Abandono de Piquet e do estreante Senna frustram torcida local, que assiste resignada a vitória de Alain Prost, sua primeira pela McLaren.
Novidade: a palavra que costuma dar o tom em todo começo de temporada ganhava, naquele ano de 1984, um significado especial no circo da Fórmula 1. Além da tradicional curiosidade pelo desempenho dos pilotos em seus novos carros e equipes, uma importante mudança de regulamento imposta pela Fisa causava inquietação generalizada as vésperas do Grande Prêmio do Brasil, a ser disputado em 25 de março, no Autódromo de Jacarepaguá. Em nome da segurança, a entidade limitara o tanque de gasolina em 220 litros e proibira o reabastecimento durante a corrida, uma decisão que, para muitos, tiraria o fator emoção das provas, deixando-as técnicas demais.
O piloto, para vencer atualmente na Fórmula 1, tem que ser computadorizado, declarou o veterano argentino Carlos Reutemann, que esteve no circuito carioca no dia do treino classificatório. As possibilidades dos Fórmula 1 são ilimitadas e, se não houvesse essa mudança de regulamento, os engenheiros e projetistas teriam tornado os carros bem mais velozes para essa temporada. Acho que no aspecto segurança a decisão foi boa, mas em contrapartida estão acabando cada vez mais com a característica romântica das corridas de Fórmula 1.
Nem tanto, hermano. As equipes também lançariam mão da tecnologia para driblar esse obstáculo e dar mais liberdade aos pilotos. Entre as soluções previstas, estavam o uso de gasolina congelada, resfriamento dos radiadores com gelo seco e água e um número maior de paradas para trocas de pneus. De todo modo, somente com o primeiro sinal verde da temporada é que as teorias poderiam ser testadas na prática.
POLE SEM SUSTOS
Dominante nos testes de início de ano, a Lotus comprovou sua força nos treinos livres e garantiu, com o italiano Elio de Angelis, a pole position do GP do Brasil. Seu companheiro de equipe, o inglês Nigel Mansell, havia feito o segundo melhor tempo na sexta-feira, mas caiu para quinto no sábado. A surpresa foi o mau desempenho das igualmente favoritas Brabham: Nelson Piquet, detentor do título mundial, não passou de um sétimo lugar, enquanto Teo Fabi largaria ainda mais abaixo, na 15a posição.
Ao lado do italiano, na oitava fila do grid de largada, alinhava-se um dos estreantes da categoria naquela temporada: Ayrton Senna, da Toleman, com o seu 16a tempo.
UMA CORRIDA MORNA
Confirmando o temor de muitos, o Grande Prêmio do Brasil passou longe de ser empolgante – mas não por causa da regra do combustível, é bom que se diga. O problema foi mesmo a sucessão de quebras e abandonos: mais da metade dos carros não terminaram a prova, incluindo, para a decepção da torcida brasileira, Nelson Piquet e Ayrton Senna, além dos medalhões Nigel Mansell e Niki Lauda, que chegou até liderar a prova por 26 voltas, mas parou por problemas elétricos de sua McLaren.
A bandeira quadriculada foi agitada para Alain Prost, que garantiu sua primeira vitória pela McLaren justamente em seu retorno a escuderia inglesa, após três temporadas na Renault. E o triunfo não deixou de ser surpreendente, pois o francês havia largado tão mal que caíra da quarta posição para a décima, ainda na primeira volta. No entanto, fez uma segura corrida de recuperação e herdou definitivamente a liderança com o abandono de Derek Warwick, da Renault, a 11 voltas do final.
O segundo posto ficou com o finlandês Keke Rosberg, da Williams, e o terceiro com Elio de Angelis, que, mesmo tendo largado na pole, considerou uma vitória ter chegado ao pódio, contornando dois erros da Lotus que poderiam ter sido fatais: a má regulagem do injetor de gasolina e a perda de 37 segundos em uma desastrada troca de pneus.
PANE SECA
A única vítima do novo regulamento foi o inconsolável Patrick Tambay, da Renault. Sem poder parar para reabastecer, o francês viu seu combustível acabar melancolicamente na penúltima volta da corrida, quando ocupava a segunda colocação. Eu parecia um motorista de táxi na pista, lamentou. Realmente não dava para fazer nada com o motor consumindo gasolina daquela forma.
Ayrton Senna, a estreia na Fórmula 1, maturidade de veterano.
Senna abandona cedo o GP do Brasil de 1984, mas valoriza a experiência e não se deixa abalar: tenho uma vida inteira para correr.
Campeão nas pistas da Europa, da Fórmula Ford 1600 a Fórmula 3, Ayrton Senna chegava a Fórmula 1, em 1984, com o status de grande promessa do automobilismo brasileiro. Naturalmente, na primeira etapa da temporada, justamente em Jacarepaguá, o novato dividia as atenções da imprensa e do público com o bicampeão mundial Nelson Piquet. Do alto de seus 23 anos, contudo, Senna mostrava uma maturidade incomum, dando de ombros a badalação e tratando de esfriar os ânimos daqueles que esperavam uma performance milagrosa a bordo de seu mediano Toleman.
