AYRTON SENNA GP DO JAPÃO 1993; PISTA MOLHADA NINGUÉM FOI PÁREO PARA SENNA

Ayrton Senna vence o GP do Japão em 1993

Com uma estratégia certeira e a ajuda da chuva, brasileiro conseguiu a segunda vitória no país cuja torcida o acolheu como se fosse um dos seus.

Em 1993, a temporada de Fórmula 1 chegava ao Grande Prêmio do Japão, penúltima etapa do Campeonato Mundial, com as duas principais disputas já decididas. Alain Prost havia garantido o título na prova anterior, o Grande Prêmio de Portugal, e também anunciado sua despedida da categoria – o que acabou definindo também a corrida pela vaga mais importante da Fórmula 1 para 1994. O tão esperado, batalhado e sonhado acerto entre Ayrton Senna e a Williams foi anunciado em 11 de outubro, a duas semanas da largada em Suzuka, marcado para o dia 24.

De qualquer forma, isso não significava que teríamos uma proa morna na Terra do Sol Nascente. Damon Hill, da Williams, Michael Schumacher, da Benetton, e Ayrton Senna ainda duelavam pelo segundo lugar do Mundial de pilotos, com o inglês em vantagem: 62 pontos, contra 53 do brasileiro e 52 do alemão. Além desse trio, quem também prometia encarar a corrida como uma verdadeira final da Copa do Mundo era Mika Hakkinen. Em sua segunda prova pela McLaren, o antigo piloto de testes da equipe, que ficara com a vaga do norte-americano Michael Andretti (aposta fracassada da escuderia), certamente estava interessado em mostrar serviço para Ron Dennis.

E de fato Hakkinen não decepcionaria o chefe, garantindo a terceira posição no grid, com o tempo de 1m37s326, superando a concorrência pesada de Schumacher, Gerhard Berger, da Ferrari, e Hill. A frente do finlandês, estavam apenas os dois tricampeões do mundo, que dividiriam a primeira fila: o pole position Alain Prost, que marcou 1m37s154, e Ayrton Senna, com 1m37s284.

PARCERIAS PERFEITAS

Não era segredo para ninguém que correr no Japão adquirira ao longo do tempo um significado especial para Ayrton Senna. Suzuka era a casa da Honda, montadora que forneceu motores para os carros de Senna de 1987 a 1992, primeiro na Lotus e depois na McLaren. O respeito mútuo entre os pilotos brasileiro e os profissionais da Honda evoluiu para uma amizade que foi abraçada pelo povo nipônico: depois do Brasil, o Japão era o país onde Ayrton tinha a mais ardorosa base de fãs e torcedores. E além de tudo isso, havia uma cereja no bolo: foi em Suzuka que Senna conquistou cada um dos seus três campeonatos mundiais, em 1988, 1990 e 1991.

Curiosamente, porém, o brasileiro só havia terminado a prova em primeiro lugar em 1988 – e por isso vencer em 1993, em sua última corrida no circuito pela McLaren, seria uma desfecho: em uma largada excelente, ultrapassou Alain Prost e terminou a primeira volta com 2 segundos de vantagem sobre o francês.

Ayrton manteve a liderança até a 13* volta, quando fez seu primeiro pit stop – por conta do desgaste dos pneus, as equipes teriam de fazer de uma a duas paradas, dependendo da estratégia. Prost, que na teoria faria apenas um pit, assumiu a ponta e abriu cerca de 8 segundos para o brasileiro.

Pouco depois disso, porém, na 18* volta, apareceu em Suzuka uma outra parceira de fé de Ayrton Senna: a chuva. O brasileiro não perdeu tempo e partiu para atacar o francês, que, com sua conhecida aversão á pista molhada, já tinha tirado o pé do acelerador. Três giros depois, na volta 21, Senna ultrapassara Prost. Na sequência, ambos pararam para colocar pneus de chuva – e a partir daí a diferença apenas aumentou. Na 23* volta, a vantagem de Senna sobre o rival era de 23 segundos. Au revoir, Professor!

APOSTA CERTEIRA

Na volta 30, a pista começou a secar e os pilotos voltaram aos boxes para colocar pneus lisos. Nada que ameaçasse a vitória de Senna, que recebeu a bandeirada com 11 segundos de folga sobre Prost. A terceira colocação ficou com Hakkinen, que garantiu assim o primeiro pódio de sua carreira na Fórmula 1.

Para Ayrton, a vitória se definiu por sua opção em fazer logo a primeira parada – e uma boa dose de sorte. Fiquei num dilema: parar ou não parar. Se decidisse parar teria de ser muito cedo, porque o contrário a tática não funcionaria. Estava indeciso, quando o carro começou a perder rendimento por causa do desgaste excessivo dos pneus. Tomei então a decisão, com alguma relutância, de fazer dois pits, revelou. Saí dos boxes com uma só preocupação: acelerar tudo que podia, porque sabia que teria de parar inevitavelmente para pôr os pneus de chuva. E contava também com o fato de que Prost perderia terreno com os pneus usados antes da chuva chegar.

Ganhando tempo, nós pararíamos quase juntos para a troca por pneus raiados. Por sorte, a tática funcionou.

E deixou Senna eternizado no degrau mais alto do pódio em Suzuka. A última imagem, afinal, é a que fica.

RON DENNIS, FUTURO EX-CHEFE

A McLaren começava a se preparar para seguir novos rumos som o tricampeão.

Não era apenas Ayrton Senna, confirmado como piloto da Williams para 1994, que daria início uma nova etapa em sua vida profissional. Também a McLaren se via diante de um inevitável recomeço – não desejado, é verdade, mas ainda assim um recomeço. Além de procurar um substituto para um dos maiores ídolos da história da equipe. Ron Dennis tinha de conviver com as inevitáveis preocupações da mudança de um fornecimento de motor: sairiam os Ford V8, entrariam os Peugeot V10.

O jovem e promissor Mika Hakkinen seria mantido como um dos pilotos da equipe, mas era evidente que essa tarefa de ajustar o carro aos novos propulsores seria melhor executada por alguém com mais experiência. Diante disso, Ron Dennis não pensou duas vezes e saiu á caça de um velho conhecido: Alain Prost. Dando de ombros ao anúncio da aposentadoria do Professor, o chefão da McLaren fez o convite para que o francês assumisse o posto e ajudasse a desenvolver a nova McLaren/Peugeot.

De acordo com o círculo próximo do tetracampeão, Prost até considerou a ideia, mas optou por não voltar ao circo. Talvez prevendo a negativa antes mesmo de ter um retorno do francês, Dennis já havia também direcionado sua mira para outro nome de peso: Michael Schumacher. Especulou-se que a McLaren tivesse oferecido um contrato de U$ 12 milhões por um ano para o alemão da Benetton, o que enfureceu Flavio Briatore, diretor da escuderia. Ele pode fazer quantas ofertas quiser a Schumacher. Tudo que tem a dar é dinheiro, enquanto nós oferecemos um carro competitivo e um futuro, disparou.

No final das contas, Ron Dennis, sem muita opção, fecharia com o inglês Martin Brundle – rival de Senna na disputa pelo título da Fórmula 3 inglesa em 1983 e que uma temporada digna em 1993, pela Ligier, terminando a competição em sétimo lugar.

Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.

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