Há vários fatores a se considerar: a McLaren tinha sido uma das principais equipes na F-1, mas estava em declínio em 1980, o que torna o feito de Prost ainda mais admirável. A ATS era uma equipe muito pequena, o que torna o feito de Berger ainda mais admirável ( a equipe correu noventa e nove grandes prêmios e marcou apenas nove pontos ). A Lotus estava em declínio em 1991. A primeira corrida de Schumacher, em Spa, foi surpreendente, pois ele havia pilotado o Jordan por pouco tempo e nunca tinha estado em Spa, tendo sido mais rápido do que seu experiente companheiro de equipe. Villeneuve veio do mais alto nível do automobilismo norte-americano, e, em 1996, a Williams era o melhor carro. A Minard era um pouco como a ATS, não dando nenhuma chance a Alonso em 2001. Montoya vinha, como Villeneuve, do mais alto nível do automobilismo da América do Norte (ambos tinham vencido a Indy 500) e, uma vez mais, Williams era o melhor carro.
Todos esses pilotos percebiam o potencial de seus carros e o fizeram rapidamente. Pode-se argumentar que apenas Senna e Schumacher ultrapassaram o potencial de seus carros, e Senna fez isso no lugar e nas condições mais difíceis, com uma pilotagem de toque, fineza, coragem e critério quase inacreditáveis.
As trinta e uma voltas duraram, para Senna, 1 hora, 1 minuto e 15,186 segundos. Com esse tempo, ele se afirmou como um homem com possibilidades diferentes dos demais, a não ser por Stefan Bellof, em um Tyrrel sem turbo, que estava perseguindo Senna no final. A diferença é que você poderia explicar o que e como Bellof fez o que fez, mas um senso de mistério e magia permeava o feito de Senna. Ainda permeia.
A multidão encharcada saiu para o cinzento anoitecer murmurando: nós realmente vimos aquilo? Eles viram. Nada seria como antes.
Senna terminou em sétimo no Canadá e não terminou nem em Detroit, nem em Dallas. Essa última frase inocente reflete a mudança sísmica no seu relacionamento com a Toleman, porque a pista estava quebrando, e o gerente da equipe, Gethin, achou que era perigoso sair. Senna, que tinha saído, achou que estava em melhor posição para decidir e, apesar de Gethin tê-lo proibido, ele saiu novamente. A equipe tinha de apoiar Gethin ou correr o risco de enfrentar uma anarquia, e, muito depois, Senna afirmou que, de início, quando entrou para a equipe, tinha dúvidas sobre o carro. Elas forma resolvidas, mas ele começou a ter dúvidas sobre a gestão.
Ele foi a Nurburgring para competir em uma etapa do campeonato mundial de Sportscar pela equipe Joest, pilotando o seu Porsche, pois queria ver como era. O proprietário da equipe, Reinhold Joest, teve o maior choque de sua vida.
O carro tinha problema na pista molhada, e Senna, com os companheiros de equipe Stefan Johansson e Henri Pescarolo, chegou em oitavo. Depois da corrida, contou Joest, Senna passou três horas comigo e me deu uma lista de trinta e cinco pontos dizendo: Ok, você precisa mudar isso, você precisa mudar aquilo; algumas coisas eram banais, mas outras eram importantes.
O choque foi que Senna nunca tinha visto nem pilotado esse carro antes. Ao dar sua volta inicial, perguntou o que os indicadores no painel mostravam. Em dois dias, foi capaz de ler o carro até o ponto de fazer sugestões válidas a Joest de como melhorá-lo.
Ele terminou em terceiro lugar no Grande Prêmio da Inglaterra, em Brands Hatch ( Cecotto quebrou as pernas durante os treinos), subindo ao pódio com Warwick e Lauda; o carro quebrou na Alemanha; o motor falhou na Áustria, e eles foram a Holanda.
Foi uma confusão – a saída de Senna na Toleman para correr pela Lotus enraiveceu Ted Toleman. O repentino anúncio da Lotus o enfureceu ainda mais. O motor quebrou na corrida da Holanda e a Toleman decidiu suspender Senna na disputa seguinte, o Grande Prêmio da Itália, em Monza. Eles simplesmente tiraram o carro dele. Era, disse Hawkridge resumindo, a única coisa que Senna compreendia.
Quaisquer que fossem os detalhes e quem quer que estivesse certo ou errado – Senna defendeu-se dizendo que tinha dado sinais a Toleman durante algum tempo e que não tinha ficado contente quando, de repente, a Lotus fez o anúncio -, há uma verdade simples: Ayrton Senna estava totalmente empenhado em se tornar campeão mundial e precisava de uma equipe que lhe permitisse conquistar isso. ( Continuaremos )