Conquistar o título mundial deixou Ayrton Senna mais tranquilo para a temporada de 1989 e com muita vontade de repetir a dose.
Apesar de ser apoiadora de primeira hora da carreira do filho, dona Neyde, como toda boa e zelosa mão, se preocupava muito com os perigos inevitáveis que rondavam aqueles que abraçavam uma vida em alta velocidade. Para tranquilizá-la, Ayrton Senna, algum tempo depois de ingressar na Fórmula 1, fez a ela uma promessa: Depois que eu vencer um título mundial, faço as malas e largo tudo.
Quando cruzou a linha de chegada em Suzuka e garantiu seu primeiro campeonato, portanto, a carreira de Ayrton Senna no automobilismo poderia ter chegado ao fim, não fosse, claro, o amor e a generosidade de Dona Neyde. Para felicidade geral do filho, dos fãs e do próprio esporte, a mãe já havia liberado Ayrton daquela promessa. Ela, afinal, já tinha percebido que não havia felicidade para seu eterno Beco longe das pistas.
Correr, para mim, é o máximo de prazer. Achar os limites do carro, de cada circuito e os meus próprios. Nada me dá mais prazer do que sentir que estou superando meus limites, confirmou Ayrton alguns dias após vencer o título mundial. Os pais que nos desculpem: as mães é que sabem tudo.
CAMPEÃO
Entre o final da temporada de 1988 e o início do campeonato de 1989, Ayrton foi, aos poucos, entendendo o significado daquela conquista – não apenas no nível profissional, mas também no pessoal.
O campeonato não mudou nada até agora em minha vida, porque ainda é muito cedo, afirmou Senna ainda antes da virada do ano. O fim da corrida no Japão é uma coisa que vou me lembrar para o resto da minha vida. Sei que terei outra vez momentos muito bons, mas aquele dificilmente será superado. Acho que ainda não aprendi exatamente o que significa ser campeão do mundo. Não percebi ainda as dimensões completas. O jeito é esperar que as coisas aconteçam.
De qualquer forma, ao olhar para trás, Ayrton só tinha motivos para se orgulhar. Posso ter parecido distante durante o campeonato, porque é preciso ser frio para manter a concentração. Não se pode permitir que as emoções se manifestem, porque isso poderia abrir caminhos para erros.
Tive de guardar dentro de mim muita coisa durante muito tempo e, quando cruzei a linha de chegada no Japão, e não era mais preciso segurar nada, foi aquilo, uma mistura de alegria, de raiva, sei lá de que mais.
PRÓXIMA TEMPORADA
Em janeiro de 1989, o campeão mostrou já ter assimilado a conquista um pouco mais. Posso dizer que, depois do título, sou um piloto mais tranquilo. Mas, de qualquer forma, é o que falei: não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver de ultrapassar, vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem seu limite. O meu é um pouco acima dos outros e é difícil modificar isso, confessou.
Para a temporada que iniciaria em março, com o Grande Prêmio do Brasil, Senna previa a continuidade da boa onda. É claro que a vontade é um pouco diferente. Mas minha maneira de guiar não vai mudar. Quando sentar no carro, vou acelerar da mesma forma, não vou resistir. Sei que tenho que pagar o preço por ser campeão mundial. Vou ser muito assediado, terei de cumprir muitos compromissos, o que não me agrada muito. Mas agora, campeão, vou cumpri-los mais feliz.
COMPANHEIROS
A expectativa com a McLaren era a melhor possível, mesmo com a troca do propulsor turbo pelo aspirado. É claro que, com o novo motor, o carro vai mudar, mas basta treinar para fazer os ajustes necessários. Tenho certeza de que esta temporada nos trará muitas alegrias, garantiu.
A relação com o companheiro de equipe, para Senna, também não teria motivos para mudar. Se vai ou não existir problemas entre mim e Prost, não posso prever. Mas sei que, com toda a pressão que tivemos este ano, conseguimos caminhar muito bem, pelo menos do meu ponto de vista. E este resultado só pode ajudar a mim, á McLaren e a todos, ponderou. A menos que alguma coisa radicalmente diferente aconteça, a relação com Alain continuará boa. É claro que nossa profissão é extremamente competitiva, pois na pista somos adversários. Mas acho que podemos conviver educadamente, como até agora.
