GP DOS ESTADOS UNIDOS 1988; DE PONTA A PONTA

Ayrton Senna, vence o GP de Detroit 1988, de ponta a ponta

Mais uma vez, Ayrton Senna dominou a prova no irregular circuito de rua norte-americano e conseguiu a terceira vitória consecutiva em Detroit.

O calendário do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988 apontava o Grande Prêmio dos Estados Unidos como sua sexta etapa, a ser disputada no dia 19 de junho, em Detroit. A capital norte-americana do automóvel, claro, ficava bem longe de São Paulo; entretanto, a julgar pelo desempenho de Ayrton Senna em seu circuito de rua, o brasileiro também sentia em casa por lá. Correndo pela Lotus, ele havia sido o vencedor das duas edições anteriores da prova, em 1986 e 1987; em 1985, ano de sua primeira temporada na equipe de Peter Warr, já havia registrado a pole position.

Por outro lado, seu companheiro de equipe e grande rival pelo título daquela temporada, Alain Prost, tinha verdadeira ojeriza da pista de Detroit. A prova era uma das poucas que o francês ainda não havia vencido na carreira, sua melhor posição foi o terceiro lugar, que alcançou por três vezes, em 1985, 1986 e 1987, a bordo da McLaren. Desde 1982, quando fui pole position aqui, não escondo de ninguém que não gosto da pista, que na minha opinião não está no nível das outras da Fórmula 1, justificou.

Diante disso, Senna tinha uma chance de ouro de igualar o número de vitórias de Prost na temporada, o placar era de 3 a 2 para o francês, e recolocar-se de imediato na briga pelo título. Tenho de vencer para manter vivas minhas esperanças de ganhar o campeonato. Prost é um excelente piloto e companheiro de equipe, o melhor, Mas o título pode ser de apenas um. Creio que ele concorda comigo, embora discorde do nome de quem deverá ser o campeão, ponderou o brasileiro.

PASSEIO NO SÁBADO

Ayrton só precisou da sexta-feira para cravar o tempo que lhe garantiria mais uma pole position em Detroit. Registrou 1m40s606, quase um segundo e meio abaixo dos 1m42s019 de Prost, dono da segunda melhor marca. Na sequência, veio Gerhard Berger, da Ferrari, que chegou bem perto do francês: 1m42s283.

No sábado, as condições da pista, que já eram ruins pelas ondulações e pela borracha deixada pelos pesados carros da categoria Trans-Am que também corriam por ali naquele fim de semana, pioraram ainda mais. Assim, foram poucos os que conseguiriam melhorar seu tempo. Entre eles, para azar de Prost, estavam os ferraristas Berger e Michele Alboreto, que assumiram, respectivamente, a segunda e a terceira posição no grid de largada. Tive problemas de freios, mas o pior foi a aderência. Com o asfalto desse jeito, era como se eu estivesse correndo em pista molhada, lamentou Prost, que caiu para a incômoda quarta colocação.

DOMINGO SEM SUSTOS

Na largada do Grande Prêmio dos Estados Unidos, enquanto Senna saiu tranquilo na liderança, parecia que Prost teria mais um dia para esquecer, já que foi ultrapassado por Thierry Boutsen, da Benetton, e caiu para a quinta posição ao fim da primeira volta. Mas o bicampeão mundial se recuperou, e na sexta volta havia pulado para a segunda colocação. O problema, para ele, era que Senna já estava com uma vantagem de quase 6,5 segundos.

Então, au revoir, Prost: Senna venceu de ponta a ponta, sob um calor de 34 graus. O francês chegou mesmo em segundo, sua melhor posição em Detroit, portanto, e Boutsen em terceiro, já uma volta atrás dos pilotos da McLaren. No final da prova, os carros do pelotão de frente adotaram um ritmo extremamente lento, para evitar acidentes no asfalto esfarelado. Foi uma corrida de muitas baixas: no total, apenas oito dos 26 carros cruzaram a linha de chegada.

Era a coisa mais sensata a fazer. A pista estava horrível, qualquer passagem fora do traçado normal significava uma derrapagem e o risco de ir parar no guard rail, afirmou Senna. Como Prost estava 50 segundos atrás de mim, resolvi diminuir a velocidade. Não gosto de fazer isso, mas não posso me queixar. Vencer é sempre bom.

DUPLA DESCONTRAÍDA

Ao final da disputa, ainda no circuito de Detroit, aconteceu uma cena curiosa, e que indicou uma boa relação entre os dois pilotos da McLaren. A pedido de um repórter da televisão francesa, Alain Prost, aliviado pelo fim da prova, pegou o microfone e fez uma entrevista com o companheiro de equipe. Ayrton, você acha que as outras corridas do ano serão tão fáceis quanto essa?, perguntou, espirituoso. Senna entrou na brincadeira e arrancou risadas de todos ao redor. Vai depender de você. Se você for um bom garoto, acho que não vai haver problemas.

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