Chris Witty, que cuidava da publicidade da Toleman, recorda, era um dia bonito, claro e frio, e os motores adoram o frescor do outono. Em um instante, ele pegou ritmo.
Aquilo envolvia o domínio do motor turbo da Toleman, algo que ele ainda não tinha pilotado. Envolvia aguentar o chamado turbo lag, o que significa que, quando você pisa no acelerador, o carro não reage imediatamente, e, então reage violentamente, com se alguém lhe desse uma pancada na nuca. Os carros turbo tinham botões de controle de impulso, que permitiam ao piloto ajustar quanto impulso o motor fornecia e a força da pancada na nuca. Witty lembra-se como Senna descreveu a Byrne o que o carro estava fazendo e o que queria que o carro fizesse, e de como Byrne respondeu: Senna é o cara. Ele é brilhante. Nós temos de contratá-lo.
Em seguida foi a Paul Ricard, no sul da França, para testar o carro da Brabham. No entanto, se a equipe quisesse contratá-lo, teria havido problemas contratuais com seu patrocinador, uma empresa italiana, pois Senna estaria substituindo um italiano: Ricardo Patrese, sem mencionar que teria se tornado companheiro de equipe de Piquet.
Depois dessa viagem, Senna foi ao enclave português de Macau, onde, pela primeira vez, haveria uma corrida internacional de Fórmula 3, subsequentemente apelidada de Campeonato Mundial de Fórmula 3. A pole era disputada com base no tempo agregado de duas voltas de aquecimento. Por causa do teste da Brabham, Senna chegou na noite anterior ao encontro, de forma que enfrentou o primeiro treino sob os efeitos do fuso horário, e, além disso, aquele era um circuito de rua. Ele nunca tinha pilotado nos circuito desses, nem tinha enfrentado as exigências específicas da precisão absoluta e, claro, nunca tinha visto aquele circuito.
Ele bateu nas barreiras protetoras logo de saída e precisou de reparos durante o segundo treino, mas conseguiu a pole. Houve vários momentos mágicos em 1983, diz Bennetts, e Macau foi um deles. A pole não me surpreendeu, por causa do seu talento natural. A corrida? Ele simplesmente abriu na frente e venceu as duas provas. Pessoalmente, acredito que grande parte disso foi por sua capacidade de concentração, seu poder de concentração. Se você focar sua mente em uma série de coisas, poderá realizá-las. Ele tinha total dedicação e concentração e também tinha talento. Alguns caras aprendem sobre os circuitos muito rapidamente; outros irão pilotar neles durante dois anos e, mesmo assim, não encontrarão o traçado certo de corrida.
Certamente, Ayrton Senna descobrira isso e, três semanas depois em Macau, também descobriu um lugar na F-1. Era para lá que ele realmente estava indo desde que viajou de São Paulo para Londres em 1981 e foi a Norwich se encontrar com Ralph Firman.
Nesse sentido, quando ele chegou a F-1, tudo o que fez foi a sua casa.