O campeão Mansell tentou ajudar Patrese, mas ambos quebraram e Senna venceu; ao final da prova, o inglês anunciou que sairia da equipe.
Marcado para 13 de setembro de 1992, o Grande Prêmio da Itália, 13a das 16 etapas do Mundial de Fórmula 1, seria a primeira prova em que Nigel Mansell correria na condição oficial de campeão do mundo – o inglês havia conquistado o título com (muita) antecipação na etapa anterior, o Grande Prêmio da Hungria. Apesar de ter tirado esse peso das costas, Mansell não estava exatamente livre, leve e solto nos dias que antecederam a corrida em Monza. A novela de sua permanência na Williams continuava, e ele não escondia seu inconformismo pelo fato de a equipe inglesa ter costurado um acordo para 1993 com Alain Prost ainda com a temporada em andamento.
De qualquer forma, a missão (secreta) que Mansell havia assumido para a corrida no circuito da Lombardia era a de ajudar i italiano Riccardo Patrese, segundo piloto da Williams e seu escudeiro ao lango do vitorioso ano, a vencer sua primeira prova na temporada. O jogo de equipe havia sido combinado entre os pilotos no box da Williams, e o primeiro passo para sua concretização era que ambos largassem na primeira fila. Nos treinos, Mansell fez sua parte e conseguiu a pole position, com 1m22s221. Mas Ayrton Senna, com 1m22s822, colocou sua McLaren á frente de Patrese, que se complicou ainda mais e perdeu também a terceira posição no grid para Jean Alesi, da Ferrari.
Recuperação imediata Patrese, porém, compensou o mau desempenho nos treinos com um excelente início de prova. Recuperou a posição de Alesi na primeira volta e partiu pra cima de Senna, fazendo a ultrapassagem sem maiores problemas na 14a volta. Estava montado o cenário para a troca de posições entre os pilotos da Williams: Mansell desacelerou até que a diferença de 20 segundos entre ele e Patrese se evaporasse. E assim, na 20a volta, o inglês deu passagem ao companheiro de equipe. A partir de então, a função de Mansell seria a de segurar Senna e garantir a vitória tranquila de Patrese.
O roteiro corria sem imprevistos até a volta 40 (de um total de 53), quando Mansell, com um problema hidráulico, precisou abandonar a prova. A partir daquele momento, Patrese precisaria segurar Senna apenas com as próprias forças – o que, a bem da verdade, não deveria ser um problema, já que sua Williams tinha um desempenho muito superior á da McLaren de Senna. O brasileiro, por sua vez, seguia seu próprio ritmo, torcendo por um erro do italiano ou uma falha da Williams.
E foi está segunda hipótese que aconteceu na volta 48. O problema hidráulico que acometeu Mansell se repetiu no carro de Patrese, que pouco a pouco foi perdendo velocidade. Senna não desperdiçou a oportunidade e tomou a ponta para não mais perdê-la. Foi a 36a vitória da carreira de Ayrton, a segunda no autódromo de Monza.
Pensei: está é uma corrida dura, tenho de manter o máximo de rendimento sem forçar o carro. Depois de algumas voltas percebi que, mantendo o ritmo forte, as Williams não fugiam. Notei também que, quando havia tráfego, eu me aproximava. E quando isso acontecia eu procurava manter pressão, explicou Senna, que ainda revelou ter passado por um susto. Na metade da corrida, o escapamento quebrou. Não tinha jeito, a não ser tentar maneirar para chegar. Fui maneirando e vi o Mansell andando devagar. Depois, Ricciardo. E disse pra mim: ótimo, aqui vamos nós. Passei a andar longe das zebras para que o carro não sofresse vibrações que pudessem soltar ainda mais o escapamento. Cheguei a pensar que não ia dar.
CLIMÃO
Não deu para a Williams, que viveu um domingo pra lá de frustrante, a começar pelo desapontamento de Mansell e de Patrese. Havia feito um acordo com Patrese para fazê-lo vencer. Deixei-o passar e estava disposto a funcionar como seu guarda-costas. Conversamos antes da corrida e ele deixou claro que gostaria de ganhar em Monza. Afinal, ele é italiano. Fiquei muito feliz em poder ajudá-lo. Riccardo me ajudou muito durante todo o ano e queria retribuir a cortesia, afirmou Nigel Mansell. Fazia uma corrida muito tranquila e, de repente, um problema hidráulico fez com que o câmbio ficasse bloqueado na sexta marcha. Quando cheguei aos boxes e me disseram que Patrese estava com problemas, lamentei muito.
Patrese terminou em quinto, e essa não foi a pior notícia do dia. Após a prova, Mansell leu um comunicado aos jornalistas em que anunciou sua aposentadoria da Fórmula 1, citando uma decepção tremenda com a diretoria da Williams. Eu não me sinto mais, até onde posso perceber, que haja interesse da equipe em que eu fique para o próximo ano. Com isso, o Campeão Mundial de Fórmula 1 dizia adeus á categoria – em 1993, disputaria a temporada norte americana de Fórmula Indy.