Apesar da boa relação com a escuderia e a fornecedora de motores, Senna não deixava de cobrar os parceiros por melhorias nos equipamentos.
Desde o momento em que trocou a Lotus pela McLaren, em 1988, Ayrton Senna dizia que sempre se sentiu em casa na equipe inglesa. Nos momentos de maior turbulência na temporada de 1989, durante a briga contra Jean-Marie Balestre e a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), o brasileiro foi amparado pelas ações da escuderia, que se manteve irredutível em sua defesa. Da mesma forma, sua relação com a Honda, fornecedora de motores com quem o piloto trabalhava desde a época da Lotus, era ótima, marcada por uma admiração recíproca.
Mas isso não impediria Senna de fazer cobranças quando achava que deveria, como aconteceu após a vitória no Grande Prêmio de Mônaco, em que relatou problemas no motor e pediu publicamente pressa no aprimoramento e no desenvolvimento do propulsor e do chassis.
Para tentar desanuviar o clima, antes do início dos trabalhos para o Grande Prêmio do Canadá, a McLaren convocou uma coletiva de imprensa no Grand Hotel de Montreal, abrindo espaço para as explicações da Honda. Examinamos os dois motores depois de Mônaco e chegamos á conclusão de que a perda de potência foi muito pequena, e, portanto, considerada aceitável pela Honda, garantiu o porta-voz da gigante nipônica, O ruído apontado por Ayrton nada tinha a ver com o motor, e achamos que só pode ter sido provocado por algum outro componente.
Só que a resposta não convenceu Senna, que manteve sua posição – para desespero dos departamentos de relações públicas da Honda e da McLaren. Acho que tenho experiência suficiente para perceber que nós tivemos um problema em Monte Carlo e em outras situações este ano. Com toda certeza, o barulho que ouvi em Monte Carlo estava relacionado com o motor.
O APAZIGUADOR
No dia seguinte, entrou em cena a figura de Ron Dennis, que puxou a responsabilidade para a McLaren. Não quero dizer com isso que Ayrton não ouviu barulho nenhum. É claro que ouviu. Mas nós ainda não descobrimos de onde veio o ruído. Confio, porém, na palavra da Honda. Se eles disserem que o motor não tem problema, eu acredito.
O manda-chuva da McLaren também elogiou o nível de maturidade do brasileiro, algo que, de acordo com ele, o distanciou ainda mais dos outros competidores como o melhor do circuito. Ayrton reduziu dramaticamente no fim do Grande Prêmio de Mônaco, para não forçar o motor e o carro. Teve problemas com o motor em Phoenix e aqui mesmo em Montreal, ano passado. Hoje, tem consciência de que ganhar por 1 segundo não desmerece a vitória.
E garantiu entender as críticas de Senna, cujo contrato com a McLaren venceria no final da temporada. Para Dennis, a postura de Senna tinha também a ver esse período de renegociação, no qual os pilotos tentam chamar a atenção para seus talentos. Eu, se fosse o Ayrton, faria o mesmo. Ele vem dando a entender que a diferença entre a McLaren e as outras equipes se deve, hoje em dia, á sua competência como piloto, e não ao chassis ou ao motor.
Mas eu digo também que há muitos pilotos que podem vencer se correrem pela McLaren.
CACHIMBO DA PAZ
Coincidência ou não, após a vitória no Canadá, Senna mudou o discurso e elogiou a McLaren, creditando a vitória ao bom desempenho do carro – apesar de fazer questão de registrar que teve um problema na primeira marcha. A verdade é que não fiquei sem a marcha por ela ter quebrado. Quando engatei a primeira, logo que puseram o carro no chão, ouvi um barulho imenso, assustador. Achei que o problema poderia ter consequências maiores e passei a usar a segunda no hairpin, a curva mais lenta do circuito. No warm up, os carros titular e reserva ficaram sem a primeira. Coincidência ou não, isso precisa ficar registrado. Felizmente, o carro funcionou bem até o fim.
Sobre a vantagem aberta sobre o Prost na tabela (31 pontos a 14), Ayrton não deixava nenhum tipo de empolgação lhe subir á cabeça. Não posso nem devo pensar nisso agora.
É muito cedo para que eu possa me sentir campeão, estou longe de poder falar em título. Estou satisfeito com meu desempenho. Em cinco corridas, ganhei três e liderei em todas.
Mas isso é agora. Ainda há muito chão pela frente e o sucesso vai depender das condições de competição que eu tiver.