Após sessão de testes em Estoril, no final de 1989, Ayrton Senna anunciou que não abandonaria o esporte ao contrário, voltaria com tudo em 1990.
Antes de partir em definitivo para as férias de fim de ano, Ayrton tinha um último compromisso com a McLaren em 1989: entre 14 e 17 de novembro, participaria de testes no autódromo de Estoril e experimentaria novas configurações de chassis e motor para a temporada de 1990.
Os resultados obtidos na pista pelo brasileiro, claro, ainda seriam analisados pela equipe ao longo das semanas seguintes. Mas a passagem de Senna por Portugal trouxe um resultado imediato e mais importante do que qualquer ajuste no carro: sua decisão de continuar na Fórmula 1.
EU FICO
Estava verdadeiramente decidido a parar tudo. Vim para Portugal apenas porque tinha me comprometido com este treino, e depois pensava em dar um ponto final na minha carreira na Fórmula 1. Mas agora posso dizer: participarei com toda certeza da largada da próxima temporada, garantiu.
A mudança de opinião foi sacramentada durante os trabalhos em Estoril. Senna confessou que chegou ao circuito para a primeira sessão de testes sem o pique habitual. No dia seguinte, porém, já sentia o entusiasmo que, nas últimas semanas da temporada, andava perdido. No terceiro dia de testes, Ayrton já tinha a certeza de que pilotar era de novo natural. Ao sair do carro, não tinha mais dúvidas de que continuaria correndo.
Dando ouvidos á opinião de amigos próximos – para quem a desistência de Senna era uma vitória de seus adversários, o brasileiro anunciava que entraria motivadíssimo em 1990. Uma nova ideia se infiltrou em meu espírito: o momento de dar as costas á competição não havia chegado ainda. Não era um bom momento para renunciar. Ao contrário, acho que a hora é de botar mais lenha nesse fogo e me preparar mais do que nunca para á próxima temporada.
CHUMBO GROSSO
Ayrton garantia estar completamente ciente do tamanho da batalha que o aguardava nas pistas. Preciso estar bem fisicamente e melhorar ainda mais minha preparação psicológica, explicou. Sinto que o próximo campeonato será ainda mais difícil e cheio de disputas fora da pistas. As intrigas políticas fatalmente irão recair em cima da McLaren e de mim. Devo recobrar minha seriedade e impor-me a obrigação de ser mentalmente forte no próximo mês de março. Eu preciso disso, pois depois do Japão e da Austrália havia perdido essa força.
Bem-vindo de volta, campeão.
Gerhard Berger, o novo companheiro; a chegada do austríaco á McLaren.
Pouco depois do anúncio de que Senna correria a temporada de 1990, a McLaren dava as boas-vindas a seu novo companheiro de equipe, Gerhard Berger, contratado para assumir a vaga deixada por Alain Prost, que havia acertado com a Ferrari.
No dia 23 de novembro, em Osaka, no Japão, o austríaco pilotou pela primeira vez um carro da equipe e, com muito humor, demonstrou estar aliviado pela troca de escuderia. Apesar de bons momentos na Ferrari, agora não preciso mais torcer para que as McLaren quebrem durante as corridas, brincou Berger.
A impressão era de que, depois de um período nebuloso, novos e bons ares estavam se formando na McLaren. Berger afirmou que conhecia bem Ayrton Senna e que o considerava um amigo desde os tempos de Fórmula 3. Gosto do seu modo de guiar e admiro o seu talento, afirmou na coletiva, para alívio de Ron Dennis e companhia limitada.
Na mesma entrevista, Ayrton também foi elogiado pelo engenheiro Osamu Goto, da Honda. Jamais encontrei alguém que pense tanto no motor, revelou.
Ele é profundo em suas considerações e tem argumentos lógicos e persuasivos.