Triunfo no Grande Prêmio da Alemanha ainda fez Senna igualar uma marca icônica: o número de vitórias de Juan Manuel Fangio na Fórmula 1.
Antes do Grande Prêmio da Alemanha, a maré de Ayrton Senna não estava para peixe. No México, o piloto brasileiro queria trocar os pneus, mas acabou obedecendo ás ordens de Ron Dennis e seguiu na pista; momentos depois, um pneu estourado o tirava da prova.
Na França, o erro da McLaren na troca de um pneu traseiro o fez perder 16 segundos no pit stop, o que, na prática, o afastou em definitivo na briga pela primeira colocação: Senna acabou apenas em terceiro lugar, a 11 segundos do vencedor Alain Prost. Na Inglaterra, uma corrida recheada de problemas também fez Ayrton terminar em terceiro, o que até foi o lucro, considerando que chegou a estar em décimo lugar. Tudo precisava mudar na Alemanha.
E Hockenheim era sem dúvida um ambiente propício para uma virada do brasileiro: Senna, afinal, havia triunfado ali nos dois anos anteriores, 1988 e 1989. Além de retomar a liderança do campeonato, uma vitória na Floresta Negra significaria a conquista de uma importante marca para Ayrton, que igualaria o número de vitórias do lendário Juan Manual Fangio (24). Apenas Alain Prost (43), Jackie Stewart (27) e Jim Clark e Niki Lauda (25) tinham mais triunfos na categoria.
Para isso, Senna, que vinha cobrando publicamente melhorias da equipe, recebeu da Honda um novo motor. E a pole position conseguida de forma categórica trazia bons presságios para o domingo.
QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA
A vitória veio, mas com a tranquilidade que Ayrton esperava. Após a parada para a troca de pneus, o brasileiro percebeu que algo não estava correto em sua McLaren. Daí a razão de ter demorado 18 voltas para conseguir ultrapassar Alessandro Nannini e retomar a primeira posição. Senna detalhou a situação na entrevista coletiva após a vitória.
Fiquei atrás do Nannini logo ao sair dos boxes, e, quando tentei acelerar, percebi que havia alguma coisa errada com o motor. Não tinha potência para passar. Encostava, aproveitando o vácuo, mas me faltava força no carro, relembrou. A Benetton de Nannini surpreendentemente era mais rápida nas retas e no ring, e eu só conseguia encostar nas freadas das chicanes. Mas tinha certeza que passaria. Trabalhei muito para equilibrar a McLaren e não poderia deixar esta vitória escapar.
Curiosamente, nem o próprio Alessandro Nannini entendeu muito o motivo pelo qual Senna demorou tanto a ultrapassá-lo. O italiano admitiu que se surpreendeu ao ver que o brasileiro não conseguia retomar a liderança. Senti que Senna estava com algum problema, porque me seguiu, tentou passar e não conseguiu. Chegava muito perto nas chicanes, mas eu conseguia um espaço para respirar nas retas, afirmou. Pena que meus pneus começaram a deteriorar. Isso tirou meu ritmo e permitiu que ele me passasse.
LEVE E SOLTO
No pódio, Senna, descontraído, brincou muito com Berger e Nannini; depois, desceu até a grade de proteção e deu um banho de champanhe nos torcedores alemães. O brasileiro estava visivelmente mais leve após vencer e interromper a série de triunfos de Prost.
Depois das últimas corridas, estava difícil manter a motivação, revelou. Estou satisfeito porque essa vitória nos dá ainda mais entusiasmo para prosseguirmos no trabalho para ter o carro em ótimas condições. Na Alemanha, éramos os favoritos e ganhamos, mas na Hungria, daqui a duas semanas, a corrida será duríssima, e por isso vamos fazer alguns testes ainda esta semana. Vamos precisar trabalhar muito para deixar o carro em condições de ganhar na Hungria.
Como sempre, Senna não quis deixar ninguém da McLaren ou da Honda repousar sobre os louros da vitória e fez questão de dar aquela cobrada básica na equipe, pensando na continuidade do campeonato. Temos pela frente novas ideias, novos desenhos e novas peças. Se essas peças ficarem prontas logo, podemos ficar mais descansados. Senão, fica mais difícil.