AYRTON SENNA OBSTÁCULOS NO CAMINHO DO TETRACAMPEONATO

Ayrton Senna obstáculos no caminho do tetracampeonato

Apesar de reconhecer os talentos da nova safra de pilotos, Senna acreditava que o maior rival em 1992 seria de novo Nigel Mansell. Um olho nos jovens, outro no Leão.

Como tudo na vida de Ayrton Senna, também o tempo andou rápido. Em 1984, a jovem promessa do automobilismo iniciou sua carreira na Fórmula 1 na pequena Toleman, de olho em uma vaga em uma das grandes equipes da categoria. Já na temporada seguinte, foi para a Lotus e conquistou suas duas primeiras vitórias em Grandes Prêmios. Três anos depois, em 1988, foi contratado pela gigante McLaren, equipe com a qual venceu três títulos mundiais em quatro anos. Assim, em apenas oito anos, Senna já havia se tornado um dos grandes da história da Fórmula 1 e, pode-se dizer também, um veterano da categoria, apesar de, aos 32 anos, continuar com pinta de garotão.

Único campeão mundial inscrito na temporada de 1992, Ayrton via com bons olhos a invasão de uma nova geração de pilotos naquela temporada. Há um processo seletivo que é inevitável. Um dia vai chegar a minha vez também. E os jovens que surgem chegam para inovar, renovar e mostrar que podem igualar ou até mesmo superar os recordes existentes, afirmou. Como em tudo na vida, quem pode mais chora menos.

Para Senna, a chegada dos novatos traria uma nova dinâmica ás provas – e também alguns riscos extras. Com pilotos menos experientes, a gente tende a se encontrar diante de mais situações inesperadas. Por outro lado, é normal que alguns saíam e outros entrem no circo. É um momento de renovação, que deverá trazer emoções diferentes.

WILLIAM Á FRENTE

Apesar do prodigioso talento de alguns dos integrantes dessa safra, Ayrton não acreditava que eles chegassem para competir por título em 1992, especialmente por conta do estágio de desenvolvimento de seus carros. Para o brasileiro, a Williams e a McLaren as máquinas de Frank Williams.

Eles estão trabalhando no carro há mais tempo e devem ter uma pequena vantagem nas duas ou três primeiras corridas. Mas tiveram um atraso na construção do novo carro. Soube que só estrearão oFW15 no GP do Canadá. A McLaren está mais adiantada e pretende lançar o carro deste ano no GP do Brasil, explicou. O carro estará equipado com um câmbio semiautomático, o que já é um grande avanço, e terá também algumas mudanças na aerodinâmica. Em princípio acho que o campeonato está entre a McLaren e Williams. A Ferrari está com uma equipe nova, reestruturada. Ainda é uma incógnita.

ELE DE NOVO

Se o campeonato estaria entre a McLaren e Williams, então em tese seriam quatro os candidatos ao título: além de Ayrton, seu companheiro de equipe; Gerhard Berger, e os dois pilotos da Williams, Nigel Mansell e o italiano Ricardo Patrese. Evidentemente, a expectativa de todos era a de mais um duelo entre Senna e Mansell, assim como havia acontecido na temporada de 1991.

O brasileiro e o inglês tinham em comum a velocidade e a ousadia, o que, no final da década de 1980 e no início dos anos 1990, causou algumas ríspidas discussões entre eles, dentro e fora das pistas. Mas as arestas foram aparadas ao longo do tempo, e o respeito mútuo passou a ditar a relação. Senna, mais maduro após conquistar os títulos mundiais, entendia que a rivalidade saudável era parte do jogo. Meu objetivo é superar minhas limitações. Durante uma competição acirrada, a gente se expõe ás dificuldades e controvérsias. Somos experientes, entendemos a natureza deste jogo e conhecemos a personalidade de cada um.

APOSENTADORIA?

Mansell completaria 39 anos em meados da temporada e, havia muito tempo, prometia se aposentar assim que conquistasse um campeonato mundial. Ao voltar de suas férias na Flórida, o inglês, anunciou que, se precisasse, correria até os 41 anos e motivação suficiente para continuar correndo até tirar o título mundial de Ayrton, prometeu o veterano piloto. Estou mais magro e mais voraz, com fome de velocidade. Só penso no campeonato deste ano e nunca estive melhor forma física. Se não estivesse convencido de que posso vencer o Mundial de Fórmula 1 de 1992, pararia agora mesmo.

Apenas uma curiosidade: a vitória de Senna sobre Mansell no Campeonato Mundial de 1991 acabou antecipando, por tabela, a aposentadoria de Nelson Piquet. Caso o inglês tivesse ficado com o título, muito provavelmente cumpriria a promessa de se despedir do circo em 1992; se isso acontecesse de fato, havia um acordo entre Frank Williams e Piquet para que o brasileiro assumisse a vaga do Leão. Com Mansell ficou sem o título, resolveu correr ao menos mais um ano – e assim Piquet perdeu o cockpit.

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