Ayrton Senna da Silva nasceu em São Paulo, no dia 21 de Março de 1960.
Filho de Milton e Neide Senna, proprietários de uma loja de peças de automóveis, tomou o gosto pela velocidade desde cedo; aos 13 anos, era o rei das corridas de kart em Interlagos.
No kart, Senna ganhou tudo: título brasileiro, sul-americano e mundial.
Confiando na sua capacidade e com auxílio financeiro do pai, fez as malas e rumou para a Inglaterra disputar a Fórmula Ford 1600 – conquistou o vice-campeonato, ficando para a história como a única categoria em que não foi campeão.
Os anos na TOLEMAN
Mas o começo de sua obsessão pela vitória foi em 1982: campeão de Fórmula Ford 2000. Em 83, arrasou na Fórmula 3, sendo campeão e quebrando todos os recordes da categoria. Senna ganhou tantas corridas em Silverstone (o mais tradicional autódromo inglês, onde a maior parte das corridas de F2000 são disputadas) que a pista foi batizada de Silvastone, graças ao seu sobrenome genuinamente brasileiro.
Com essas credenciais, foi fácil fechar contrato com uma escuderia pequena, a TOLEMAN, disputando o primeiro Mundial em 1984 – sendo considerado a grande promessa da temporada. Logo de cara, assombrou o mundo com seu arrojo e determinação. Quem era aquele jovem franzino que conseguia extrair tanto do carro tão ruim?
Mas nessa temporada em Mônaco, veio a consagração: debaixo de chuva forte, quase ganha a sua primeira corrida de sua carreira. Alain Prost – que estava em primeiro – andava devagar, com Senna na sua cola, ultrapassando todo mundo com seu Toleman. Quando estava prestes a passar o francês, o diretor da prova, o belga Jacky Ickx, interrompeu, alegando falta de segurança. Ficou um mal cheiro no ar. A corrida foi terminada com os dois lutando praticamente juntos. Senna ficou com o segundo lugar, mas com sabor de vitória.
Esse episódio ficou conhecido nos anais da F1 como a francesada. Mas era tarde, nascia o mito!
A primeira vitória na Lotus
Depois de fazer seu nome na Toleman, acertou um contrato com a Lotus. Era bem melhor que a antiga escuderia – a Toleman acabou assim que Ayrton saiu – mas não era um carro confiável; andava bem em treinos mas quebrava muito nas corridas. Começou a fazer um número impressionante de poles, tirando o primeiro lugar da fila de monstros sagrados do automobilismo mundial – nada mais nada menos que Alain Prost, Nelson Piquet, Niki Lauda e Nigel Mansell!
Não tardou muito para aparecer a primeira vitória, o GP de Portugal chovia forte, e Senna andava mais que todo mundo – foi o começo da sua fama de piloto bom na chuva.
Ganhou fácil, e o Brasil, que estava acostumado com o bi-campeão Nelson Piquet, teve de ser acostumar com um outro nome: Ayrton Senna.
Quanto mais Senna brilhava, mais os inimigos apareciam. Prost não gostava dele desde o GP de Mônaco de 84, Piquet por causa de ter dividir as atenções do público brasileiro com ele, Mansell o detestava porque perdeu o lugar na Lotus para ele.
Senna estava cheio de inimigos. Mais tinha dois grandes amigos: a perícia e a velocidade.
Piquet, ótimo piloto e bom vivant, atacou Senna desde o começo: levantando dúvidas sobre o interesse de Ayrton pelas mulheres. Tudo isso porque Senna passava mais tempo nos boxes do que os outros pilotos e era tímido, dando a impressão que não era muito chegado ao sexo feminino. Mas o que Ayrton se dedicava em tempo integral acertando a mecânica de sua máquina. Era o mais obstinado e o mais compenetrado dos pilotos, ficando horas discutindo com os mecânicos detalhes da suspensão, motor e aerodinâmica.
Com a Lotus, Senna disputou de 86 e 87 – ficando respectivamente em 4a lugar e em 3a lugar na classificação – mas sua fama crescia e a cama já estava feita: em 88 Ron Dennis contratou Ayrton para a segunda vaga de piloto da McLaren.