No que diz respeito ao carro, o Toleman é um carro forte, resistente. Mas, atualmente é um modelo, de certa forma, ultrapassado em termos de velocidade. Isso vai refletir na classificação. Na tomada de tempo, as possibilidades de a gente partir em uma posição de melhor destaque são muito difíceis, explicou Senna, em entrevista a rádio Jovem Pan. Isso não o impedia, claro, de acreditar em um bom desempenho no fim de semana. Durante a corrida, devido ao baixo consumo do meu motor Hart e da resistência do meu carro, as possibilidades de a gente ir ganhando posições, volta a volta, são muito grandes.
NOVATO MAIS RÁPIDO
Como previsto, o estreante teve muitas dificuldades com seu Toleman nos treinos classificatórios. Na sexta-feira, problemas nos pneus fizeram Senna correr abaixo dos tempos que havia obtido nos testes realizados em janeiro, no mesmo circuito de Jacarepaguá. No sábado, foi o motor que o segurou: por três vezes, o brasileiro saiu para a pista e teve de retornar aos boxes, após uma única volta. Detectada e consertada a falha elétrica, Senna ganhou quase quatro segundos.
No treino classificatório, o piloto começou bem e registrou, logo de cara, a marca de 1m33s525. A Toleman, então, decidiu arriscar, para tentar melhorar ainda mais esse tempo, modificando o ajuste da suspensão dianteira. Sem sucesso: o conjunto perdeu velocidade e Senna ficou apenas com 16a posição.
De qualquer forma, era a melhor classificação entre os novato. Além dele, Martin Brundle, da Tyrrel (18a ) François Hesnault, da Ligier ( 19a ) Stefan Bellof, da tyrrel ( 22a ), e Phillipe Alliot, da RAM ( 25A ), também estreavam na categoria – alguns meses depois, por violação do regulamento, Fisa desclassificaria Brundle e Bellof daquele campeonato. Com isso, seus dados e resultados foram eliminados dos registros oficiais da Fórmula 1.
QUEBROU, QUEBROU
Domingo, 25 de março de 1984. Ayrton Senna estacionou seu Toleman TG183B, motor Hart 415T, número 19, na oitava fila do grid. Era sua primeira largada na Fórmula 1. Mas ela virou um duelo antigo, justamente contra Martin Brundle, seu maior rival nos tempos da Fórmula 3. Posicionalmente imediatamente atrás de Senna, o inglês arrancou bem e fez a ultrapassagem por dentro. A reação do brasileiro não tardo: ainda no final da reta, Senna devolveu a ultrapassagem e, de quebra, roubou a posição de Jacques Lafitte, da Williams.
O desempenho da Tyrrel de Brundle era visivelmente melhor, mas o brasileiro segurou o britânico até a nona volta. Então, Senna parou nos boxes e fez sinal para os mecânicos que não voltaria para a corrida – foi o primeiro dos muitos pilotos a abandonar a prova.
O repórter Ricardo Menezes entrevistou Senna ainda durante a transmissão oficial da TV Globo. O turbocompressor quebrou, parece.
Alguma coisa aconteceu, porque o carro começou a vibrar bastante, de uma hora para outra, explicou o piloto. Quando questionado se estava decepcionado, devolveu de bate pronto. Não, não estou decepcionado. Fazer o quê? Quebrou, quebrou, fica para a próxima.
Depois da corrida, Senna fez um resumo um pouco menos apressado de seu desempenho. Procurei não andar muito forte, para economizar pneus e gasolina, e foi ai que notei a diferença do meu motor para o da Brabham e o da Williams. Eles passavam facilmente por mim, parecia que eu estava parado.
Mesmo sem conseguir completar seu objetivo de chegar ao final da prova, Senna não se abalou. Ali mesmo, nos boxes de Jacarepaguá, já fazia planos para o Grande Prêmio seguinte, no circuito de Kyalami, na África do Sul. E dizia para quem quisesse ouvir. TENHO UM VIDA INTEIRA PARA CORRER!
E eu, Thierry Balaclava F1, estava pela minha primeira vez em um circuito de corrida e em Jacarepaguá, com apenas 6 anos de idade, tinha acabado de completar, pois faço aniversário no dia 24 de março. Está experiência para mim, é fantástica, pois trago comigo até hoje, lembro-me que indo de carro para o circuito junto com o meu pai e o meu tio Célio que morava no Rio de Janeiro em Duque de Caxias, o meu tio falava da adoração dos cariocas por Nelson Piquet e meu pai dizendo, é, eu quero ver o Ayrton Senna da Silva, um piloto paulista, que faz sucesso na Europa. Bom, quando chegamos em Jacarepaguá, deixamos um carro em um estacionamento, lembro de muitas montanhas e área verde, e por ser perto do circuito o cheiro de gasolina e o baralho dos motores era um absurdo de bom. Até que chegamos na arquibancada e o meu pai ficou comigo perto da grade de proteção, para ficar fácil para eu ver a pista, e eu pedia para o meu pai,,,, pai, quando o Ayrton Senna passar, você mostra pra mim?? Ele dizia que sim!! Até que eu vi, e só esperava a hora do carro dele passar de novo pela pista, e nisso, o som do circuito muito alto e dizia que o carro do Senna tinha quebrado, e outros, e assim foi, a minha primeira experiência no circuito, e de lá, até hoje, já são 40 anos, e eu a cada dia, buscando me realizar mais por este esporte, assistindo as corridas de F1, pelo mundo a fora, e sempre que estou fora, a receptividade das pessoas comigo, por causa do Senna é demais, e sei, que vou continuar, levando as outras pessoas tudo de bom que o Ayrton Senna me ensinou. Obrigado Senna!