A TERCEIRA VITÓRIA EM DETROIT; PROVA DE MATURIDADE

Ayrton Senna, a terceira vitória em Detroit 1988

Com desempenho irretocável do início ao fim, Senna apagou as más lembranças de Mônaco e colou em Prost na briga pelo campeonato.

Ao chegar em Detroit para a disputa do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1988, Ayrton Senna buscou, mas não encontrou, algum tipo de explicação para seu excelente desempenho em um dos circuitos mais detestados pelos pilotos de Fórmula 1. Não sei dizer por que costumo me dar bem aqui. Não tenho nenhum sentimento especial pela pista, apenas dou o máximo de mim como dou em qualquer autódromo, afirmou.

Apesar de ter saído das ruas de Detroit como vencedor nos dois anos anteriores, Senna garantiu  que nenhuma das vitórias veio com tranquilidade. Não sei se é a umidade, mas há alguma coisa aqui que torna a tarefa de guiar absurdamente difícil. Chega um momento que você não consegue respirar direito. Com tudo isso, a concentração tem que se manter no máximo, pois qualquer erro é fatal.

Quando os carros foram á pista, o fim de semana se mostrou mais uma vez alvissareiro para Ayrton. Ao cravar mais uma pole position, o brasileiro igualou a façanha até então alcançada apenas por Niki Lauda em 1974: seis pole positions consecutivas em uma única temporada. ( Os almanaques apontam que Stirling Moss também conseguiu registrar seis poles consecutivas, entre as temporadas de 1959 e 1960. Entretanto, essa estatística desconsidera a disputa das 500 Milhas de Indianápolis, que contou pontos para aquela temporada de Fórmula 1, mas que aconteceu um dia depois do Grande Prêmio de Mônaco. E assim, por motivos óbvios, não teve a presença dos pilotos da categoria. Oficialmente, portanto, a sequência de poles de Moss foi quebrada com a ausência em Indianápolis.)

De qualquer forma, Senna celebrou timidamente o recorde histórico; estava, de fato, mais preocupado com a vitória na prova, para alcançar Alain Prost no número de vitórias na temporada. O fato de o francês ter caído para a quarta colocação era uma vantagem em relação ao companheiro de equipe, mas não lhe garantia vida fácil na largada. Largar ao lado de Berger é duro, mas vou tentar pular na frente, claro. No entanto, mesmo se ele largar na frente, vai haver margem de manobra. É uma corrida longa, muito exigente para os pneus, para os freios e para os pilotos, em termos físicos.

CONCENTRAÇÃO MÁXIMA

Quando Senna falou na importância de concentração, evidentemente foi inevitável lembrar do erro que, um mês antes, lhe custou a vitória no Grande Prêmio de Mônaco, terceira etapa daquela temporada.

Em Detroit, porém, o brasileiro não deu a menor chance para o azar. Com enorme vantagem para Prost na metade final da prova, Senna desacelerou e andou bem aquém de seu limite. Depois da corrida, até brincou com a situação. Mais lento que isso, só se engatasse marcha ré, divertiu-se. Mas foi completamente diferente do caso de Mônaco. Lá, eu diminui a velocidade ao mesmo tempo em que fiquei totalmente relaxado com minha dianteira sobre Prost, e acabei perdendo a concentração. Aqui, a dianteira também era grande e eu também diminuí a velocidade, mas continuei concentrado e tenso como se estivesse buscando um recorde. A lição de Mônaco foi aprendida.

Além da concentração, era importante preservar o carro, já que calor e o asfalto de Detroit castigavam as máquinas. Estava mais preocupado em poupar os pneus e evitar um descuido. Nesse circuito, um erro leva a batida no guard rail. O número de batidas e de abandonos mostra como essa pista é difícil, afirmou ele, discordando de quem dizia que aquela tinha sido uma vitória fácil. Fácil não foi, nem um pouco. Foi uma corrida muito desgastante e muito perigosa, garantiu, antes de dizer que sentiu um gostinho diferente ao vencer pela terceira vez em Detroit. Foi a única que ganhei do início ao fim.

SEM GRAÇA?

Outra afirmação que Senna fez questão de rebater foi a de que o domínio das McLaren na Fórmula 1 teria tornado as corridas sem graça, como foi colocado em uma pergunta na entrevista coletiva. Passei quatro anos batalhando pela oportunidade de disputar um Mundial com um bom carro. Como posso achar que as corridas perderam a graça? Depois, a luta contra o Prost não é fácil, e o campeonato ficará cada vez mais difícil daqui para frente. Os outros carros estarão mais competitivos.

 

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