Prost culpou Senna pelo abandono em Hockenheim e ameaçou tirá-lo da pista numa próxima ocasião; depois, os dois anunciaram novo armistício.
Alijados da disputa pelo primeiro lugar, agora exclusivamente da Williams, Ayrton Senna e Alain Prost protagonizaram no Grande Prêmio da Alemanha mais um capítulo da eterna novela de desentendimentos. A escaramuça começou ainda na pista. Senna caiu para terceiro logo após a largada, logo á frente de Prost, que ganhara uma posição e subira para o quarto lugar. Enquanto o francês buscava a ultrapassagem a todo custo – sua Ferrari era mais veloz do que a McLaren, o brasileiro fechava a porta, defendendo com unhas e dentes seu posto.
A situação se estendeu até a 37a volta, quando o que estava em jogo era a quarta posição Mansell, Patrese e Alesi eram os primeiros. Prost enxergou uma possibilidade e tentou passar o brasileiro pela esquerda, em uma chicana estreita, com curva para a direita. Senna, porém, retardou a freada e deixou Prost com pouca pista, do lado oposto da curva. O francês saiu da pista, e seu carro morreu. Fim da corrida para o piloto da Ferrari…. E início da polêmica.
Ele me fechou o tempo todo, de propósito. Eu era um pouco mais veloz, mas Ayrton simplesmente não queria que eu passasse, afirmou Prost, que foi mais longe e ainda fez uma ameaça. Da próxima vez que isso acontecer, eu vou jogá-lo para fora da pista.
Senna ironizou as reclamações do rival. O Prost continua chorão. Ele reclama dos outros, reclama do carro, reclama da Ferrari, reclama da pista, mas não aceita o seu erro. Ele não me passou porque foi incompetente: perdeu o ponto da freada (e eu freei dentro da curva, no último instante) e foi embora, sentenciou o brasileiro, que recorreu a um velho ditado do automobilismo para resumir a situação. Ele tinha carro para chegar, mas não para passar, pois o nosso ritmo era muito igual.
SEGUNDO ROUND
Nos dias que seguiram ao GP da Alemanha, Prost continuou jogando lenha na fogueira, inconformado com fato de a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo ( Fisa) não ter punido Senna pela manobra que ele (e apenas ele) considerou perigosa em Hockenheim. Ayrton Senna nunca foi meu tipo preferido. Este ano, já não tenho como ganhar o campeonato, mas também não vou ficar esperando que Senna passe na minha frente o tempo todo. De agora em diante, eu vou fazer tudo que puder para ajudar Mansell e a Williams-Renault a ganharem o campeonato, bradou em uma entrevista á TV Francesa, anunciando a criação de uma aliança anglo-gaulesa contra o brasileiro.
Dessa vez, Senna preferiu nem se estender na reposta. Falar de um tipo como é perda de tempo, constatou. Sobre a ameaça do francês de causar propositalmente uma batida, avisou que aguardava providências superiores. Claro que alguma coisa deve ser feita, mas claro isso cabe a quem organiza as corridas, não a mim. Cada um faz o seu trabalho. Eu apenas dirijo.
PUNIÇÃO
Para colocar ponto final ao menos a esse episódio, a Comissão de Segurança da Fisa chamou os dois pilotos para um encontro na abertura dos treinos da corrida seguinte, o Grande Prêmio da Hungria. A reunião aconteceu em 9 de agosto e durou três horas e meia. Resultado: suspensão sob sursis de Prost por uma corrida pela ameaça de tirar Senna da pista – sem efeito prático imediato, já que só seria aplicada em caso de reincidência – e uma suposta reconciliação ( mais uma…) entre os velhos rivais.
Eles puseram o tape para que a gente visse. Depois, pela situação que se criou, começamos a conversar. Falamos sobre muitos episódios passados e chegamos á conclusão de que temos de mudar essa situação de antagonismo, de guerra, de briga que há entre nós, revelou Senna.
Agora mais calmo, depois do puxão de orelhas, Prost concordou. É importante para o esporte que Senna e eu nos falemos. Acho que esclarecemos uma porção de coisas e daqui para a frente haverá entre nós uma relação leal. Esse era o desejo, afinal, de todas as torcidas.