Ele foi a Mallory Park e perseguiu Mansilla até a volta final, quando ele – Senna – sentiu que Mansilla deliberadamente o fechava, forçando-o a ir para a grama, algo que Mansilla insistiu que não fez. Senna se recuperou, terminou em segundo, e eles fizeram a cerimônia do pódio. Depois disso, ele procurou Mansilla e o agarrou no pescoço. Mansilla também o agarrou e foram necessárias muitas pessoas – inclusive a esposa de Firman, Angie – para separá-los.
Um fogo ardia nele, o qual, ao longo dos anos seguintes, nunca viria a se extinguir.
A maneira como abordava os testes surpreendia até mesmo seu mecânico, porque, conforme costumava explicar, posso ir dois décimos mais na corrida. Não vou fazer isso agora porque derrapar, danificar o carro e perder o resto do dia. O que surpreendia o mecânico era que, sempre que Senna dizia isso, ele fazia exatamente aquilo na corrida. Essa habilidade de predizer com precisão continuaria a surpreender todos que a testemunharam, mesmo na F-1, na qual, francamente, algumas pessoas tinham dificuldade de acreditar até constatar por elas mesmas.
Na sua corrida seguinte, em Mallory Park, Senna ficou novamente em segundo, terminando 1,2 segundos atrás de um inglês genial, Rick Morris. Então, venceu em Oulton Park, no norte da Inglaterra. Das treze corridas seguintes de 1981, ele venceria dez e terminaria em segundo nas outras, a não ser por um quarto lugar em Brands Hatch, em julho. Firman explica que, a partir do meio da temporada, a leitura dos muitos sinais o levou a uma conclusão simples: Senna iria ser um campeão mundial.
Morris tinha experiência com as chamas que brotam emoções. Na corrida de Silverstone, Senna o tirou da pista – duas rodas na grama – no final da reta, e aquilo fez o sangue de Morris ferver. Eles começaram a última volta, e Morris o ultrapassou quando Senna estava convencido que tinha evitado o movimento. Depois, Morris disse: Ayrton era insuportável. Aparentemente , passou pelo box com o punho erguido, gritando com Ralph Firman.
Ele não aguentava perder, um sentimento tão forte que quase lhe causava dor. Morris se lembra do treino para uma corrida em Donington, o circuito das Midlands inglesas, em que atrasou um pouco (e sem querer) Senna na chicane. Eu mal me lembro do incidente, mas ele ficou absolutamente furioso no estacionamento. Aquilo mostrou a sua forte convicção sobre o que queria. Ele era frio, analítico, calmo e quase o tempo todo você via aquele sorriso tranquilo em seus lábios- até que alguém o frustrava. Então, você via o outro lado do seu temperamento.
Morris sentia que, embora fosse amigo de Mansilla e de Toledano, Senna não era, amigo de nenhum de nós. Morris achava que, correndo naquele nível júnior, a amizade podia sobreviver as rivalidades inerentes, e Morris participava há um bom tempo de corridas, considerando-as um hobby sério. Aquilo nunca seria a sua carreira. Mas pensar desse jeito significa não entender dois aspectos importantes: Senna estava interessado apenas em vencer e, quando olhava ao redor, tudo o que via eram inimigos com potencial para detê-lo: e os maiores inimigos eram, e sempre seriam, seus companheiros de equipe, pois tinham o mesmo equipamento. Naquele caso, eram Mansilla e Toledano.
Essa visão, por si, era um sinal.
Morris admirava as qualidades de Senna como piloto, assim como também percebia qualidades em outros pilotos, mas o que eles não faziam era desenvolver o cérebro para completá-las. Ao longo do ano, ele aprendeu a checar os pneus, a preocupar-se com os amortecedores – a fazer isso e aquilo – , coisas que os pilotos com talento semelhante não faziam. Morris sentiu que aquilo era um legado dos anos do kart, pois, lá, você é forçado a pensar sobre o chassi e os pneus.
Morris viu essa qualidade durante uma corrida em Donington, quando, seguindo-o de perto, Senna começou a tirar Van Diemen um pouquinho da pista em uma curva, volta após volta. Aquilo era incomum, porque uma das coisas mais difíceis de se fazer na Fórmula Ford 1600 é dirigir de maneira uniforme. São máquinas terríveis de pilotar. ( Continuaremos )