Com um quarto lugar em Brands Hatch, Alain Prost finalmente conquistou o tão esperado título mundial de Fórmula 1.
Depois de ter sido realizado na Alemanha no ano anterior, o Grande Prêmio da Europa voltava, na temporada de 1985, ao seu palco inicial, a Inglaterra. Mas era na França que aquela corrida ganhava ares de final de Copa do Mundo: tudo porque Alain Prost estava a um passo de conquistar seu primeiro título Mundial de pilotos – e se tornar o primeiro francês a vencer um título em 35 anos de história da Fórmula 1. Para alcançar o feito duplamente inédito, Prost precisaria fazer dois pontos a mais do que o vice-líder Michele Alboreto, da Ferrari – um resultado altamente provável, dada a consistência do francês na McLaren e a má fase recente do rival.
Ainda faltavam outras duas etapas para o fim do torneio, mas eram poucos os que acreditavam que Prost deixaria passar a chance de ser campeão já em Brands Hatch. As principais televisões francesas haviam atravessado em peso o Canal da Mancha para cobrir in loco cada passo do provável futuro campeão; em Paris, já se armava um grande festa, com direito a desfile em carro aberto pelas ruas da cidade e transmissão ao vivo para todo o país – especulava-se que até mesmo o presidente François Mitterrand fosse participar da histórica celebração.
Entretanto, no dois dias que antecederam a prova, marcada para 6 de outubro, tudo que os franceses viram foi um show de Ayrton Senna e Nelson Piquet. Tanto na sexta quanto no sábado, os brasileiros travaram um belíssimo duelo pela pole position, que só terminou nos últimos minutos da última sessão de classificação. Senna levou a melhor, jogando Piquet para segundo, imediatamente á frente de Nigel Mansell e Keke Rosberg, ambos da Williams. Prost sairia em sexto, mas como Alboreto ficou ainda mais atrás, em 15a, o francês era só sorrisos e comemorou até mesmo ter ficado como coadjuvante nos treinos. Quanto menos se fale de mim, melhor é. Prefiro que me esqueçam até a hora da corrida.
A PRIMEIRA VEZ, PARTE 1
O pragmático Prost, porém, optou pela discrição também durante a prova, especialmente depois que o italiano da Ferrari abandonou a disputa, na 13a volta. Com isso, bastava ao piloto da McLaren chegar entre os cinco primeiros para garantir o título. Durante a maior parte da corrida, o francês gravitou pelo pelotão intermediário, pilotando com extremo cuidado para se manter distante de qualquer enrosco. Na 56a volta, finalmente resolveu dar o bote e tomou a quinta posição de Elio de Angelis, da Lotus. O título, mais do que nunca, agora era questão de tempo.
Logo depois, Prost foi beneficiado pela parada de Stefan Johansson, da Ferrari, herdando assim a quarta posição do sueco. Ainda subiria mais um posto na 64a volta, com o abandono do surpreendente suíço Marc Surer, da Brabham, que vinha fazendo excelente corrida e estava na segunda colocação. Mas, diante da aproximação voraz do sempre imprevisível Keke Rosberg, o francês não fez a menor questão de segurar o finlandês, que lhe tomou a terceira colocação no giro seguinte. O quarto lugar estava ótimo: ao receber a bandeirada, Alain Marie Pascal Prost, aos 30 anos, se tornava o novo campeão mundial de Fórmula 1.
Sofri muita pressão nos últimos dois ou três anos, quando estive a ponto de ser campeão mundial. Agora, quando recebi a bandeirada, senti uma grande sensação de alívio, afirmou, lembrando-se das frustrações das duas temporadas anteriores, em que perdeu o título na última prova.
Em 1985, com uma constância impressionante, o francês não deu margem ao erro. Nas 13 etapas disputadas até o GP da Europa, Prost terminou entre os três primeiros nada menos do que dez vezes, cinco delas na primeira colocação. Quando se corre pelo título mundial, é preciso mais concentração do que agressividade, afirmou após a prova. Era a primeira lição do Professor, agora campeão mundial.
A PRIMEIRA VEZ, PARTE 2
Outro tabu foi quebrado naquele domingo em Brands Hatch: depois de 72 tentativas frustradas, Nigel Mansell vencia pela primeira vez um Grande Prêmio de Fórmula 1. Ayrton Senna foi o segundo colocado, e Keke Rosberg, o terceiro. A longa espera de Mansell foi recompensada pela emoção de triunfar em casa, diante de 75 mil espectadores. Tudo estava ruim até esta manhã. e de repente tudo ficou maravilhoso. é incrível, inacreditável. Estou contentíssimo.