Abandono de Senna fez a torcida deixar Interlagos bem antes do fim; para o piloto, andar no limite foi um risco assumido em busca da vitória.
Para boa parte dos 80 mil espectadores que compareceram em Interlagos naquele domingo, 27 de março de 1994, o Grande Prêmio do Brasil durou apenas 56 voltas. Após a saída de Ayrton Senna da prova, as câmeras de televisão flagraram uma verdadeira debandada do autódromo: sem o tricampeão, as arquibancadas foram ficando vazias bem antes de Michael Schumacher receber a bandeira quadriculada.
Se a torcida deixou Interlagos com um sentimento de tristeza e frustração, Ayrton, evidentemente, não ficou atrás especialmente porque, de acordo com as entrevistas após a corrida, foi ele próprio o único responsável pelo abandono.
Foi um erro meu. Estava andando forte, procurando reduzir a vantagem de Michael Schumacher, e acelerei um pouco antes do que devia. O carro rodou, ficou atravessado na pista e, quando tentei voltar, o motor morreu, explicou.
Foi meio frustrante quando o motor apagou. Eu já tinha feito toda a corrida, o pódio era garantido. Mas o problema é que eu corri aqui para vencer e o segundo lugar não interessava. Foi um risco que eu assumi, consciente e sabendo das limitações do meu carro.
Sobre o desempenho da Williams no Brasil, Ayrton fez uma avaliação realista. O carro é difícil de dirigir num circuito ondulado como o de Interlagos. Além disso, saía muito de frente, principalmente nas curvas de baixa velocidade. Nelas a Benetton de Schumacher era muito mais eficiente. Se eu quisesse me aproximar, teria de correr riscos, avaliou.
Mas eu acho que depois de enfrentar as dificuldades a gente tem que esfriar a cabeça e colocar como um objetivo a superação destes problemas, o que vai acontecer somente através dos treinos e de algumas modificações no carro. O jeito é se manter firme.
COMPETIDORES SÉRIOS
Para ele, não houve surpresas nem nas dificuldades da Williams, nem no bom desempenho da Benetton. Tudo que aconteceu em Interlagos era esperado. Desde os testes da Europa eu vinha dizendo que a corrida do Brasil seria a hora da verdade, porque iríamos usar o carro em uma pista muito ondulada, onde ele não rende como seria de desejar. A Benetton mostrou também que é um carro extremamente confiável, um conjunto bom e veloz, que será sério competidor.
De acordo com o tricampeão, o equilíbrio que se viu no Brasil – com a Williams e Benetton disputando a pole position e também a primeira posição na corrida – provavelmente se repetiria ao longo do campeonato.
Não vejo a Williams como a favorita que todos estavam anunciando. Vai haver luta intensa com a Benetton e o resultado final dependerá, basicamente, do desenvolvimento que as equipes conseguirem fazer. Só com evolução constante poderemos levar vantagem, previu. Está com jeito de que a decisão vai ficar em suspenso até as últimas corridas, Japão e Austrália. Perdi uma corrida, mas não me sinto pressionado. Tenho um bom carro e 15 provas pela frente, das quais espero vencer muitas.
OPINIÃO DO PROFESSOR
Agora aposentado, Alain Prost comentou o Grande Prêmio do Brasil para a emissora francesa TF1 – e, profundo conhecedor da Williams, reservou elogios para Ayrton Senna, apesar de o final da prova do brasileiro ter sido bem diferente do esperado. Senna luta contra um carro muito difícil de guiar. Ele está mostrando muito talento nesta corrida, afirmou o tetracampeão, antes da segunda parada do brasileiro para reabastecimento. Ayrton está cometendo erros que ele não costuma cometer. O carro deve estar muito ruim.
Sobre a rodada que tirou Senna da disputa, Prost deu um palpite relacionado como novo regulamento da Fórmula 1. Ayrton acelerou se esquecendo que não tem mais controle de tração no carro. De qualquer forma, o francês acreditava que o brasileiro recuperaria o terreno perdido. Apesar da vitória de Schumacher no Brasil, Senna é o favorito para ganhar o campeonato este ano. Acho que nada muda só porque ele perdeu a corrida no Brasil.
Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.