Grande Prêmio de Portugal 1985. Uma corrida para a história.

A primeira vitória do Ayrton Senna no GP de Estoril 1985

Ayrton Senna lava a alma no autódromo do Estoril e conquista sua primeira vitória na F1, com tempo recorde no circuito.

Em 1984, após uma ausência de 24 anos, o Grande Prêmio de Portugal havia voltado ao calendário da Fórmula 1. Marcado para o dia 21 de outubro, seria a última prova da temporada, com o privilégio de coroar o novo campeão mundial da categoria. Somente os dois pilotos da McLaren, Niki Lauda e Alain Prost, ainda estavam na briga, e, apesar da vitória do francês – foi Lauda quem comemorou. O austríaco chegou em segundo lugar e conquistou, no autódromo do Estoril, o terceiro título de sua carreira.

No ano seguinte, porém, a organização da Fórmula 1 alteraria a ordem do calendário de provas e, de gran finale da temporada, o Grande Prêmio de Portugal passou a figurar como a segunda etapa de 1985. Para os lusos, foi uma escolha anticlimática: espremida entre a estreia, no Brasil, sempre cercada de expectativa, e o tradicionalíssimo GP de San Marino, a corrida em Estoril se tornaria, na teoria, apenas a primeira parada da turnê europeia. Ou seja, um aperitivo miúdo do que havia por vir.

Mas, na prática não seria assim. A história se encarregaria de inscrever o Grande Prêmio de Portugal de 1985, mais do que qualquer outra prova daquela temporada, em um capítulo único do almanaque da Fórmula 1. Afinal, a primeira bandeira quadriculada ninguém nunca esquece, especialmente, se for a de Ayrton Senna da Silva.

O COMEÇO DO TRIUNFO

Sábado, 202 de abril de 1985. No treino classificatório, assim como no treino livre da sexta-feira, a Lotus Renault 97T de Ayrton Senna, número 12, despontou em Estoril. O jovem brasileiro conquistou sua primeira pole position na Fórmula 1, com o tempo de 1m21s007, um novo recorde do circuito, superando a marca de 1m21s703 estabelecida por Nelson Piquet no ano anterior. Tratava-se de um passo importantíssimo para se chegar a primeira vitória; diante da concorrência de peso, porém nada estava garantido.

Ao lado de Senna, na primeira fila, alinhava-se ninguém menos do que Prost, que com sua McLaren TAG já vencera a primeira etapa da temporada, duas semanas antes, no circuito de Jacarepaguá. Atrás deles, vinham Keke Rosberg, da Williams Honda, campeão mundial em 1983 e dono de um estilo audaz de pilotagem, e o italiano Elio de Angelis, companheiro de Senna na Lotus. Niki Lauda largaria em sétimo lugar e Piquet, com sua Brabham BMW, em décimo.

SONHO REALIZADO

Domingo, 21 de abril de 1985. A previsão para a corrida era de chuva. Mas um verdadeiro dilúvio se abateu sobre o autódromo do Estoril, tornando as condições de pilotagem virtualmente impraticáveis com o passar do tempo. Um a um, os veteranos pilotos, sem conseguir dominar os carros em meio ao incessante aguaceiro, abandonavam, melancolicamente, a prova: Rosberg, Piquet, Prost, Lauda…..

Por outro lado, Ayrton Senna – que largara na frente, em disparada, ganhando vários segundos de vantagem do pelotão secundário – não apenas seguia na pista, como, aos olhos do público, pilotava como se estivesse em um domingo de sol.

A confiança era tanta que, ao invés de apenas administrar a vantagem, Senna partiu para o ataque, abrindo ao menos uma volta em todos os adversários que, de forma heroica, se mantinham na pista – a exceção foi Michele Alboreto, da Ferrari, que completaria a prova na segunda posição, mais de um minuto atrás do brasileiro. O inglês Nigel Mansell, que fazia a temporada de estreia na Williams Honda, terminou em quinto, duas voltas atrás.

Assim que cruzou a linha de chegada, Senna desafivelou o cinto e comemorou a vitória, com quase meio corpo para fora do cockpit.

A celebração com os mecânicos e engenheiros da Lotus, incluindo o chefe da equipe, Peter Warr, foi de lavar a alma. É uma sensação muito feliz, porque, no meu segundo ano da Fórmula 1, conseguiu cumprir meu primeiro sonho, que era vencer um Grande Prêmio, declarou Reginaldo Leme, logo após a corrida.

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