Apesar de pilotar carro de corrida, Senna tentou novamente vencer o campeonato de kart de 1981 em Parma, Itália, mas chegou em quarto.

Senna no kart

Ele venceu dois dos três campeonatos que disputou (correu apenas uma vez no terceiro campeonato), e ainda havia o famoso festival de Fórmula Ford de Brands Hatch, um evento internacional no fim da temporada, cujo vencedor obtinha importante publicidade. Mas, a essa altura, ele já estava de volta ao Brasil, tendo que se afastar do automobilismo porque, para seu grande dissabor, não conseguia patrocínio, e, de qualquer maneira, havia trabalhado a fazer nos negócios da família.

Antes de voltar para São Paulo, ele foi a Itália e disputou o campeonato mundial de kart em Parma, onde terminou em quarto lugar. O material que consegui, conforme colocou, não era bom.

Muito triste.

Entretanto nos bastidores, ocorreu um curioso episódio. Durante uma das corridas de Snetterton, começou a chover, e um jovem cabeludo chamado Dennis Rushen observou Senna não diminuía velocidade como os outros. Controlar carros de corrida nervosos, instáveis e velozes em uma pista molhada é surpreendente – e instrutivo. Por conta daquilo, Rushen procurou Senna, apresentou-se como chefe de equipe de Fórmula Ford 2000 (o próximo degrau no automobilismo) e ofereceu a ele a oportunidade de pilotar em 1982 por dez mil libras. Chutei aquele valor, diz Rushen. Era uma oferta muito baixa, quer dizer, qualquer um que consiga fazer aquilo na pista molhada é especial.

Muito triste mesmo.

Depois do que fez na Fórmula Ford 1600, Senna, certamente, merecia uma nota de rodapé na história do automobilismo. Mas, se a história terminasse ali, seu tom teria sido de arrependimento, e não de realização. Os sinais, ao que parecia, tinham parado.

A Van Diemen também fabricava carros de Fórmula Ford 200, e Firman e Rushen – que administravam um dos carros – começaram a discutir sobre quem deveria pilotar. Firman tinha mantido Senna pelo telefone depois de sua volta a São Paulo. Então, Firman e Rushen rapidamente chegaram a um acordo sobre quem deveria pilotar o Fórmula 2000. O homem que escolheram concordou: no final, a sedução das corridas foi maior do que Senna pôde resistir.

Não foi fácil para ele a Inglaterra e construir sua carreira, diz a família. Muitas vezes, sentiu solidão, tinha saudades das pessoas queridas, mas sabia que passar por tudo aquilo e contar com o apoio da sua família o ajudaria crescer e a se tornar uma pessoa mais focada e refletiva. Esses atributos o ajudariam a adquirir valores como determinação, motivação e uma busca incessante e constante pela perfeição.

Com o filho do outro lado do oceano, Milton e Neyde sentiam falta de Beco, assim como sei irmão Leonardo e a irmã, Viviane. Contudo, a felicidade de Senna estava acima de tudo. A atitude da família era essencial para fortalecer o jovem.

No primeiro ano na Inglaterra, ele já era um piloto dedicado e talentoso, explica a família. Destacava-se visivelmente dos outros pilotos da sua idade, não só pela sua humanidade, mas também pelos valores que defendia. Sua carreira começou ali, nas grandes vitórias da Fórmula Ford, onde ele pôde contar com boas pessoas para ajudá-lo a se tornar campeão.

O fato de Senna ter voltado para Londres, no ano seguinte, depois de ter ido pela primeira vez, era o sinal.

Sua determinação era de um nível quase assustador. Uma vez que a decisão de continuar como piloto havia sido tomada, a cada hora que ele passava acordado, todo seu intelecto estava focado completamente em fazer jus a essa decisão, por meio de vitórias, vitórias e mais vitórias. O apoio ativo da família, certamente, conferiu-lhe paz de espírito e deve ter aliviado grande parte da pressão que pesava sobre ele. ( Continuaremos )