da Alemanha, um problema na caixa de câmbio tirou o brasileiro da disputa, mas Emerson voltou ao lugar mais alto do pódio já na prova seguinte, o Grande Prêmio da Áustria, abrindo 25 pontos de vantagem na tabela de classificação para o segundo colocado, Jackie Stewart, da Tyrrel. Estava armada a festa: em caso de vitória no Grande Prêmio da Itália, a ser disputado em Monza no dia 10 de setembro de 1972, Emerson Fittipaldi seria coroado campeão mundial de Fórmula 1. E não deu outra. Mesmo correndo com seu carro reserva e saindo da sexta colocação no grid de largada, Emerson arrancou para a vitória e para o título. Era o primeiro de um brasileiro na elite do automobilismo.
Emerson correu pela Lotus também em 1973, terminando em segundo lugar no campeonato, atrás do escocês Jackie Stewart. Ao final da temporada, aceitou a proposta da McLaren, com a qual alcançou, em 1974, o bicampeonato mundial. Os tempos de Norfolk, porém, ficaram tatuados em sua memória, como lembrou durante uma visita ao autódromo de Goodwood, na Inglaterra, em 2019, para pilotar um modelo restaurado da Lotus 72. Colin Chapman foi meu mentor. Eram meus primeiros quatro anos de Fórmula 1, e ele foi muito bom para mim. Sua habilidade natural para acertar um carro era fantástica, declarou, emendando outra declaração de peso. De todos os carros que pilotei em minha carreira, a Lotus 72 foi o melhor. Além do design incrível, era incrivelmente avançada, muito a frente de todas as coisas de sua época.