Os anos dourados da McLaren
Em 1988, a McLaren já tinha ganho três dos quatro últimos campeonatos (Niki Lauda em 84 e 85 e Prost em 86) mas vinha de uma derrota em 87 para a Williams com Nelson Piquet. Resolveu reforçar com Ayrton Senna fazendo dupla com Alain Prost, e contava com um dos melhores carros já construídos na história da F1: o McLaren/Honda Turbo.
Não deu outra, parecia um passeio de Senna. Oito vitórias em 16 provas e o primeiro título mundial. Nascia uma nova estrela.
A temporada de 1989, com Prost mordido com a ascensão meteórica de Ayrton, foi uma batalha sem fim. Ou melhor, com um fim histórico, o GP de Suzuka no Japão.
Faltando duas corridas para o fim da temporada, a dupla da McLaren chegou a Suzuka sem se falar, com duas equipes de mecânicos diferentes que não se comunicavam entre si. Senna precisava vencer as duas corridas que faltavam e Alain Prost só uma.
A corrida foi emocionante: era uma disputa doméstica dos dois pilotos da McLaren, com os outros sendo meros figurantes. Prost saiu na frente com Senna em segundo. Quando faltavam algumas voltas para o final, Ayrton deu o bote mas o francês fechou a porta: os dois se chocaram.
Prost ficou ali mesmo, confiante de que Ayrton já era e que o campeonato era dele.
Desesperado, Senna se arrasta até os boxes, troca os pneus e o bico do carro, volta com tudo passa todo mundo e ganha a corrida. A galera japonesa vai a loucura. Foi o pódio mais emocionante que a torcida brasileira jamais viu.
Mas a alegria durou pouco. O então presidente da FIA, o francês Jean Marie Ballestre, confiscou a vitória de Senna, dizendo que Ayrton Senna utilizou-se de ajuda ilegal de fiscais para retornar a pista. Prost se torna campeão por antecipação e troca a McLaren pela Ferrari.
Ayrton começou a insinuar que houve favorecimento ao piloto francês, num repeteco da francesada, ocorrido a cinco anos antes de Mônaco. O cartola Ballestre ameaça caçar a licença de Senna, que resolve calar a boca e dar a troco da única maneira possível na pista.
Em 1990, veio a vingança: no mesmo autódromo de Suzuka, a mesma situação do que há um ano, só que ao contrário. Desta vez era Prost que precisava ganhar de todo jeito para manter as chances de se tornar campeão daquele ano. Senna só precisava não deixar Prost ganhar que seria bi. Os dois largaram na primeira fila, e logo na primeira curva, Prost força a passagem e Senna não dá espaço. Os dois batem e saem da pista. Moral da história: Senna bicampeão, da mesma maneira de Prost no ano anterior.
O tão esperado tricampeonato de Senna veio finalmente em 1991: com seis vitórias, esta temporada foi marcada por uma disputa acirradíssima entre Senna e Nigel Mansell.
Foi nesse ano que o piloto brasileiro sofreu os dois acidentes que mais marcaram a sua carreira: um no México e outro na Alemanha. No circuito mexicano de Hermanos Rodrigues, Senna acelerava forte, e, na entrada da curva Peralta, o carro ficou de cabeça para baixo na caixa de brita depois de capotar. O outro foi em Hockenheim, quando sua McLaren capotou várias vezes.
Esses acidentes marcaram muito a personalidade de Senna. O que não impediu o tricampeão de extrair tudo da máquina, andando sempre no limite mecânico do carro.
Para o delírio absoluto dos fãs brasileiros, Senna conquistou pela primeira vez o GP Brasil de Fórmula 1, mantendo a liderança nas últimas voltas com apenas a sexta marcha do carro em funcionamento. Ayrton teve que fazer um esforço brutal para chegar ao final em primeiro, o que deixou com o corpo bastante dolorido – tanto que ele passou mal conseguiu levantar o troféu de campeão da prova. Com esta primeira vitória no Brasil, Ayrton Senna foi aclamado o mais novo herói nacional.
