DIAS ATRIBULADOS EM ZANDVOORT; FAÍSCAS PARA TODOS OS LADOS

Ayrton Senna no GP Holanda 1985

Ayrton Senna superou problemas com os comissários, com o carro e com os rivais para conseguir um importante terceiro lugar no GP da Holanda.

Ayrton Senna nunca foi um queridinho dos comissários de prova ou das autoridades do automobilismo. O fato de confiar demais em seus instintos, seja dentro ou fora da pista, o colocou diversas vezes em rota de colisão com os cartolas – que o consideravam, para dizer o mínimo, um sujeito desobediente. Na Fórmula 1 , ao menos de forma oficial, um dos primeiros desencontros aconteceu no Grande Prêmio da Holanda de 1985.

No primeiro treino da manhã de sexta-feira, 23 de agosto, após um princípio de incêndio em sua Lotus, o brasileiro decidiu retornar aos boxes ao invés de esperar um fiscal com um extintor – e cortou caminho por uma rampa de acesso proibida ao tráfego. Fiz isso para evitar que o fogo causasse danos mais sérios ao carro, que poderia espalhar óleo pela pista e obrigar a interrupção do treino. Acho até que colaborei com a segurança, justificou, de acordo com o relato do Jornal do Brasil de 24 de agosto.

A argumentação, contudo, não convenceu os comissários. Chamado á torre de controle, foi advertido e multado em 5 mil dólares – no câmbio da época, uma pequena fortuna: quase 35 milhões de cruzeiros. Quando a punição foi confirmada por uma nota oficial no centro de imprensa, Ayrton não quis se estender no assunto. Eu não pago. Se alguém quiser pagar, tudo bem, garantiu a Janos Lengyel, de O Globo. Azar de Peter Warr………

BOA CLASSIFICAÇÃO

Mesmo com problemas no carro, o saldo do primeiro dia em Zandvoort foi positivo. Senna foi o primeiro a entrar na pista e ficou satisfeito com sua volta de 1m11s837, que lhe valeu o quarto tempo do dia. Mais um pouco e o carro voava. Outra volta assim, nunca mais. Cada ondulação da pista era um perigo, explicou a O Globo, acrescentando que, para o dia seguinte, as coisas podiam melhorar. Na volta que me deu o tempo, não engatei bem a terceira, o câmbio voltou para o ponto morto e perdi um tempão. Sem isso e com um carro melhor regulado, o segundo treino pode ser bem mais proveitoso.

Entretanto, a exemplo do que já aconteceu nas duas etapas anteriores da temporada, a chuva atrapalhou o sábado, e assim os tempos de sexta-feira acabaram determinando as posições do grid.

NINGUÉM TASCA

Senna se deu muito bem com o erro de Piquet na largada; sem precisar desviar do estacionário conterrâneo, que estava do lado oposto da pista, o piloto da Lotus largou melhor do que Prost, seu companheiro de segunda fila, e pulou para a vice-liderança, atrás de Rosberg.

Com o desenrolar das voltas, porém, ficou claro o domínio das McLaren e seus motores Porsche. Depois de dois terços de corrida, Niki Lauda e Alain Prost estabeleceram-se definitivamente nas duas primeiras colocações, deixando para o restante dos pilotos a disputa pelo terceiro lugar. Senna era o dono dessa posição, e não estava disposto a negociá-la com ninguém, nem mesmo com Michele Alboreto, da Ferrari.

Nas últimas 12 voltas, o italiano foi se aproximando perigosamente do brasileiro, que sofria com um aquecimento dos radiadores por conta de um pedaço de papel que impedia a refrigeração ideal. Só sei que o carro esquentava, a temperatura subia cada vez mais. Foi por isso que não tentei nem resistir a Prost e Lauda quando me passaram. Não queria causar dano maior, até uma explosão do motor, declarou a O Globo de 27 de agosto.

A briga com Alboreto, com quem Senna já havia se enroscado em corridas anteriores, foi acirrada e durou literalmente até a bandeirada: o brasileiro cruzou a linha de chegada apenas 346 centésimos de segundo á frente do piloto da Ferrari. Ele não me passaria de jeito nenhum. E olhe que fez de tudo, bateu propositadamente, de nariz, no meu carro na última volta, de tanta raiva por não passar.

BOCA NO TROMBONE

Outro rival, este mais antigo, dos tempos de Fórmula 3, também apareceu no caminho de Senna na Holanda: Martin Brundle, agora na Tyrrell. Ele me atrapalhou, me prendeu durante quatro ou cinco voltas, esbravejou. E teve mais gente na sessão reclamação de Ayrton. O Mansell, com uma volta de atraso, também ficou me prendendo como se a vitória dele dependesse disso. Francamente.

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