MAIS UM PASSO PARA O TÍTULO; A HORA CERTA DE SUBIR

Ayrton Senna, mais um passo para o título 1988

Senna superou Mansell e Prost na Hungria e ampliou a vantagem no Mundial de 1988, com seis vitórias contra quatro do francês.

No elevador da Fórmula 1, estava claro quem subia e quem descia naquele momento em que se avizinhava a reta final da temporada de 1988. Com quatro vitórias nas últimas cinco corridas, Ayrton Senna desfrutava de uma invejável ascensão: havia reduzido para três pontos a vantagem de Alain Prost na tabela de classificação e, mais importante, havia ultrapassado o rival em número de triunfos 5 a 4, a estatística que fatalmente decidiria o campeonato.

Já o francês acumulava frustrações. Com uma única vitória e uma série de infortúnios nas últimas cinco corridas, Prost chegava sob pressão para o GP da Hungria, décima etapa do campeonato, a ser disputado em 7 de agosto.

Para manter a curva ascendente, porém, Senna sabia que não poderia dar a menor margem de recuperação a Prost. A qualquer momento, o talentoso rival podia encontrar de novo a velha forma; o francês, afinal, não era bicampeão mundial á toa. Para tanto, Ayrton considerava imperativo conseguir a pole position em Hungaroring. Tenho ainda mais motivos para isso do que em Silverstone ou em Hockenheim; em Budapeste, há poucos pontos de ultrapassagem e chegamos ao momento mais importante do campeonato, pois o Prost está pressionado e as Ferrari podem voltar a surpreender. A corrida vale a liderança, afirmou Senna.

Mas as ameaças não vinham apenas do companheiro de equipe. O fato de Hungaroring ser um circuito lento prometia colocar os motores aspirados na briga com as McLaren. As Benetton e as March têm chassis excelentes para esse tipo de circuito, e, por isso, acredito que atrapalharão muito os turbos, declarou ainda na quinta-feira, 4 de agosto, antes do início dos treinos. Mas a confiabilidade do motor Honda será, mais uma vez, nosso grande triunfo.

PREVISÕES QUASE CONFIRMADAS

Senna acertou na mosca, como nos treinos de sexta e de sábado provariam. Em primeiro lugar, pelo excelente desempenho dos motores aspirados na primeira sessão de classificação: Alessandro Nannini, da Benetton, fez o segundo melhor tempo, apenas Alain Prost foi mais rápido, com uma volta veloz no último minuto do treino. Nigel Mansell e Ricardo Patrese, da Williams, ficaram com a terceira e quarta colocação, enquanto Ayrton registrou apenas o quinto tempo. Mas a tranquilidade com que encarou o resultado adverso apenas comprovou a confiança que ele tinha na equipe e no motor.

No segundo treino, podemos acertar os carros com calma e acho que tanto eu quanto o Alain vamos melhorar os tempos.

Dessa vez, Senna adivinhou apenas a metade. Sua parte ele fez: melhorou seu tempo em quase 3 segundos e garantiu sua oitava pole position da temporada. Mas a melhora de Alain Prost, inferior a um segundo, não foi suficiente para mantê-lo na primeira fila, nem na segunda, nem na terceira. O francês ficou apenas em sétimo melhor tempo, largando, assim, ao lado de Maurício Gugelmin, da March, na quarta fila.

Entre Senna e Prost, colocavam-se cinco carros de motor aspirado – as duas Williams, as duas Benetton e a March de Ivan Capelli. Ainda que muitos já dessem a corrida como favas contadas para o brasileiro, por causa da distância entre os rivais no grid de largada e os poucos pontos de ultrapassagem de Hungaroring, Senna nem pensava em cantar vitória antes do tempo. É melhor do que se eu estivesse em sétimo e ele em primeiro, mas não ganhei ainda. Vai ser uma corrida longa e difícil.

ABSOLUTAMENTE CERTO

Os palpites de Senna naquele fim se semana só não foram melhores do que sua performance na pista. Como previsto, a prova exigiu muito do brasileiro. Primeiro pelo assédio de Nigel Mansell e depois de Ricardo Patrese, na metade inicial, e depois pela voraz aproximação de Prost. Não foi fácil manter a liderança. A pressão começou na primeira volta e foi até a última. Quando o Prost decidiu atacar, então, a situação ficou difícil. Ele estava com um carro mais estável que o meu, explicou Senna, com calma, ao desembarcar em Cumbica na segunda-feira após a prova.

O piloto ainda descreveu em detalhes as ultrapassagens na 49a volta, momento mais emocionante da corrida. O Prost notou que eu entrei mais lento na reta, por causa dos retardatários, e sentiu que podia me ultrapassar. Mas eu percebi a manobra e só não fechei a porta porque somos da mesma equipe. Só que logo depois senti que seu carro escorregou, na entrada da curva, e eu recuperei o primeiro lugar, na hora certa, explicou, para depois relatar um curioso diálogo com o francês. O Prost me disse, numa rápida conversa depois da corrida, que esperava uma fechada. Não sei se ele agiria comigo da mesma forma. Acredito que não. Pelo que ele disse, talvez me fechasse. De qualquer maneira, esse fato serviu para melhorar nosso relacionamento, que já é bom. Mas durou pouco…..

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