AYRTON SENNA O HERÓI DE INTERLAGOS; DOR E GLÓRIA

Ayrton Senna o herói de Interlagos: Dor e glória

Senna superou o desgaste não só na prova, mas também na festa da vitória no circuito paulistano, que assistiu a cenas de comemoração inesquecíveis.

O esforço extraordinário para levar a McLaren á linha de chegada com um só marcha impediu que Ayrton Senna comemorasse sua primeira vitória no GP do Brasil com seu gesto mais famoso. Ele até tentou conduzir o carro – a essa altura, em pandarecos – com a bandeira em mãos, mas suas energias estavam esgotadas. Senna recolheu a bandeira e parou o carro na Reta Oposta, sendo atendido pela equipe do pace car guiado por Wilson Fittipaldi. Ao ser examinado pelo Doutor Sid Watkins, Ayrton contou que sentia dores quase insuportáveis em ambos os braços. Watkins quis saber se ele precisava ser socorrido no hospital do circuito. Nada disso: Vamos para o pódio, respondeu o brasileiro.

Senna precisou de ajuda até para tirar as luvas e o capacete. Dói tudo, dói muito, repetia. No pódio, ladeado por Ricardo Patrese e Gerhard Berger, um exaurido Ayrton recorreu ás suas últimas forças para erguer o troféu. Apesar de todo o desgaste, seguiu para a sala de entrevistas, onde repassou os detalhes de sua façanha. Lutei muito por essa vitória… Trabalhei tanto para que ela enfim acontecesse… O vencedor de Interlagos afirmou que jamais tinha sido tão exigido fisicamente em uma prova. Para se ter uma ideia de como foi fácil difícil essa corrida, basta olhar como estou.

AJUDA DIVINA

Depois da vitória no GP do Brasil, Senna falou abertamente sobre fé e religião. Eu tenho certeza de que foi Deus quem me deu essa vitória, afirmou, pouco antes de revelar que chegou a orar durante a corrida. As dificuldades com o carro cresciam, a coisa ia ficando pior e eu pedia a Deus que me desse forças, que me ajudasse a chegar lá. E fui ouvido. Ayrton também avaliou a importância daquela vitória, que imediatamente colocou no rol das melhores de sua carreira, ao lado do primeiro triunfo na categoria, o GP de Portugal de 1988, e do primeiro lugar no Japão em 1988, que lhe valeu a conquista inédita do título mundial. O ingrediente que faltou ás outras duas, claro, foi a presença da torcida brasileira – a quem Senna atribuiu parte do crédito pela vitória. O campeão contou que ver os acenos do público o levou a repetir para si mesmo que não poderia deixar a liderança escapar de jeito nenhum: A torcida valeu muito. O carinho que recebi foi imenso.

FESTA EM CASA

O público de Interlagos naquele 24 de março, aliás, merece um capítulo á parte. Além de empurrar Senna durante as 71 voltas, a torcida vibrou como poucas vezes se viu em um autódromo da Fórmula 1. Quando o motor Honda apagou de vez na Reta Oposta, Ayrton enfim ouviu o coro de olê, olê, olá, Senna, mas não conseguiu nem acenar para a multidão. A saudação ao torcedor aconteceu só depois, no pódio, e também um pouco mais tarde, em frente á residência do campeão, na Zono Norte da capital paulista.

Ainda no autódromo, Senna foi massageado e tomou relaxantes musculares para aliviar os espasmos nos ombros e braços. Levado para casa sob escolta policial, foi pego de surpresa pela concentração de centenas de torcedores no portão de entrada. Apareceu para acenar e agradecer pelo apoio. Aquela foi a segunda comemoração da semana na casa da família Senna – quatro dias antes, o campeão havia festejado seu 31a aniversário no local, com parentes e amigos. Teve refrigerante e bolo gelado de chocolate preparado pela mãe, dona Neyde, mas nada de badalação, afinal, era véspera de treino.

DESCANSO DO GUERREIRO

Além do aniversário, a semana da primeira vitória de Ayrton Senna no GP do Brasil foi marcada por um período de descanso e concentração em Angra dos Reis, onde o campeão recebeu Gerhard Berger, companheiro de McLaren. E foi justamente para Angra que Senna retornou depois do sofrido triunfo em Interlagos. Na manhã seguinte á corrida, concedeu nova entrevista no Campo de Marte, de onde embarcaria rumo ao litoral.

Ayrton pediu privacidade – estava incomodado com a quantidade de jornalistas nos arredores da casa de Angra em suas últimas passagens por lá – e lembrou que a busca pelo tricampeonato mundial seria retomada logo em seguida. Peço que me entendam. Por favor, me deem a oportunidade de descansar como retribuição pela vitória de ontem. Na semana que vem eu já tenho que voltar ao trabalho.

 

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