A PRIMEIRA VEZ EM IMOLA; UMA CORRIDA QUASE PERFEITA

Ayrton Senna, a primeira vez em Imola, e a vitória que escapou pelos dedos

Em sua estreia de fato no GP de San Marino, Ayrton impressionou mais uma vez na Fórmula 1 – pena que a vitória tenha lhe escapado pelos dedos.

Com o espetacular triunfo no Grande Prêmio de Portugal, em 21 de abril de 1985, Senna havia alcançado mais uma das metas que estabelecera para sua carreira: a vitória em uma corrida de Fórmula 1. Então agora só lhe restava o máximo e derradeiro objetivo –  a coroa do título mundial de pilotos, cuja busca começaria já na prova seguinte, o Grande Prêmio de San Marino, em Imola, no dia 5 de maio.

Mas, apesar de já estar em sua segunda temporada na Fórmula 1, Ayrton chegava praticamente no escuro ao autódromo Enzo e Dino Ferrari. Na prática, aquela seria sua estreia em Imola: no ano anterior, não se classificara para a prova, a única vez que isso aconteceria em sua carreira.

Não corri nem treinei: houve aquela briga entre a Toleman e a Pirelli e me proibiram de ir a pista no primeiro dia. No segundo choveu, e os dez minutos que corri em desespero de causa não deram para conhecer o circuito. Este ano, em março, voltei lá, já com a Lotus, mais choveu de novo. Perdemos praticamente toda a série de testes, relembrou ao jornalista Janos Lengyel, de O Globo, em reportagem publicada no dia 2 de maio de 1985. Nada disso pretende ser uma desculpa antecipada, pois os dois dias de classificação e os treinos livres de amanhã e depois são mais do que suficientes para esse reconhecimento.

AJUSTES PERFEITOS

O que Senna sabia de antemão sobre o circuito, porém, o deixava preocupado – e tirava o sono dos mecânicos da Lotus. Com longas retas e reduzido número de curvas, o circuito favorecia a manada de cavalos dos motores TAG da McLaren, BMW da Brabham e Ferrari. A maior potência do motor deles prevalecerá mais do que em Estoril. Prevendo isso, o engenheiro Gérard Ducarouge levou nosso carro de volta ao túnel de vento na semana passada, e, feitas as medições, está fazendo algumas modificações na aerodinâmica. garantiu a O Globo.

Ao menos no início, as alterações funcionaram a perfeição. Ayrton Senna se familiarizou rápido com Imola e dominou os treinos de sexta e sábado, garantindo a pole position. Sua largada foi impecável: segurou a Williams de Keke Rosberg, seu companheiro de primeira fila, e arrancou para aponta.

Ayrton também passou com louvor em uma outra prova de fogo: as investidas de Alain Prost. Esse sim, me pressionou muito. Mas também o meu carro, já mais leve, me permitiu forçar o ritmo e resistir a pressão do francês. Foi uma fase dura da corrida, reconheço, mas também nessa parte foi tudo bem, analisaria mais tarde. Fugindo dessa briga, pude fazer minha estratégia, a de manter o ritmo mínimo necessário, sem bravuras, mas sempre com a margem de segurança e velocidade que me garantisse a dianteira até o fim. Até quase o fim.

PANE SECA

O clima no box da Lotus após a corrida era evidente incredulidade, após a pane seca que tirou a vitória de Ayrton Senna a três voltas do final. O piloto assistiu, ainda no autódromo, ao videotape da corrida ao lado dos mecânicos e resistia em se conformar com o desfecho. Não posso acreditar no que estou vendo. E pensar que com cinco litros mais de gasolina a esta hora eu estaria comemorando uma vitória que senti tão próxima. É muito duro passar por isto, mas são lições para a vida e outras corridas, desabafou ao repórter José Antonio Gerheim, do Jornal do Brasil.

Ao me distanciar de Prost, quando faltavam sete voltas, tinha a corrida decidida e sob controle. Olhei para o relógio do tanque e ele não acusava o fim da gasolina . Acho que falhou, mas isso só depois será objeto de discussões e análise com a equipe, quando tivermos o relatório do computador eletrônico da Renault.

Como consolo, restou a Senna o carinho dos torcedores italianos, tão grande que rivalizou com a torcida pelo ferrarista Michele Alboreto. E também o apoio do ex-piloto Clay Regazzoni, que criticou o limite da capacidade dos tanques dos carros a apenas 220 litros de gasolina. É lamentável que no automobilismo de alta velocidade tenham mais importância os dirigentes e o regulamento do que a maestria dos pilotos e o equilíbrio de uma máquina bem construída.

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