Com a quinta pole consecutiva, Senna superou a marca de Fangio; na pista, ganhou a posição de Prost e não deu mais chance ao rival.
Nomes lendários da Fórmula 1 voltaram a frequentar o noticiário ás vésperas dos treinos para o Grande Prêmio do Canadá da temporada de 1988. Tudo porque o veloz Ayrton Senna caminhava a passos largos para igualar, ou bater as marcas de alguns deles no quesito pole position.
Na etapa anterior, no México, ao fazer sua quarta pole em quatro corridas, o brasileiro já havia superado o melhor início da temporada da história, que era de três poles seguidas, marca estabelecida por James Hunt em 1977 e igualada pelo próprio Ayrton em 1986.
Caso conseguisse largar na frente também em Montreal, chegaria a cinco poles consecutivas e superaria as melhores marcas de ícones como Juan Manuel Fangio, que registrou quatro na temporada de 1954, e Jim Clark, que também alcançou a marca de quatro seguidas em três oportunidades ao longo da década de 1960.
Dito e feito. Ao final do treino de sábado, ao garantir o melhor tempo com sua McLaren, Ayrton chegou á quinta pole consecutiva. Para ele, porém, mais importante que o recorde era a vantagem de sair na frente no circuito Gilles Villeneuve, de poucos pontos de ultrapassagem. Sempre dou o melhor que posso mas, aqui, a pole position tem um valor especial, por causa do traçado do circuito. No finalzinho, cheguei a pensar que o Prost faria um tempo melhor, mas consegui ser o mais rápido, afirmou ainda no sábado.
Senna só não contava com uma inexplicável decisão do diretor de prova, que colocou a pole do lado direito, visivelmente mais sujo que o lado esquerdo da pista. Além disso, a escolha contrariava a praxe, pois metros adiante da partida havia uma curva forte á esquerda, o que deixaria em segundo colocado em vantagem.
Ayrton protestou oficialmente, mas não conseguiu reverter a decisão. Depois da prova, mesmo com a vitória, ele fez questão de deixar claro seu descontentamento.
Propus trocar de lado e eles recusaram, o que eu acho muito errado.
BOTE PERFEITO
De fato, Senna conseguiu manter a ponta na largada: Prost saiu da primeira curva com a liderança, deixando ao brasileiro a tarefa de persegui-lo. Minha preocupação imediata foi não deixar o Prost fugir e esperar a chance de uma ultrapassagem, o que não é nada fácil, porque os carros são iguais e o Prost é o piloto que todos conhecem, afirmou Senna na coletiva.
A perseguição durou até a 19a volta, quando Senna deu o bote na Curva do Grampo. Tive que esperar o momento certo e foi a única oportunidade. O Prost vinha com um traçado perfeito, mas, naquela volta, não contava com meu ataque. Arrisquei e me dei bem.
Depois disso, a meta de Senna foi tentar se distanciar de Prost. Eu queria botar uma dianteira de uns 3 segundos, para ter uma margem de segurança caso ficasse enrolado com os retardatários. No final, foi o francês que se embananou com as duas Arrows e a Ligier do compatriota René Arnoux, permitindo que o brasileiro ganhasse uma folga.
A partir daí, foi só manter a vantagem, sempre segurando o ritmo de acordo com o combustível. Se quiséssemos, qualquer um de nós poderia andar muito mais rápido, mas o preço disso em gasolina seria alto demais. O consumo ditou o ritmo da prova o tempo todo, desde o início, e em vários momentos eu e Alain estivemos com déficit. Era um pouco arriscado, mas não podíamos fazer nada para evitar isso, pois um puxava o ritmo do outro. No fim, porém, deu para compensar os excessos.
SINCERIDADE FRANCESA
Na coletiva de imprensa após a corrida, Prost lamentou os segundos perdidos com os retardatários na 29a volta, considerando-o fatal para suas pretensões de vitória.
De qualquer forma, elogiou a McLaren, o carro e o motor forma perfeitos, e seu companheiro de equipe.
Quando um jornalista pediu a ele que comparasse o brasileiro com seus outros companheiros anteriores de McLaren, Niki Lauda e Keke Rosberg, o francês não saiu pela tangente. Pode ser que eu já não seja tão bom como há três anos, mas me parece que Ayrton é mais rápido.