O campeonato de 1991 só foi decidido na última prova, pra variar no autódromo de Suzuka no Japão. Tanto Ayrton quanto Mansell tinham chances de se tornarem campeões. Só que o leão facilitou as coisas, rodando e abrindo caminho para Senna consumar o tricampeonato. Ayrton terminou a prova em segundo lugar, porque resolveu deixar Berger passá-lo a poucos metros do final. Como escudeiro de Senna ao longo de toda a temporada, Berger foi presenteado com uma vitória que não esperava.
Ayrton se sagrou tricampeão em 1991 com 31 anos de idade, sendo o mais jovem piloto a conquistar o tri.
O perigo das novas regras
A FIA (Federação Internacional do Automobilismo) tentava desesperadamente tornar o Mundial de F1 mais emocionante.
As alterações implementadas pela entidade ocorreram exclusivamente com o objetivo de barrar os avanços tecnológicos surgidos nos últimos anos.
São novidades como a suspensão ativa (que deixa o carro a uma distância regular do solo, evitando que ele trepide e perca a aderência), controle de tração (que distribui a potência do motor nas rodas traseiras conforme a necessidade momentânea, evitando a derrapagem), o câmbio automático.
Além de barrar a tecnologia, outras novidades surgiram: o reabastecimento durante a prova (artifício que já havia sido usado antes na F1, mas que foi retirado por causa de inúmeros incêndios que provocava), e o estreitamento na largura dos pneus – o que gerou reclamações e diminuiu a estabilidade dos carros.
Com todas estas modificações, as grandes equipes se nivelaram e as corridas ficaram mais emocionantes. Mas a Williams foi a grande prejudicada. E Senna acabou pagando com a vida.
A entrada na Williams
As expectativas de Senna para o mundial de 1994 eram as melhores possíveis. Era o maior piloto da F-1, estava na melhor equipe – a Williams – e era o único campeão em atividade. Favorito absoluto.
Durante os teste de pré-temporada, Senna já havia constatado que o carro era bom, mas que precisaria de alguns ajustes para se tornar perfeito.
A Williams já não era o mesmo carro que deu o tetracampeonato a Alain Prost em 1993; as mudanças da FIA para tornar o Mundial mais competitivo arrasaram com o projeto de equipe.
A temporada de 1984 teve início em Interlagos. Nos treinos, Senna mostrou que mesmo sem ter acertado totalmente o carro, poderia vencer a corrida. Conquistou a pole position, com Schumacher em segundo.
Senna liderou a corrida até a parada no box, e Schumacher assumiu a liderança. Durante o resto da corrida, Senna estava virando cada vez mais rápido, tentando alcançar Schumacher. Mas Ayrton acabou rodando as poucas voltas do final – seu motor apagou e ele nem pontuou.
A segunda corrida da temporada foi em Aida, no Japão. Senna fez um bom treino, conseguindo a pole position novamente, só que reclamando muito do carro.
A Williams tinha pouca instabilidade, e o asfalto do autódromo estava muito ondulado, o que prejudicava muito a performance do carro.
Desta vez a esperança de todos os brasileiros e de Senna foi por água abaixo logo nos primeiros metros da prova. Ayrton Senna largou mal, permitindo a Schumacher assumir a liderança.
Logo na primeira curva, o piloto da McLaren Mika Hakkinen tocou no carro de Senna por trás, fazendo com que o brasileiro rodasse e saísse da prova.
Quando o tricampeão chegou aos boxes, reclamou muito da forma como os pilotos novatos estavam guiando e cobrava uma atitude da FIA, para tornar o campeonato mais seguro.
Morre o piloto, nasce a lenda
Foi o final de semana mais sangrento da história da F1. Deu tudo errado em Ímola. A bruxa estava solta. Tragédia via-satélite para o mundo inteiro.
Durante testes anteriores nessa mesma pista – antes do início da temporada – Senna já havia reclamado das condições da pista, porque é um circuito extremamente veloz e com pouca segurança.
Definitivamente, havia algo no ar. No treino de sexta, Rubens Barrichelo foi vítima de um sério acidente; o carro levantou vôo e foi arremessado contra o muro de proteção, capotando algumas vezes. Mas Rubinho só sofreu ferimentos leves no nariz, boca, braço direito e costelas. Senna foi o único piloto a ir ao local do acidente e a visitá-lo no hospital – o que deixou Rubinho extremamente feliz. Senna era seu maior ídolo.
