Nos treinos, Senna travou uma acirrada disputa com Nelson Piquet; na corrida, foi com Keke Rosberg quem apareceu em seu caminho.
Nos dias que antecederam o Grande Prêmio da Europa de 1985, o céu de Brands Hatch viu suas nuvens cinzentas darem lugar a um sol dourado e brilhante. Pode ter sido uma simples coincidência, mas o fato é que a atmosfera tropical invadiu também as pistas: dominantes em todas as sessões de treinos e de classificação, Ayrton Senna e Nelson Piquet travaram uma acalorada competição verde-amarela pela pole position.
A disputa começou na sexta-feira. Tanto de manhã quanto á tarde, os brasileiros disputaram volta a volta o melhor tempo do dia – Keke Rosberg, da Williams, ainda chegou a beliscar a liderança por alguns instantes na sessão oficial, mas logo caiu para terceiro. Senna acabou vencendo a primeira parte do braço de ferro: registrou 1m08s020, contra 1m09s204 de Piquet. Meu carro está maravilhoso. É o melhor que a equipe entregou em toda a temporada, afirmou Ayrton, no relato do Jornal do Brasil de 05 de outubro.
DOBRADINHA INÉDITA
O ápice desse duelo estava reservado para a última sessão classificatória, na tarde do sábado. Como sua marca do dia anterior parecia imbatível, Senna estava tranquilo dentro do box da Lotus. Entretanto, na reta final do treino, Piquet fez o que para muitos era impossível: rompeu a barreira de 1m07, cravando 1m07s482. Ayrton, então, não teve outra opção senão partir para pista. E conseguiu, em sua segunda tentativa, a sensacional marca de 1m07s169, que lhe valeria definitivamente a pole position.
Com Senna em primeiro e Piquet em segundo, formava-se, pela primeira vez na história, uma primeira fila de dois pilotos brasileiros. Estou muito feliz. Acho que os torcedores brasileiros têm bons motivos para alegria, declarou ao JB após a façanha. Torço para que o Nelson largue bem e nós dois consigamos segurar as Williams, que saem logo atrás da gente.
O ESTRAGA-PRAZERES QUE VEIO DO FRIO
Mas não se pode querer tudo. Enquanto Senna manteve a ponta, Piquet foi ultrapassado por Keke Rosberg, que começou, então, a pressionar a Lotus do brasileiro. Na sexta volta, o finlandês forçou a passagem, rodou e saiu da pista; ao retornar, de ré, acabou avançando sobre Piquet, que não teve tempo de frear. Na colisão, o azar maior foi do brasileiro, que, com a barra de direção de sua Brabham quebrada, precisou abandonar. Rosberg ainda conseguiu chegar ao box da Williams, para trocar pneus e voltar á pista. Foi quando, desta vez voluntariamente, o finlandês se colocou no caminho do outro brasileiro. Rosberg esperou para retornar no exato momento em que Ayrton passava pela reta dos boxes, a fim de segurar o líder e deixar caminho livre para o companheiro de equipe Nigel Mansell, que vinha na segunda colocação. A estratégia foi executada com sucesso, Mansell tomou a liderança e a manteve até o final da prova. Senna terminou em segundo, á frente justamente de Rosberg, que se recuperou e conseguiu, no final da prova, ultrapassar Prost para garantir seu lugar no pódio.
SEGUE O JOGO
Evidentemente, Senna não gostou da manobra que o tirou da ponta – mas, depois de esfriar a cabeça, não quis polemizar e deu o assunto como encerrado. Não guardo mágoa de ninguém, nem mesmo da atitude de Keke Rosberg, afirmou, de acordo com o Jornal do Brasil de 7 de outubro. Acho que Mansell, com seu carro em boas condições, não precisava desse tipo de ajuda. Enfim, tudo isso é a Fórmula 1.