Já muito abalado pelo acidente de Barrichello, Ayrton saiu do autódromo Enzo e Dino Ferrari sem dar declarações sobre a morte de Ratzenberger.
Nas duas semanas que separaram o fim do Grande Prêmio do Pacífico do início das atividades do GP de San Marino, Ayrton Senna esteve em Portugal, na França – onde deu o pontapé inicial no amistoso entre a Seleção Brasileira de futebol e um combinado entre o Paris Saint-Germain e o Bordeaux – e finalmente na Itália. Antes de seguir para Imola, participou, na quinta-feira, 28 de abril de 1994. do lançamento de uma linha de bicicletas que levava sua marca, produzida pela Carraro.
Em todos os momentos, o piloto esteve em contato com a Williams, que mantinha três equipes trabalhando para tentar resolver os problemas do FW16, especialmente na parte do nariz e do aerofólio. Há falta de estabilidade, o carro está muito sensível ao contato com o solo. Isso tem atrapalhado muito. Adrian Newey, o projetista da Williams e seus ajudantes têm trabalhado duro para corrigir o defeito, afirmou o tricampeão.
Ao chegar no autódromo Enzo e Dino Ferrari, palco do Grande Prêmio de San Marino, Ayrton procurou demonstrar confiança. Para ele, a prova no circuito italiano – mais rápido e com menos ondulações – deveria ser um divisor de águas da temporada. Nós sabíamos que em Interlagos seria complicado, e em Aida não foi sequer possível verificar onde poderíamos chegar. Em Imola, uma pista que tem poucas ondulações e onde o motor conta muito, acredito que nós poderemos lutar pelo primeiro lugar, declarou. Prefiro encarar assim: para mim o Mundial começa com a prova de Imola.
PRIMEIRO BAQUE
De fato, no primeiro dia dos treinos classificatórios, Senna parecia estar dando a volta por cima da Williams. O brasileiro não apenas terminou o dia com a pole provisória (1m21s548) como ainda registrou outras duas voltas rápidas do que a melhor do segundo colocado, Michael Schumacher (1m22s015). O carro funcionou bem, mas posso dizer se as alterações tiveram algo a ver com isso. A verdade é que a pista pune muito os carros passivos, que são muito duros e difíceis de guiar. Uma volta aqui é um verdadeiro tormento, afirmou ele, que só voltou a participar do treino depois de se certificar pessoalmente que Barrichello estava bem e recuperado após o acidente Ayrton estava no quarto do hospital quando o jovem piloto voltou a consciência. Foi talvez a classificação mais caótica que já enfrentei. Acho que não só eu, mas a maior parte dos pilotos sentiu muito o acidente. Fiquei muito abalado, não consegui fazer uma volta igual á outra.
Senna, que sempre foi um dos nomes mais ativos e atuantes na defesa dos direitos dos pilotos na Fórmula 1, desta vez preferiu não dar declarações fortes, optando por deixar que o acidente falasse por si só. Sou o único campeão do mundo correndo atualmente na Fórmula 1 e aprendi que na maior parte das vezes o melhor é ficar calado. Fiz muitos protestos, já disse centenas de vezes que corremos em pistas que não são seguras, mas nada acontece. Agora, só me resta torcer para que Rubinho se recupere logo.
SILÊNCIO
Um dia depois, os temores do tricampeão com a falta de segurança na categoria se tornaram realidade. A morte de Roland Ratzenberger foi a primeira nas pistas da Fórmula 1 de o acidente fatal de Elio de Angelis, ex-companheiro de Senna na Lotus, em testes particulares no circuito de Paul Ricard, na França, em 15 de maio de 1986. E, em se considerando finais de semana de Grande Prêmio, Ratzenberger foi a primeira vítima desde o italiano Riccardo Palletti, que morreu em um acidente na largada do Grande Prêmio do Canadá, em 13 de junho de 1982.
Após o atendimento e a remoção de Ratzenberger da pista, o brasileiro quis verificar in loco a cena do acidente. Inicialmente, foi impedido por alguns comissários de pista, mas depois conseguiu uma carona em um carro da organização e retomou á curva Villeneuve. Observou o local, conversou com outros comissários, entrou no carro e retornou aos boxes sem dar declarações. Também se recusou a voltar ao carro para continuar o treino; ao invés disso, foi até o centro médico e conversou com Sid Watkins, médico-chefe da Fórmula 1, que lhe revelou a morte clínica de Ratzenberger. Senna desabou em lágrimas.
Em sua biografia, Life on The Limit, Sid Watkins afirma ter sugerido a Ayrton que não disputasse a corrida no dia seguinte e, mais do que isso, que ele abandonasse a Fórmula 1 de uma vez por todas; afinal, era o tricampeão do mundo, o piloto mais rápido e não tinha nada mais a provar a ninguém.
Ayrton Senna então respondeu com aquelas que seriam suas últimas palavra ao velho amigo. Sid, algumas coisas a gente não pode controlar. Eu não posso parar. Tenho que continuar.
ROLAND RATZENBERGER, O ADEUS DO ESTREANTE
O austríaco teve a carreira interrompida logo após chegar á Fórmula 1.
Apesar de estar em sua primeira temporada na Fórmula 1, Roland Ratzenberger contava com grande rodagem no automobilismo. O austríaco tinha 31 anos – apenas três a menos do que Senna – e participou, assim como o brasileiro, das competições europeias de Fórmula Ford, Fórmula 3000 e Fórmula 3.
A partir de 1990, passou a atuar no automobilismo japonês. Um dos pontos altos de sua carreira foi a vitória na categoria 2 nas 24 horas de Le Mans de 1993 – sua equipe, a nipônica SARD, terminou a prova em 5* luhar na classificação geral.
Na Fórmula 1, Ratzenberger ainda dava os primeiros passos. Na etapa inaugural do campeonato de 1994, o Grande Prêmio do Brasil, em Interlagos, ficou em penúltimo lugar nos treinos e não conseguiu classificar sua Simtek para o grid de largada.
No Grande Prêmio do Pacífico, porém, conseguiu a última vaga e fez sua estreia em Grandes Prêmios; mais que isso, conseguiu terminar a prova, recebendo a bandeirada na 11* colocação. Em Imola, seu tempo de sexta-feira teria sido suficiente para classificá-lo para a corrida. Seu espaço no grid, contudo, ficaria vazio.
Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.