GP DE SAN MARINO 1988; UM NOVO TEMPO

Ayrton Senna, GP de San Marino 1988; um novo tempo

Em seu primeiro triunfo pela McLaren, Ayrton Senna saiu de Imola com a certeza de que, ao contrário dos caos anteriores, brigaria pelo título.

Um mês depois de zarpar das praias do Rio de Janeiro, palco da corrida inaugural do campeonato, o circo da Fórmula 1 ancorava em Imola para a segunda etapa do Mundial de 1988. E o mar vermelho das arquibancadas do autódromo Enzo e Dino Ferrari estava agitado como há muito não se via. No Grande Prêmio de San Marino, os italianos iriam acompanhar, pela primeira vez, as remodeladas rossas de John Barnard, que haviam vencido as duas últimas etapas de 1987 e mostrado ótimos resultados nos testes de início de ano. Gerhard Berger, que já havia alcançado o segundo lugar em Jacarepaguá, também ficou bem próximo da McLaren de Ayrton Senna nos testes realizados em Monza nas semanas que antecedem a corrida.

As esperanças dos tifosi, porém, naufragaram logo na sexta-feira. Bastou os carros entrarem na pista para ficar claro que a Ferrari não conseguiria chegar aos calcanhares da McLaren no rápido circuito italiano. Aliás, nem a Ferrari nem ninguém: Alain Prost e Ayrton Senna rodaram em uma categoria própria, tanto na sexta quanto no sábado.

Os números da última sessão de classificação foram absolutamente assombrosos: Senna fez a pole position com 1m27s148, seguido por Prost, com 1m27s919. Atrás deles, veio Nelson Piquet, da Lotus, com 1m30s500, três segundos abaixo da marca da pole. Três! Nunca vi uma diferença dessas na Fórmula 1. Pelo que aconteceu aqui nestes dias, teremos duas corridas. Uma só entre Senna e Prost e outra entre o resto, afirmou Gérard Ducarouge, projetista da Lotus.

O italiano Alessandro Nannini, da Benetton, deu uma inesperada alegria aos fratelli ao fazer o quarto melhor tempo, 1m30s590. Berger foi o quinto, com 1m30s683, e Michele Alboreto, seu companheiro de equipe na Ferrari, ficou em uma decepcionante décima colocação, 1m31s520. Ao menos nas justificativas, porém, os pilotos da casa de Maranello estavam no mesmo ritmo. O chassis está perfeito, mas nos faltam cavalos no motor, afirmou Berger. O problema é a Honda. Tem em torno de 40 cv de potência a mais do que nós e é difícil brigar com eles, quando você tem apenas quatro belos engenheiros e eles têm 20, enquanto outros 150 ficam na retaguarda em Tóquio, afirmou Alboreto. Mas o que eu vou fazer? Me retirar pra um canto do box e chorar?

MARGEM DE SEGURANÇA

Domingo, 1a de maio de 1988. Havia 150 mil pessoas em Imola e uma única dúvida: Senna ou Prost?

Assim como em Jacarepaguá, a disputa se resolveu na largada. Desta vez, com sinais trocados: foi Alain Prost quem teve problemas para arrancar com sua McLaren. Enquanto o francês lutava para dar a partida, e era ultrapassado por quatro adversários, o brasileiro disparava na frente, abrindo uma vantagem que lhe daria tranquilidade para o resto da corrida.

Prost, como era esperado, acabou recuperando as posições, e de forma expressa: da sexta colocação do final da primeira volta, já havia chegado ao segundo posto no oitavo giro, ultrapassando o então vice-líder Piquet. Mas o francês não conseguiria mais alcançar o Ayrton Senna, que manteve a distância de dez segundos para o rival durante a maior parte da prova.

A dez voltas do final, o francês resolveu acelerar, em uma última tentativa de disputar a liderança. Mas Senna estava de olho também pisava fundo em resposta ás aproximações de Prost. E assim, com o pé embaixo, Ayrton acabou dando a volta em Nelson Piquet, terceiro colocado, a cinco volta do final. A prova terminou com uma diferença mais estreita, mas controlada, de Senna para Prost: 2s334. Na sequência, vieram Piquet, Thierry Boutsen, da Benetton, Berger e Alessandro Nannini.

MARCO HISTÓRICO

Para Ayrton Senna, o triunfo em Imola, seu primeiro a bordo de um McLaren, tinha um significado que transcendia a disputa daquele campeonato. Foi a primeira vez que tive nas mãos um equipamento que merecia indiscutivelmente a vitória e me permitiu ditar o ritmo da prova. Completamente diferente de antes, quando eu apenas corria atrás. Esta é a primeira vitória de uma nova fase em minha carreira, previu.

Essa nova fase, claro, agora incluía a disputa de título, como Alain Prost, sem papas na língua, deixou claro após a corrida. Eu e Ayrton Senna disputaremos o título. Será interessante o duelo pela liderança com ele. Ambos temos características diferentes, de acordo com as pistas, então veremos como terminará a temporada, se ganharei eu ou ele, afirmou o francês. Era o que todos já estavam curiosos para saber.

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