Nas tomadas de tempo de sábado, o piloto da equipe Simtek, Roland Ratzemberger, perdeu o bico do carro e foi de encontro ao muro de proteção. O socorro veio rápido e Ratzenberger foi levado ao hospital Maggiore, em Bolonha, mas não resistiu os ferimentos e morreu. Segundo os médicos, o piloto da Simtek faleceu alguns minutos depois da batida.
Logo depois que Ratzemberger foi retirado, Senna foi ao local do acidente cobrar explicações dos fiscais de prova, e voltou a reclamar da falta de segurança da pista.
Ayrton já tinha conseguido a pole position, e devido a morte do colega, não voltou a treinar. Sua decisão foi seguida por Damon Hill e também pelos pilotos da Benneton. Na noite anterior ao GP, em telefonema para a sua namorada Adriane Galisteu, Senna disse que não queria correr – estava com um pressentimento ruim.
Logo na largada, o primeiro acidente: Pedro Lamy, da Lotus, entrou na traseira de J.J. Letho, da BENNETON. Mas era só o começo. O pior, o inimaginável, estaria por vir.
Quando a corrida recomeçou, Senna liderava com Schumacher na cola. Ritmo forte, os dois andando no limite, distanciando-se dos outros pilotos. Ayrton fechou a primeira volta oficial – em primeiro, e logo a frente tinha uma curva relativamente fácil, a Tamburello……
De repente, o carro de Senna dá uma guinada para direita, e ele bate no muro de proteção a mais de 300 km/h.
O Brasil parou. Ayrton Senna da Silva acabou sua carreira num muro ínfimo em relação a tudo que fez como piloto e as muitas bandeiradas que ainda teria pela frente. O Brasil chorou de dor.
Era só o que faltava para ele se transformar no melhor piloto de todos os tempos.
O Brasil nunca será mais o mesmo.
Morreu o ídolo do automobilismo.
Nasceu a lenda. A ganância matou Ayrton Senna da Silva.
Uma curva traiçoeira e um muro. Um carro com a suspensão avariada. Velocidade. E o país passa o domingo mais triste de muito tempo.
Ninguém acreditou. Maior porrada. Quem assistiu a corrida, viu a cena que gelou a espinha. Senna morreu? Morreu! Deus!
Morreu o ídolo. Morreu o cara que levava o carro aos limites. Morreu o piloto que sempre driblou a morte. Era só um driblezinho, a esquerda.
Daqueles, que você sempre teve a moral de fazer. Na boa. Não. Passou reto. Curva reta. E o adeus. O Brasil ficou orfão.
Pudessem falar o que fosse. Que ele era metido, maquiavélico, gênio da mídia e etc… intriga da oposição. E também não importa. O que realmente importava que ele era bom. Bom é pouco. Era simplesmente um gênio.
Senna pilotava como ninguém. Limite puro. O máximo fisicamente tolerável. Todo brasileiro que gosta de dirigir, que gosta de falar sobre carros, que gosta de corridas, reconhece o talento insuperável de Ayrton Senna da Silva. O ídolo supremo. Extraía tudo da máquina. Traído por uma suspensão quebrada. Descontrole e morte.
E o Brasil, pego de surpresa em um domingo ensolarado, chorou como menino.
Tele Santana foi preciso: Cobriram o Brasil com um pano negro. Esse fim trágico, causado em grande parte pela irresponsabilidade dos senhores – vamos dar nome aos bois – Bernie Ecclestone e Max Mosley, que na ânsia estúpida de nivelar as corridas, criaram verdadeiras máquinas assassinas, instáveis, com pouca estabilidade aerodinâmica, pneus estreitos, verdadeiros homicídios potenciais. Espero que esses sujeitos morram lenta e dolorosamente, no ostracismo e no sofrimento de quem fez um dano irreparável.
No futuro, como os americanos a respeito da morte de JFK, nos perguntaremos: onde você estava no dia que Ayrton Senna da Silva morreu? Ninguém esquecerá.