Líder absoluto do campeonato, Ayrton Senna não repousava sobre os louros e exigia da McLaren simplesmente a excelência máxima.
Duas vitórias em duas corridas, uma delas com direito ao tão sonhado degrau mais alto do pódio no Brasil. A liderança isolada do campeonato. Turbulências na Ferrari, rival direta pelo título. O presente e o futuro da temporada de 1991 eram auspiciosos para Ayrton Senna – mas quando o bicampeão mundial sentava no cockpit, nada disso importava. Caso sua McLaren não estivesse de acordo com as sempre altas expectativas do brasileiro, a bronca na equipe era certa.
Foi o que aconteceu assim que Ayrton chegou a Imola para testar o MP4/6. Para ele, o motor e a aerodinâmica do bólido ainda estavam longe da condição ideal. Hoje, com as falhas do nosso carro e o crescimento de equipes como a Williams, seria mais difícil ganhar, afirmou, em 17 de abril. Aos poucos, piloto e equipe foram ajustando os ponteiros, e o carro ficou na ponta dos cascos para o primeiro treino oficial, em 26 de abril, permitindo que Senna registrasse o melhor tempo da sessão.
Com a chuva do sábado, a marca acabou garantindo também a pole position ao brasileiro. Mas nem assim Ayrton deu mole á McLaren e a Honda, que havia preparado um novo motor para a corrida. Ao sair para o treino livre no sábado, o piloto constatou que o propulsor fazia um rulho estranho; ao retornar ao box, ouviu dos mecânicos que seria preciso trocá-lo. Porém, como não havia tempo, foi decidido que Senna treinaria com o carro reserva de Berger. Enquanto eram feitos os ajustes, a equipe mudou de ideia: o brasileiro assumiria o carro titular do austríaco, que passaria para o reserva.
Senna ficou fulo da vida. Foi um grande erro de estratégia, que uma equipe como a nossa não pode cometer. Com as ordens e contraordens, perdemos muito tempo. Eu precisava andar no molhado, porque não conheço a pista nessas condições. Isso faz enorme diferença.
BATE E ASSOPRA
Logo após a vitória em Imola, Senna já pensava na próxima corrida, o Grande Prêmio de Mônaco. E, ainda no autódromo Enzo e Dino Ferrari, fez uma interessante reflexão sobre seu método de trabalho, que elevava ao máximo o sarrafo da equipe. Eu quero vencer em Monte Carlo, quero vencer todas as corridas que puder. Acho que esse pensamento é importante para manter minha competitividade e fazer com que a equipe trabalhe com dedicação, justificou. Eu sou exigente comigo mesmo e com os outros; ás vezes, como sábado, chego a soltar os cachorros quando as coisas vão mal. É o meu temperamento, que ás vezes me leva a cometer grandes erros. Já os cometi antes e acho que ainda cometerei muitos. Mas eu sou assim, perfeccionista.
Entretanto, o campeão, cada vez mais maduro, conseguia reconhecer e assimilar sugestões e críticas. Vindo da pista, Ron Dennis me disse que de vez em quando era bom que esses erros acontecessem, porque assim eu teria oportunidade de me lembrar dos tempos em que eu dirigia para a modesta Toleman. Ele quis valorizar a McLaren e estava com razão. Reconheço que estão me dando um grande carro, admitiu Ayrton.
NADA DECIDIDO
Era compreensível a tentação da imprensa e dos torcedores brasileiros de afirmarem que o tricampeão estava logo ali na esquina. Mas Senna fazia questão de chutar para longe qualquer insinuação do gênero. Não me falem em favoritismo, nem em título mundial. Esta é uma temporada de 16 corridas e ainda faltam 13. É um longo caminho a percorrer, sentenciou. Claro que os resultados obtidos até agora ajudam. Eu posso, quando a vitória for impossível, pensar em administrar, ganhar alguns pontinhos. Mas acho que o mais importante é que os resultados mostram como foram grandes nossos esforços. Em todos os sentidos.