Com mais uma vitória notável, Senna frustrou e expectativa de Williams e Ferrari, donas do melhor desempenho nos testes prévios em Imola.
Ganhar no Brasil, como Ayrton Senna finalmente descobriu em 1991, era bom. Mas ganhar no Brasil e ter um mês para curtir a vitória era muito melhor. Depois da histórica prova em Interlagos, disputa em 24 de março o circo da Fórmula 1 só armaria novamente suas tendas para um Grande Prêmio no fim de semana de 28 de abril, em San Marino. Isso não significava que Ayrton teria férias no meio da temporada – ao contrário: as equipes encarariam quase duas semanas de testes no próprio autódromo Enzo e Dino Ferrari antes da corrida. Entretanto, com duas vitórias nas duas primeiras provas, Ayrton já havia jogado a pressão para a garagem das rivais. Caso Ferrari e Williams assistissem a uma nova vitória de Senna em Imola, seria difícil segurar o tricampeonato do piloto da McLaren.
Disposta a quebrar essa hegemonia, a Williams, que vinha em ascensão desde o final da temporada de 1990 e já havia conseguido o segundo lugar no GP do Brasil com Ricardo Patrese, logo mostrou suas garras nas sessões de testes. As melhorias realizadas no câmbio, calcanhar de Aquiles dos bólidos da escuderia inglesa, pareceram dar resultado: Patrese superou toda a concorrência e foi o mais rápido do primeiro dia, candidatando-se para repetir o feito do ano anterior, quando venceu em San Marino.
Depois de hiato causado por motivos meteorológicos – chuvas e até mesmo neve, uma raridade em Imola naquela época do ano, os treinos foram retomados. Nesse momento, foi a vez de a Ferrari brilhar. Em 18 de abril, quando Jean Alesi bateu o recorde extraoficial do circuito com 1m22s220 – a pole de Senna no ano anterior havia sido de 1m23s220, o presidente da casa de Maranello, Piero Fusaro, já começou a cantar vitória. Vamos esquecer o GP do Brasil. A Ferrari voltou para onde deveria estar desde o início, afirmou o diretor, sem nenhuma modéstia.
A soberba aumentou ainda mais no dia seguinte, quando Prost fez o melhor tempo e baixou o recorde para 1m22s412: considerando que o carro já estava pronto, a Scuderia encerrou ali mesmo os testes. Desmontamos o carro, viramos do avesso e o deixamos competitivo, garantiu o piloto francês.
NA HORA CERTA
Nem tanto, Professor. Em 26 de abril, quando se iniciaram os treinos oficiais para a corrida, a Ferrari comeu poeira de Williams e McLaren, Prost fez o terceiro tempo, Alesi apenas o sétimo. Ricardo Patrese ficou na segunda colocação, mesmo afirmando que sua Williams estava perfeita. Fiz tudo o que podia, mas não consegui ser o primeiro, resignou-se o italiano.
O primeiro? Ayrton Senna, que, deixando para dar o bote na gora certa, baixou o recorde do circuito para a casa de 1m21s877. Não conseguimos usar o carro em condições adequadas durante a semana passada, explicou. A diferença entre os carros está muito pequena, e o cronômetro prova isso. Todos podem ver que é cada vez mais intensa se não fomos os mais velozes nos testes. O momento de ser rápido é este.
Com a chuva castigando Imola no sábado, o grid de largada foi definido pelos tempos de sexta-feira. Pela terceira vez em três corridas, portanto, Senna largava na pole.
SEM NOVIDADES
Criatividade não era o forte da Fórmula 1 naquele início da temporada de 1991. Pela terceira vez em três corridas, também, Senna recebeu a bandeirada de vencedor. Mas se o resultado foi previsível, o mesmo não se ode dizer dos acontecimentos da prova, que, disputada em pista molhada, foi o palco de um festival de acidentes e rodadas.
A começar por Alain Prost, que, ainda na volta de apresentação, rodou na descida da curva Rivazza, viu o motor de sua Ferrari apagar na grama e voltou a pé para os boxes.
Ao final da terceira volta, também já haviam abandonado a prova Nigel Mansell, da Williams, Nelson Piquet, da Benetton, e Jean Alesi – para desespero dos italianos, as duas Ferrari já davam adeus á briga. Ricardo Patrese, que saltou na frente de Senna na largada, foi prejudicado por um péssimo pit stop da Williams e viu o brasileiro assumir a ponta para não mais perdê-la.
A maior ameaça á vitória de Ayrton foi seu companheiro de equipe, Gerhard Berger, que também havia rodado na volta de apresentação, mas conseguiu segurar o carro na pista. O austríaco caiu para quarto ao final da primeira volta, mas se recuperou e pressionou o brasileiro na reta final da corrida. A diferença entre eles, que chegou a ser de 18 segundos, foi de apenas 1s675 na linha de chegada. Um pouco de emoção, afinal, não fazia mal a ninguém.