A perda se estende para muitos além da família, ou, de fato, da família´ das corridas automobilísticas. Ela abrange todo um país, seu amado Brasil. Ayrton Senna não se envergonhava de seu patriotismo. Conforme declarou certa vez: Meu dia perfeito é acordar em casa no Brasil, na fazenda ou na minha casa de praia, com minha família e amigos, e depois ir a uma pista em qualquer lugar do mundo e voltar para casa na mesma noite.
Ele era um forte defensor do modo de vida brasileiro. Quaisquer problemas que se abatessem sobre o Brasil, milhões de pessoas buscavam refúgio em dois símbolos; a seleção de futebol e Senna. A família assim expressa esse fato: quando ele acelerava, milhões de corações o acompanhavam. As pessoas comuns sentiam que ele era diferente. As vitórias continuavam, e uma imagem se repetia: o piloto acenando com a bandeira do Brasil no ar, convidando as multidões a dividir com ele mais uma conquista. Toda vez que essa imagem se repetia, os brasileiros sentiam que um pouco daquela força e coragem estavam com eles. Por um momento, eles também se sentiam campeões.
Este é o poder de um esportista- uma pessoa se comunicando com um país inteiro-, mas isso se tornou mais forte, muito mais forte, ante o cenário sombrio e problemático do Brasil. Certa vez, quando ele tinha vencido o Grande Prêmio do Brasil, uma multidão enorme se reuniu na frente da sua casa e não foi embora enquanto ele não apareceu com o troféu. Os brasileiros só aceitam campeões. Eu sou brasileiro.
Conforme Betise Assumpção, sua assessora de impressa, observou na época: o efeito que ele tem nas pessoas é…… surpreendente.
Ele tinha ao mesmo tempo uma grande autodisciplina e aquela tranquilidade natural do brasileiro. Trabalhava duro- e assim fazia sua equipe trabalhar- durante todo o verão e, então, se recolhia aos prazeres do Brasil durante o inverno no Hemisfério Norte. Voltava ao Brasil sempre que tinha chance e ficava visivelmente saudoso quando não podia visitar o país.
Além disso, em certos momentos da sua carreira, ele era o Brasil.
