Batida logo na primeira curva tirou Senna e Berger do páreo; assim, o caminho ficou livre para Nigel Mansell vencer em sua estreia pela Ferrari.
Desde 1983, a primeira etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1 era realizada no Rio de Janeiro, com a disputa do Grande Prêmio do Brasil. Geralmente, o clima eletrizante de início da temporada e a frenética animação dos torcedores acabavam compensando os eternos problemas das provas em Jacarepaguá – entre eles, o desgaste físico provocado nos pilotos pela temperatura altíssima, o asfalto irregular e abrasivo e a infraestrutura bem distante da ideal.
Na edição de 1989 da corrida, porém, os aspectos negativos do autódromo carioca saltaram para o primeiro plano. Duas semanas antes do Grande Prêmio, o francês Phillipe Streiff, da AGS, sofreu um grave acidente na curva Cheirinho durante um teste de pneus; o impacto foi tão forte que o santantônio do carro – peça que protege a cabeça do piloto – se rompeu. Tanto o atendimento dos fiscais na pista quanto a demora da remoção e no tratamento do francês foram questionados por especialistas.
Para alguns deles, inclusive, tais fatores colaboraram sobremaneira no trágico desfecho: Streiff ficou tetraplégico.
Tudo isso deixava no ar a possibilidade de que a prova marcada para 26 de março de 1989 fosse a última no Brasil. Mas essa era uma queda de braço política entre a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (FISA) e a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). Aos pilotos, só restava acelerar: uma nova temporada se iniciava ali.
RECORDE BRASILEIRO
A primeira sessão oficial de classificação terminou com um resultado inesperado: o melhor tempo de Ricardo Patrese, da Williams, com1m26s172. Tratava-se de uma surpresa e tanto, considerando que aquela prova marcava o retorno da fornecedora de motores Renault á Fórmula 1. Ayrton Senna, da McLaren, ficou logo atrás, com 1m26s205.
No sábado, porém, o brasileiro pisou muito fundo e alcançou a incrível marca de 1m25s302, conquistando mais uma pole position, a 30a da carreira. De quebra, Senna batia o recorde histórico da pista.
Sinceramente, não acreditava que desse para baixar de 1m26, mas o carro melhorou muito e foi possível chegar ao recorde numa volta em que peguei pouco tráfego.
É impressionante ver a evolução dos carros na Fórmula 1. Há três anos, com pneus similares e muito mais potência no motor, fiz um tempo inferior a este.
Ainda com o tempo registrado na sexta, Patrese manteve o segundo lugar, seguido por Gerhard Berger, da Ferrari, e Thierry Boutsen, da Benetton. Alain Prost, da McLaren, ficou apenas com a quinta colocação, uma á frente de Nigel Mansell, que faria sua estreia pela Ferrari.
VITÓRIA INGLESA
E que estreia! Ao final da corrida, era Mansell – radiante, apesar de um tanto incrédulo – que estava no degrau mais alto do pódio, entre Alain Prost, segundo colocado, e o brasileiro Maurício Gulgemin, da March, que terminava entre os três primeiros pela primeira vez na carreira.
A inesperada vitória de Mansell começou a se desenhar logo na primeira curva, após uma colisão entre Senna e Gerhard Berger na disputa pela liderança. O austríaco saiu imediatamente da prova; já o brasileiro conseguiu chegar ao boxe, mas lá perdeu duas voltas e deu adeus á briga pela ponta, que a essas alturas estava Patrese – o primeiro colocado, Boutsen e Mansell.
Com sua Ferrari rendendo bem, o inglês tomou a posição de Boutsen na terceira volta, então, acelerou para tirar a diferença que o separava de Patrese e ultrapassou o italiano na 16a volta. A partir dai, coube a Mansell administrar a vantagem, com um olho no desgaste do carro e outro no Prost, que, contudo, não conseguiu se aproximar do rival.
Para mim, foi uma vitória muito especial. Ganhei a primeira prova na primeira participação por esta fantástica equipe, afirmou Mansell, que não fez questão de disfarçar seu espanto com o resultado. Tenho que confessar, eu não esperava por isso, principalmente porque tivemos vários e sucessivos problemas com o câmbio automático e com acerto de pneus, afirmou, colocando a mão no coração. Ele não aguenta mais corridas desse tipo.
Na temporada seguinte, o Grande Prêmio do Brasil continuaria no calendário, mas não mais em Jacarepaguá. A partir de 1990, a prova passou a ser disputada no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.