GP DO BRASIL 1985; SAMBA DE UMA NOTA SÓ

Ayrton Senna GP do Brasil em 1985

Na corrida de estreia de Ayrton Senna pela Lotus, Alain Prost venceu de novo em Jacarepaguá, seu terceiro triunfo na Cidade Maravilhosa.

Em abril de 1985, depois de uma ausência de quase seis meses, o circo da Fórmula 1 finalmente voltava a se armar para o início da temporada – e, como nos dois anos anteriores, o Rio de Janeiro receberia a prova inaugural do calendário, programada para o domingo, dia 7. Desta vez, porém, era um ambiente bem menos leve: com a piora do estado de saúde do presidente eleito Tancredo Neves, submetido a uma quinta cirurgia e mantido vivo por aparelhos, o cancelamento da corrida em caso de morte do mandatário estava na pauta das autoridades, para desespero de Bernie Ecclestone, presidente da associação dos Construtores da Fórmula 1, preocupado com os compromissos com patrocinadores e televisões.

Tancredo resistiria bravamente aquele fim de semana, um alívio, ainda que momentâneo, para todos os brasileiros e um pequeno consolo para os fãs de automobilismo, que poderiam ver na pista a tão aguardada estreia de Ayrton Senna na Lotus.

Os testes realizados na pré-temporada credenciavam a equipe de Peter Warr como uma das principais candidatas ao título da Fórmula 1. A performance do Lotus 97T nos treinos de sexta-feira confirmou os prognósticos, com Elio de Angelis em primeiro, quebrando o recorde da pista, e Ayrton Senna logo atrás. Entretanto, nas tomadas de tempo para a classificação, ambos foram atrapalhados por retardatários. Assim, Michele Alboreto, da Ferrari, e Keke Rosberg, da Williams, se intrometeram na primeira fila, deixando De Angelis e Senna com a terceira e quarta posições, respectivamente.

Vice- campeão do ano anterior, Alain Prost largaria em sexto, o francês tivera pouco tempo para testar sua McLaren. Nelson Piquet, da Brabham, começaria em oitavo. Detentor do título, Niki Lauda, da McLaren, sairia logo atrás, na nona posição.

Será um ano difícil para nós. Os adversários melhoraram, e a nova McLaren é uma incógnita. No entanto, tem condições de buscar o título. Ferrari, Lotus e Brabham são meus favoritos, declarou o austríaco a Folha de São Paulo de 7 de abril.

CHUMBO TROCADO

No dia da corrida, o calor escaldante de 34 graus na Cidade Maravilhosa contrastou com a temperatura morna do Grande Prêmio do Brasil: a prova acabou sendo um samba de uma nota só, executado com frieza por Alain Prost. O francês assumiu a ponta na 19a volta, após ultrapassar Michele Alboreto, e recebeu a bandeirada com tranquilidade, seguido por Alboreto e Elio de Angelis.

O italiano da Lotus herdou a terceira posição de seu companheiro de equipe: para desapontamento geral da nação, a Lotus de Senna teve um curto-circuito na parte elétrica e forçou o abandono do brasileiro na 50a volta, a apenas 11 da bandeirada, quando o pódio já parecia garantido. Tudo estava perfeito, até que no miolo atrás dos boxes o motor cortou, explicou ao Jornal dos Sports de 8 de abril. Ainda consegui fazer o carro pegar, mas resolvi parar nos boxes para solucionar o problema da parte elétrica. O painel não funcionava, e mesmo com a ligação direta que os mecânicos fizeram, continuou a sair uma fumacinha. Foi então que resolvi abandonar a prova.

Apesar do pódio, De Angelis também saiu insatisfeito. Alguma coisa estava errada com a equipe ou comigo. Só cheguei em terceiro porque a maioria cos carros quebrou e parou diversas vezes nos boxes. Os pneus não eram adequados. Estranhamente, o carro perdeu potência após a troca de pneus e por muito pouco não abandonei a prova, desabafou, também nas páginas do Jornal dos Sports. O recado era uma insinuação de que a Lotus estaria favorecendo Ayrton Senna, que, ao saber das declarações do companheiro de equipe, retrucou: Ele devia estar satisfeito por chegar onde chegou. Eu é que deveria estar reclamando, pois perdi, declarou a Folha de São Paulo.

ALEGRIA FRANCESA

Contente mesmo, apenas Prost, a ponto de brincar com os jornalistas e dizer que não gostava muito de vencer a primeira corrida. Nos três anos anteriores, o francês tinha vencido na estreia duas vezes – mas, no final do ano, o título sempre lhe escapava. Teria mais sorte na terceira?

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