AYRTON SENNA, ALÍVIO E FESTA NO BOX DA MCLAREN; LIÇÕES PARA O FUTURO

Ayrton Senna alívio e festa no box da McLaren 1991 GP da Austrália

Apesar de o Grande Prêmio da Austrália ter dado o título de construtores á equipe inglesa, Ayrton considerou um equívoco a realização da prova naquelas condições.

Mesmo tendo vencido o Grande Prêmio da Austrália, último capítulo de uma temporada vitoriosa, Ayrton Senna não estava completamente satisfeito. Nada a ver com o seu desempenho na pista molhada, que foi mais uma vez irretocável, mas sim com o fato de que ninguém que estivesse diretamente envolvido na prova tenha se empenhado para impedir que ela fosse disputada naquelas condições.

Foi um erro de todos nós essa largada. Não só dos organizadores, mas dos pilotos, chefes de equipe e comissários. Nós devíamos ter nos reunido e ajudado a direção de prova a tomar uma decisão, afirmou o tricampeão. Foi um bom exemplo de que precisamos ter mais união se quisermos obter algumas coisas. Não podemos cometer o erro que cometemos aqui, porque alguém pode sair muito machucado.

Precisamos ter uma liderança, para melhorar os regulamentos. Para Ayrton, era necessário que os pilotos tivessem representatividade legítima nessas decisões.

OBJETIVO: FICAR NA PISTA

De acordo com Senna, não adiantava culpar o circuito de Adelaide pela situação vivida naquele domingo. O que era preciso era saber como contornar situações em que a chuva tornasse impossível aos pilotos exercerem sua verdadeira profissão: afinal, ali eles não estavam disputando uma corrida, e sim apenas lutando com os próprios carros para conseguir ficar na pista.

Como em quase todos os circuitos de rua, a drenagem aqui não existe. A água vai se juntando, faz poças. Eu  disse, depois do último treino, que esta era uma pista excelente, quando seca. Na chuva, é extremamente perigosa. E não precisa ser uma chuva pesada, pode ser uma chuvinha fina. O carro flutua sobre a água, faz aquaplaning, mesmo quando você está nas curvas, em primeira ou segunda marcha. Imagine então na reta, em quarta ou quinta marcha. Você, de repente, não está mais pilotando, é um grande passageiro que o carro leva onde quer, afirmou, garantindo estar aliviado por nada de pior ter acontecido. Nessas circunstâncias, acho que mesmo os colegas que sofreram acidentes tiveram sorte, porque nada houve de grave. Para mim, foi um verdadeiro milagre.

Na opinião de Senna, não era preciso, como alguns surgiram, imitar a Fórmula Indy e simplesmente suspender as corridas em caso de chuvas: bastava encontrar um mecanismo que protegesse os pilotos e o próprio espetáculo em condições extremas. Acho que a Fórmula 1 deve ser disputada sob todas as condições de tempo. Você pode ter excelentes corridas na chuva, garantiu.

HUMOR ANGLO-JAPONÊS

Passado o susto, aos poucos, o clima no box da McLaren desanuviou de construtores. Contente com a destreza mostrada por Senna e Berger na chuva, Ron Dennis até fez piada com a situação. Pelo menos, depois da habilidade que eles mostraram hoje, estou pensando em escrever esses dois para disputar os cem metros, nado livre, na Olimpíada de Barcelona no ano que vem, brincou o chefão.

Aquele era o quarto título consecutivo de construtores da parceria McLaren/Honda (1988 a 1991); em 1984 e 1985, os títulos da equipe inglesa haviam sido conquistados  com motores TAG. Já a Honda, por sua vez, celebrava seu sexto triunfo consecutivo na categoria de construtores: em 1986 e 1987, a fábrica japonesa equipara a campeã Williams.

Engenheiro responsável pelos motores V12 da Honda, Akimasa Yasuoka, ainda  nos boxes de Adelaide, relembrou os melhores momentos da temporada. Para mim, esse ano teve dois grandes referenciais: as vitórias de Senna no Brasil, sofrida, e na Hungria, alguns dias depois da morte de Sochiro Honda. Gostei também de ver Berger conseguir sua primeira vitória desde que está na equipe. Exatamente na nossa casa, em Suzuka, afirmou.

E para fazer companhia a Ron Dennis também no departamento das brincadeiras, o japonês ainda resolveu fazer graça. Ao ser perguntado sobre o desempenho dos carros em Adelaide, Yasuoka foi espirituoso. Pelo menos gastaram pouca gasolina.

 

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