BALANÇO DA TEMPORADA DE 1989; PINGOS NOS “IS“

Ayrton Senna, balanço da temporada de 1989

Na volta ao Brasil após a última prova do campeonato, Senna detalhou os problemas com Prost e deixou em aberto a permanência na Fórmula 1.

O campeonato de 1989 tinha chegado ao fim, mas seus desdobramentos ainda não. Tão logo voltou a São Paulo, depois do Grande Prêmio da Austrália, Ayrton Senna fez questão de conceder á imprensa sua tradicional coletiva de encerramento do ano. Dessa vez, o evento aconteceu no Della Volpe Hotel, no dia 9 de novembro, e o piloto não saiu pela tangente em momento algum, abrindo o jogo sobre todas as brigas e polêmicas da conturbada temporada. Aos jornalistas, Senna só não conseguiu dar uma resposta, justamente para a pergunta que todos se faziam naquele final de ano: Ayrton Senna vai mesmo abandonar a Fórmula 1?.

Após a subtração de sua vitória no Grande Prêmio do Japão e a suspensão de seis meses com sursis imposta pela Federação Internacional de Automobilismo ( FIA ), o piloto havia indicado que considerava seriamente não retornar ás pistas em 1990. Naquele momento, porém, nenhuma decisão havia sido tomada em definitivo. Eu pediria que vocês não me perguntassem isso agora. Não sei se paro de correr. Preciso de tempo para pensar se a minha paixão pelo esporte compensa os sacrifícios que tenho de passar por ele. É hora de descansar e refletir, ponderou.

Quando lembrado de que seu contrato era válido até o final de 1990, Senna foi enfático ao dizer que qualquer decisão que tomasse seria irrevogável. Não há papel no mundo que obrigue a correr. A McLaren sabe disso.

PROST

Senna falou com franqueza sobre os problemas de relacionamento com o francês Alain Prost. Como piloto, ele é tecnicamente muito bom. Como homem, não consegue aceitar que alguém seja melhor do que ele, afirmou. Durante a temporada, Prost fez inúmeras críticas á McLaren e á Honda, acusando-as de lhe dar um equipamento supostamente inferior ao de Senna.

Em análise retrospectiva, o brasileiro percebeu que foi prejudicado por não ter se manifestado sobre essa situação. Eu deveria ter cobrado uma postura pública da Honda e da McLaren a meu favor. Se eles tivessem rebatido as reclamações do Prost desde o início, como fizeram a partir de Monza, o campeonato seria meu, explicou. Fui macio demais e paguei pelo silêncio. E o meu carro é que quebrava.

BALESTRE

Apontado como responsável tanto pela decisão de desclassificação Senna em Suzuka quanto pela punição que lhe foi aplicada nos tribunais, o francês Jean-Marie Balestre, presidente da FIA, também não escapou dos comentários diretos de Ayrton, que o definiu como irresponsável e arbitrário.

O Balestre queria dar o título ao Prost, disparou, sem rodeios. Já em Monza ele foi a público reclamar que o meu motor era 20 hp mais potente que o do Alain. De onde ele tirou este número eu não sei, porque nem a Honda sabe qual é a diferença exta de potência de um motor para o outro. Além do que, 20 hp é demais, é a nossa diferença em relação aos Ferrari e Ford. Para Senna, razões patrióticas e de amizade explicavam essa postura nada imparcial de Balestre.

SUZUKA

Ayrton recapitulou o acidente em Suzuka, que, no final das contas, decidiu o campeonato em favor do rival. Afirmou que a investigação da McLaren concluiu de forma inequívoca que Prost saiu de sua trajetória para atingir sua McLaren – imagens captadas de um helicóptero sustentaram essa afirmação.

Além disso, para Senna, a postura após a colisão entregou as reais intenções do francês. Ele desceu do carro como se dissesse: Pronto, está tudo acabado. Ele poderia ter voltado á prova e vencido, pois seu carro, ao contrário do meu, não teve nenhum dano na batida. Ele preferiu esse caminho, só que não teve competência para imaginar que eu poderia religar o motor, voltar, trocar o nariz do meu carro e vencer, como fiz.

Senna ainda revelou um momento tenso na sala dos comissários na Torre de Suzuka, quando a direção de prova avisou a ele de sua desclassificação. O brasileiro relatou que Prost, cinicamente, lhe disse. Lamento que tudo tenha acontecido assim. Nessa hora, Senna afirmou que teve vontade de comer Prost vivo. Nada fala nada! Não quero ver você na minha frente!, respondeu Ayrton, rapidamente.

Apesar de o ano ter sido pesado demais – pressões, estresse, deslealdade. Senti tudo isso na carne, Senna afirmou que estava orgulhoso de seu comportamento. Hoje, quando me olho no espelho, vejo um cara tranquilo, em paz, que nada deve a ninguém. Não sei se há pessoas que participaram desse campeonato, dentro ou fora das pistas, que possam dizer o mesmo, sentenciou. Foi a temporada mais dura da minha vida. Mas, como homem, acho que saí 10 vezes maior do que no ano passado.

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