Com mais uma atuação irretocável, Senna venceu a quarta consecutiva e abriu enorme vantagem sobre Prost na briga pelo Mundial de Fórmula 1.
Alain Prost nem precisava fazer muitas contas. Só havia um resultado que o interessava no Grande Prêmio da Bélgica de 1988. Tenho que vencer, pois senão vai ficar praticamente impossível me recuperar, afirmou o francês, em tom de urgência, antes dos primeiros treinos oficiais em Spa-Francorchamps. Apesar do empate em número de pontos com Ayrton Senna na tabela de classificação, o bicampeão mundial estava em franca desvantagem no número de vitórias, quatro contra seis do companheiro de McLaren. Caso o brasileiro vencesse na Bélgica e anotasse seu sétimo triunfo, abriria três de distância com apenas cinco corridas restantes – uma situação quase irreversível na visão de Prost e de quase todos no circo da Fórmula 1.
De qualquer forma, havia uma notícia boa e outra ruim para o francês e suas magras esperanças. A boa: Spa-Francorchamps era um de seus circuitos preferidos, uma pista de alta velocidade – médias acima de 200 km/h com muitos pontos de ultrapassagem e padrões de segurança aprimorados. Gosto muito desta pista. Além de duas vitórias ( 1983 e 1987 ), tenho aqui três poles, um terceiro e um sexto lugares, afirmou. A ruim; a histórica instabilidade meteorológica em Spa, que fez diversos Grandes Prêmios da Bélgica serem disputados sob chuva – como o de 1985, vencido por Ayrton Senna, seu único triunfo no circuito até então.
Estou otimista, mas não pode chover, reforçou Prost. Conheço poucos pilotos que gostam de correr na chuva, e eu definitivamente não sou um deles. O problema não é tanto a falta de aderência, pois um bom piloto sabe como lidar com esse tipo de coisa, mas a péssima visibilidade.
COM CHUVA
Na sexta-feira, apesar de a chuva ter caído forte pela manhã e no final da tarde, boa parte do treino, para alívio de Alain Prost, pôde ser disputada com a pista seca. Mas não adiantou muito: o melhor tempo foi de Ayrton Senna, 1m53s718, contra 1m54s128 do francês. No sábado, agora sim para desespero de Alain Prost, a chuva intensa inviabilizou a sessão decisiva de classificação. Os tempos da sexta acabaram determinando o grid de largada, e a nona pole position de Ayrton Senna no ano, o que fez o brasileiro igualar as marcas recordes de Ronnie Peterson
( estabelecida na temporada de 1973 ), Niki Lauda ( 1974 e 1975 ) e Nelson Piquet ( 1984 ). Com mais cinco provas no calendário, era quase certo que Senna se isolaria na liderança desse quesito estatístico. Estou feliz, porque o carro está muito bom e não precisei fazer mais força para conseguir a pole position. Aqui realmente a pole não é decisiva, mas sempre é mais seguro sair na frente, principalmente se chover durante a prova, declarou Senna.
SEM CHUVA
As preces de Alain Prost forma ouvidas por São Pedro, que tirou folga no domingo, 28 de agosto de 1988, data de um Grande Prêmio da Bélgica disputado no seco. E, por um breve momento no início da corrida, parecia que a sorte conspirava a favor do francês: Prost largou bem e chegou á primeira curva á frente de Senna. Mas a ilusão durou pouco. Imediatamente, Senna reagiu e já colou sua McLaren na traseira do carro do companheiro de equipe; poucas curvas depois, Ayrton já fazia, sem muito esforço, a ultrapassagem que lhe devolvia a liderança.
A partir daí, só deu Senna, que foi ampliando cada vez mais a vantagem. Na quarta volta, sua diferença par Prost era de 3 segundos; na 20a, 7 segundos; na 30a, 12 segundos. E foi assim até Ayrton chegar, ao final das 63 voltas da corrida, com mais de 30 segundos de vantagem sobre Alain Prost. No fim, andei mais forte do que andaria normalmente, mas tinha gasolina para isso e resolvi manter o ritmo, afirmou Senna, que também explicou a dupla troca de posições na largada. Larguei mal, patinando, por causa de um problema de aderência dos pneus. Como já havíamos combinado não correr riscos na primeira curva, Alain não teve dificuldades em entrar na minha frente. Procurei ficar no vácuo dele e consegui: tive até que tirar o pé, na reta, senão entraria em sua traseira.
ACERTO ACERTADO
Ouvido pela reportagem de O Globo após a corrida, um engenheiro da McLaren explicou que as decisões tomadas por Senna para o acerto de seu carro acabaram sendo determinantes para a diferença que se verificou na pista. O Ayrton e o Prost decidiram fazer acertos diferentes depois de testarem os carros de manhã, e o do Ayrton provou ser mais correto, afirmou. Senna estava mesmo imparável.