AYRTON SENNA GP DO PACÍFICO 1994: NADA ALÉM DA PRIMEIRA CURVA

Ayrton Senna GP do Pacífico 1994; nada além da primeira curva

Senna superou os problemas da Williams e conseguiu a pole, mas a corrida acabou para ele logo após a largada, quando foi atingido na traseira por Hakkinen.

Depois de dominar a Fórmula 1 com folga nos dois últimos anos, a Williams começava 1994 no retrovisor da concorrência, para a surpresa de muitos. Ayrton Senna já dera o alerta nos primeiros testes da temporada, mas poucos haviam ouvido. Com a proibição dos sistemas eletrônicos, o carro antes dominante havia ficado para trás em relação á Benetton, dona de motores Ford de primeira linha. Como resultado, as dificuldades anunciadas pelo tricampeão já puderam ser vistas na prova de estreia do calendário, o Grande Prêmio do Brasil, que acabou sendo vencido por Michael Schumacher.

O próximo desafio seria o Grande Prêmio do Pacífico, a ser disputado em Aida, no Japão, no dia 17 de abril de 1994. E, para tentar resolver a enxurrada de problemas que o FW16 vinha apresentando, a Williams, após a prova em Interlagos, enviou um exército de quase 50 profissionais para os testes seguintes, no circuito de Jerez de la Frontera, na Espanha. Nosso carro é muito duro e, com a pista ondulada, a altura em relação ao solo varia constantemente, o que prejudica a estabilidade. A ideia, agora, é fazer com que a altura fique mais uniforme, declarou Ayrton.

Outro problema importante a ser resolvido pela equipe era o espaço no cockpit do carro, muito apertado, que limitava o movimento de braços e pernas e tornava o ato de pilotar extremamente desconfortável para o brasileiro. Desde os primeiros testes eu dizia que este seria um campeonato difícil, com muitos ganhadores. Tudo muito diferente do que se viu nos últimos dois mundiais, com grande supremacia da Williams. E já nos testes o Benetton se mostrara um carro rápido.

DESCOBERTA DESAGRADÁVEL

Era a primeira vez que o circuito Tanaka International sediaria uma prova de Fórmula 1, o que fazia dele uma grande incógnita para as equipes. As informações iniciais davam conta de que o asfalto de Aida era liso, o que ajudaria na estabilidade da Williams. Porém, ao colocar o carro na pista, Senna teve uma surpresa desagradável. Havia sim muitas ondulações no asfalto – e assim, o brasileiro seguia com problemas para manejar o bólido. Estou brigando com o carro nas curvas de baixa, onde ele temia em sair da pista. Perdemos muito tempo com isso. Eu não consigo tração por causa da falta de aderência, afirmou o tricampeão após o primeiro treino livre.

A Benetton, por outro lado, seguia em sua trajetória ascendente. Com o carro já em estágio avançado de desenvolvimento, a equipe pôde focar na preparação específica para o Grande Prêmio do Pacífico – testando inclusive em Silverstone os novos pneus que seriam levados pela Goodyear para o Japão, algo que a Williams não teve oportunidade de fazer. Demos grandes passos para a frente, principalmente para conseguir melhorar a aderência, o que é importantíssimo aqui em Aida. Estamos conseguindo ganhar muito nas curvas lentas, disse Schumacher. Estou muito satisfeito com o carro, embora ainda não convencido de que possa ser mais rápido que os Williams. Este é um circuito completamente diferente de Interlagos, e teoricamente eles podem andar mais.

PULGA ATRÁS DA ORELHA

De fato, na primeira sessão de classificação, Senna conseguiu superar os problemas da Williams e ficou com a pole provisória: 1m10s218, contra 1m10s440 do alemão. Eu guiei melhor, e a gente melhorou um pouco o equilíbrio do chassi e o motor, explicou o piloto brasileiro, que não se deixou levar por nenhum tipo de entusiasmo. Numa tomada de tempo, um volta veloz, sempre dá para inventar alguma coisa. Mas repetir as voltas com pneus usados… Essa pista, menos ondulada que Interlagos, mas muito lenta e de baixa aderência, complica nossa vida em comparação com a Benetton. As marcas de sexta-feira acabaram sendo determinantes para a conquista definitiva da pole, já que, no sábado, as condições da pista estavam desfavoráveis – Schumacher e Mika Hakkinen, da McLaren, entre outros, nem registraram tempos.

Naquele dia, Ayrton Senna e seu companheiro de equipe Damon Hill rodaram no mesmo ponto do circuito, a curva Resolver. Por não ter interferido no resultado da disputa, o incidente passou praticamente despercebido do público. Mas o fato de ambos terem sofrido o incidente com o carro em condições ideais chamou a atenção dos pilotos e dos especialistas, como se lê no relato de Celso Itiberê, do Jornal O Globo, de 18 de abril de 1994: Ayrton está também com uma pulga atrás da orelha. Saiu da pista, no treino de sábado, sem qualquer motivo aparente. Fez tudo certo, o carro estava com boa aderência, o motor funcionando bem, e de repente o carro rodou. Logo depois a mesma coisa aconteceu com Hill, no mesmo lugar. Os mecânicos e engenheiros revisaram os dois carros da Williams e não encontraram o problema, mas o tricampeão insiste com os engenheiros para que façam uma verificação minuciosa.

O FIM DO COMEÇO

A expectativa para o domingo, 17 de abril de 1994, era de um emocionante tira-teima entre Senna e Schumacher. Mas, de forma totalmente anticlimática, o duelo acabou logo na primeira curva da corrida. Com visíveis dificuldades para arrancar com sua Williams, Senna foi ultrapassado por Schumacher na largada. Mas o brasileiro segurou a trepidação e manteve-se logo atrás do alemão. O problema é que o terceiro colocado, Mika Hakkinen, errou a freada e bateu na traseira de Senna, que rodou para fora da pista.

E qualquer ilusão de um retorno a corrida foi encerrada quando Nicola Larini, da Ferrari, de desviava de outra colisão, bateu na lateral da Williams estacionária.

Assim, antes mesmo do fim do Grande Prêmio do Pacífico, Senna e a Williams já começavam a pensar no Grande Prêmio de San Marino, a ser disputado dentro de duas semanas, em 1* de maio de 1994. De novo, o tricampeão assistiria ao final da prova nos boxes.

Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *