Enquanto Senna focava na vitória para seguir na briga pelo título, a intriga corria solta no circo – até o presidente da Fisa disparou farpas.
Os sempre efervescentes bastidores da Fórmula 1 entraram de uma vez por todas em ebulição no escaldante calor de Jerez de La Frontera. A bem da verdade, a temperatura já vinha quente desde que, alguns meses antes, Alain Prost acusou a Honda de favorecer Ayrton Senna e anunciou que trocaria a McLaren pela Ferrari na temporada seguinte – caminho inverso ao de Gerhard Berger, que deixaria a Casa de Maranello e se juntaria á equipe inglesa em 1990.
Para adicionar mais gasolina á mistura, após a batida de Nigel Mansell em Ayrton Senna no GP de Portugal, Ron Dennis e Cesare Fiorio, respectivamente os chefões esportivos de McLaren e Ferrari, bateram boca em Estoril, cada um defendendo seu piloto.
Mas o circo pegou fogo quando Jean-Marie Balestre, o presidente da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), resolveu abrir a boca em Jerez. O francês partiu para o ataque contra Senna e Mansell, usando termos que deixaram o circo boquiaberto para se referir ao acontecido em Portugal. Era um dia tão bonito, tão azul, com todo aquele público nas arquibancadas, e os dois imbecis fizeram aquilo, disparou. Os dois não têm inteligência e maturidade de campeões mundiais. O único piloto que possui esse perfil na Fórmula 1 atual é Alain Prost.
BERGER
Antes e depois do Grande Prêmio da Espanha, não faltaram insinuações de que as novas configurações das equipes da Fórmula 1 em 1990 poderiam interferir na decisão do campeonato de 1989. Por exemplo: Gerhard Berger, que largaria ao lado de Senna na primeira fila, poderia facilitar a vida do futuro companheiro na largada.
O brasileiro, porém, fez questão de se antecipar a qualquer pergunta. Berger, como todos os outros pilotos, entra na pista para vencer. Apenas acredito que, levando em conta as circunstâncias do campeonato e o fato de que seremos companheiros de equipe no próximo ano, tanto ele como eu teremos o maior cuidado em evitar qualquer acidente, garantiu, aproveitando para cutucar Nigel Mansell. É evidente que ele não terá o mau comportamento esportivo daquele outro.
Após a prova, também a Ferrari saiu em defesa de Berger. Enquanto não teve problemas, Berger esteve sempre grudado no Senna. Mas quando uma equipe está com apenas um carro na pista, tem de tomar um cuidado bem maior para poder chegar ao final da corrida, comentou Cesare Fiorio. O austríaco explicou a situação em detalhes. Só tive condições de atacar o Senna até a troca de pneus. Logo depois meu carro começou a perder óleo e minha maior preocupação foi manter o segundo lugar.
De todo modo, o espirituoso Berger ainda brincou com o fato de que, depois de um início de temporada péssimo, havia tido a melhor performance entre todos os pilotos nas três últimas corridas – uma vitória e dois segundos lugares.
Isso prova que a McLaren não fez um mau negócio quando me contratou, afirmou, com um sorriso no canto do lábio.