Ayrton Senna na sua primeira corrida

Ayrton Senna na sua primeira corrida

A primeira corrida foi em Brands Hatch, especificamente a terceira corrida da programação do dia. Compreendia doze voltas no pequeno circuito do clube, com a distância total de 23,1 km. Havia 28 pilotos inscritos, quase todos completamente esquecidos hoje. Senna, ainda com o modelo 1980, chegou em quinto, seis segundos atrás do vencedor, Mansilla, mas havia três aspectos reveladores: ele provou que podia cobrir a distância da corrida, foi inteligente o bastante para não forçar demais o carro, e sua volta mais rápida- 50,8 segundos-foi apenas um décimo de segundo mais lenta do que a de Masilla-, quer dizer, ele podia atingir altas velocidades com segurança.

Com certeza, aquilo era um sinal.

Uma semana mais tarde, ele foi a Thruxton, a oeste de Londres, outra antiga base aérea com ua atmosfera parecida com a de Snetterton, rural e simples. Ele terminou em terceiro lugar, depois de, conforme descrito em uma reportagem, uma disputa feroz com Mansilla.

Uma semana depois, ele já tinha um Van Diemen 1981 para correr em Brands Hatch, e algo surpreendente aconteceu. Foram dadas três voltas para aquecimento. Na primeira volta, ele chegou em oitavo, e, então começou a chover. Ele disse a Toledano que queria aumentar a pressão dos pneus, Toledano disse aquilo ao mecânico de Senna. O mecânico respondeu que aquilo era uma loucura: ele tinha dezesseis libras nos pneus dianteiros e dezoito nos traseiros. O que ele quer? Flutuar sobre a água?

Toledano dirigiu-se a Firman e explicou a situação, e Firman disse: esse maldito brasileiro tem que fazer o que eu quero. Eu sou o chefe.

Mas Senna respondeu: se eu paguei, quero o carro do jeito que eu disser. Aquilo era um sinal, e foi assim que ele conseguiu os pneus do jeito que queria. Mais tarde ele explicou a Toledano: pense nos meus dedos como as tramas dos pneus. E fechou seu punho. Isso são dezesseis libras. Ele abriu o punho, os dedos se esticaram. Com vinte e cinco libras, a trama abre, e a água passa através dela mais rapidamente.

Havia uma curva específica, Paddock Hill Bend, inclinada e com câmber negativo. Na qualificação, Toledano percebeu que Senna procurava a parte externa do traçado, o que implicava ele ir mais devagar na entrada, mas bem mais depressa na saída. Quando Toledano perguntou porque estava abrindo tanto a curva, ele respondeu que, no traçado normal de uma curva, você tem uma película de borracha deixada pelos pneus ao fazerem a curva, e, quando a pista está molhada, isso ficava liso como gelo. Por fora, os seus pneus conseguem aderir ao asfalto porque lá não há película.

Outro sinal.

No final também chovia, e Mansilla prejudicou Senna, o que lhe custou oito posições. Toledano liderava, enquanto Senna disputava com um Inglês, Andy Ackerley, que o deixou passar. Senna voltou á disputa, e Ackerley tentou bloqueá-lo. Eu tentei fechar a porta, e ele se mostrou um adversário: eu não vou desistir. Eles bateram um no outro e Ackerley deixou a pista, com seu carro danificado.

Em poucas voltas, Senna estava atrás de Mansilla. Eles se engancharam e Senna saiu de novo sobre a grama molhada, batendo no alambrado da Armco. Senna controlou a derrapagem do carro e tocou no alambrado de leve. Voltou como um tigre, conforme recorde Toledano. Eles disputaram pneu a pneu, e, então, Senna o ultrapassou por dentro de uma curva- e venceu a corrida, a primeira da sua carreira no automobilismo. Essa corrida febril durou 15 minutos e 7,2 segundos, e ele venceu Toledano por 9,4 segundos – o que, no contexto, era considerável.

Era um sinal.

Senna recorreu um jovem fotógrafo chamado Keith Sutton, que estivera em Thruxton, e perguntou a ele se era profissional. Sutton disse que sim, e Senna contratou-o para fazer fotos publicitárias, pois, pensou ele, aquilo podia ajudar a conseguir um patrocínio – e ele disputaria espaço nos jornais brasileiros com pilotos estabelecidos no automobilismo, que já estavam na Europa e em Fórmulas maiores.

aquilo era um sinal. ( continuaremos )