A ESTREIA COMO CAMPEÃO; COMEÇO INCOMPLETO

Ayrton Senna, a estreia como campeão, temporada 1989

Mesmo com muito a melhorar no MP4/5, Senna fez a pole no Rio; porém uma vez mais, as chances de vitória foram embora bem no início da prova.

Exatamente uma semana antes do Grande Prêmio do Brasil, dia 19 de março de 1989, Ayrton Senna acelerou pela primeira vez o novo MP4/5 em Jacarepaguá. É fez, junto com Thierry Boutsen, da Benetton, o melhor tempo da semana de testes: 1m26s300.

Mas o campeão mundial não saiu satisfeito com o que viu, ou melhor, com o que pilotou. Este ainda não é um McLaren, afirmou, categoricamente. O motor nós já conhecíamos e chegamos ao Rio sabendo que não haveria problemas. Mas esperávamos mais do carro, que ainda precisa melhorar muito.

A repercussão foi grande, e Senna tratou de esclarecer a questão no dia seguinte. Como é que vou reclamar de um carro que vira em 1m26? É claro que ainda existem acertos a serem feitos, mas a equipe está trabalhando nisso. Se ás vezes nos queixamos é porque, na McLaren, estamos acostumados a ter um carro de altíssimo nível nas mãos.

A polêmica foi resolvida em definitivo na quinta-feira, 23, durante a apresentação oficial da equipe McLaren para a temporada de 1989, no Hotel Intercontinental. Após Senna e Prost falarem sobre suas boas expectativas para a temporada – antes, o francês também havia feito críticas ao desempenho do carro, afirmando acreditar que o MP4/5 só ficaria no ponto certo na quarta etapa da temporada, o chefão Ron Dennis pegou o microfone e colocou uma pedra sobre o assunto. Está havendo muita especulação em torno de nossos carros, mas a McLaren sempre teve o hábito de aprontá-los em cima da hora da primeira corrida do Mundial de Fórmula 1. E até hoje esse procedimento deu certo.

CONFIANÇA

No dia seguinte, Senna foi á pista e conseguiu o segundo melhor tempo do treino de classificação, atrás de Ricardo Patrese da Williams. Ao final da sessão, o brasileiro ficou satisfeito. Podemos até não conseguir a pole, mas estamos tranquilos quanto á resistência do carro e do motor. A Williams mostrou ser um carro muito veloz, mas isso não é suficiente para ganhar a corrida, opinou o piloto, garantindo que a McLaren ainda era a melhor máquina do circo. O problema é que não tivemos muito tempo para fazer os acertos necessários num carro que nunca tinha ido á pista.

Mesmo assim, já fizemos alguns progressos, e a equipe continuará trabalhando até a hora da largada. Se não tivermos um carro em condições ideais, também não ficaremos abaixo das outras equipes.

No dia seguinte, já com a pole garantida, o brasileiro voltou ao assunto, reforçando sua satisfação com o conjunto que tinha em mãos. Os motores da Ferrari e da Williams parecem ser competitivos em termos de potência. Mas, em qualquer corrida, o primeiro objetivo é chegar até o fim, e a confiabilidade é decisiva. Nisso o motor Honda é fantástico, e as outras ainda têm de chegar ao nível dele, explicou, para depois de detalhar. Além disso, o motor Honda mostra potência também ao avanço aerodinâmico dos chassis, hoje, com metade de potência de três anos atrás, é possível baixar o tempo de volta. Num circuito como o do Rio, com curvas longas, o piloto tem de tomar decisões muito antes de chegar em cada uma delas. Com um motor como o Honda e um bom chassis, posso mergulhar com tranquilidade.

DECEPÇÃO

Com a batida na primeira curva da corrida, porém, a teoria acabou não sendo testada na prática, impedindo Ayrton, mas uma vez, de disputar a vitória no Brasil. Ainda que muitos tenham colocado em sua conta o acidente com Gerhard Berger, afirmando que Senna teria fechado a porta para o austríaco, o campeão não assumiu a culpa nem transferiu a responsabilidade. Para ele, foi um acidente de corrida.

Fui junto com o Patrese. Quando percebi que ele ia por fora e Berger por dentro, tentei frear, mas não deu para evitar o choque, explicou. Se com dois carro é duro entrar numa curva, com três é impossível. Não adianta buscar culpados, e o maior prejudicado fui eu, que tinha um carro para ganhar a prova.

Berger, que abandonou após o acidente com Senna, seguiu no mesmo caminho do adversário. Não há nenhum culpado, afirmou aos jornalistas. São coisas que acontecem, mas que podem ser evitadas. Eu tive uma boa largada e fiz o que todo piloto faz: tentei ganhar posições.

O jeito, então, era projetar a sequência do campeonato, como fez Senna. É um carro novo, que ainda precisa melhorar, mas que já se mostra muito competitivo. Em condições normais, tenho certeza de que brigaria pelas primeiras posições. Infelizmente, fiquei de fora logo no início da prova. São coisas da Fórmula 1.

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