AYRTON SENNA GP DO BRASIL 1993; ÁGUAS DE MARÇO

Ayrton Senna vence o GP do Brasil 1993

Tudo indicava um novo triunfo de Alain Prost, mas uma temporada na Terra da Garoa mudou a história da corrida, que terminou com Senna nos braços dos fãs.

Os raios de sol emanados pelo ótimo e surpreendente desempenho da McLaren na estreia da temporada, o Grande Prêmio da África do Sul, começaram a desaparecer para Ayrton Senna conforme o Grande Prêmio do Brasil, marcado para 26 de março de 1993, foi avizinhando.

Primeiro, porque as nuvens que pairavam sobre a renovação do contrato do brasileiro com a equipe voltaram a ficar carregadas. A indefinição era tão grande que só se resolveu (provisoriamente) na semana da prova, quando Ayrton, mesmo incomodado, aceitou mais um contrato de risco, válido apenas por uma corrida. E por último, porque qualquer esperança de vitória foi soprada para longe quando os carros foram á pista em Interlagos: as previsões do início da temporada se mostraram finalmente reais, deixando claro que as Williams, de novo, estavam em um campeonato só delas.

Esse sentimento, compartilhado por todos no circo, foi sintetizado por Michael Schumacher após o primeiro treino classificatório. Sem papas na língua, o piloto da Benetton sentenciou: O título deste ano já tem dono, e todo mundo sabe quem será o campeão.

PASSEIO NOS TREINOS

De fato, bastou Alain Prost dar as primeiras voltas no circuito paulistano para mostrar a soberania do conjunto da Williams diante dos outros carros – e também a enorme distância que o separava de seu companheiro de equipe, Damon Hill. Na sexta, o francês cravou 1m16s809, ou seja, 1 segundo mais rápido do que o inglês (1m17s856). Senna ficou com o terceiro melhor tempo, longos 2 segundos atrás do líder (1m18s639). No sábado, Hill melhorou seu desempenho e conseguiu se aproximar de Prost, mas as Williams seguiram rodando 2 segundos mais rápidos do que todo o resto: 1m15s866 de Prost, 1m15s929 de Hill, 1m17s697 de Senna e 1m17s821 de Schumacher. Senna foi realista ao analisar sua situação. Com o motor que temos, não dá para pensar em vitória.

CHOVE, CHUVA

Em condições normais de pressão e, principalmente, temperatura, vencer em Interlagos seria uma impossibilidade. Como esperado. Prost pisou fundo na largada e deixou todos os adversários para trás. Extraindo o máximo da McLaren, Senna conseguiu ultrapassar Hill e se manteve heroicamente á sua frente por 11 voltas, até a Williams do inglês falasse mais alto e retomasse o segundo lugar. Para piorar, na volta 24, o brasileiro teve de cumprir uma punição de 10 segundos por ter ultrapassado um retardatário durante uma bandeira amarela e voltou na quarta colocação, atrás de Schumacher.

Mas estávamos em São Paulo, a Terra da Garoa – que resolveu descer sob a forma de uma pequena tempestade em Interlagos e embaralhou as cartas daquele Grande Prêmio a partir da 26* volta. Senna fez o pit stop imediatamente para colocar  os pneus de chuva; enquanto isso, seus rivais diminuíam a velocidade e lutavam para se manter na pista. Por um erro de comunicação com a Williams, Prost, que indicou fazer a parada na volta 30*, não entrou no box. Alguns metros depois, sob o dilúvio, derrapou. O francês até retomou o controle do carro, mas não conseguiu evitar a colisão com a Minardi estacionária de Christian Fittipaldi, que momento antes havia rodado na entrada do S. Resultado: fim de prova para ambos.

No giro seguinte, o safety car – que fazia sua estreia na Fórmula 1 exatamente naquela prova – entrou na pista e permaneceu até a volta 37, quando pela primeira vez na história da categoria se fez uma relargada em movimento. Senna já era o segundo, atrás apenas de Hill. Na volta 41, em uma trégua da chuva, o brasileiro voltou aos boxes, agora para colocar pneus para a pista seca. Uma volta depois, foi a vez de Hill fazer a parada. O inglês ainda voltou á frente, mas os pneus do brasileiro já estavam aquecidos, e, na sequência, o tricampeão fez a ultrapassagem, para delírio absoluto das arquibancadas de Interlagos. A partir daí, a corrida era de Ayrton Senna. Do Brasil.

Na volta 71, o piloto da McLaren cruzou a linha de chegada para assegurar sua segunda vitória em casa e desacelerou para buscar uma bandeira para a volta da vitória. Mas meteorologia nenhuma poderia prever o tsunami de torcedores que invadiria a pista para comemorar com o ídolo. Com sua McLaren ilhada em meio ao mar de fãs no asfalto, Senna foi resgatado pelo carro-madrinha, no qual deu a volta da vitória do lado de fora da janela, acenando para o público, em uma cena de pura poesia. São as águas de março/ fechando o verão/ é a promessa de vida/ no teu coração.

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