DISPUTA ACIRRADA NO PRINCIPADO; ATRITOS DENTRO E FORA DA PISTA

Ayrton Senna, disputa acirrada no principado de Mônaco 1985

Senna abandonou a prova na liderança, mas o incidente com Alboreto no treino foi o assunto que mais deu pano pra manga no GP de Mônaco de 1985.

O final do treino de classificação para o Grande Prêmio de Mônaco, no sábado, 18 de maio de 1985, Ayrton Senna retornou para o box da Lotus insatisfeito. Nem parecia que, minutos antes, o piloto havia garantido mais uma pole position na temporada.

Primeiro, ele lamentou o fato de Patrick Tambay, da Renault, estar atravessando na pista naquela que teria sido sua volta mais rápida; no giro seguinte, os pneus já estavam mais gastos e o tempo, de acordo com o brasileiro, ficou aquém do ideal – mesmo tendo sido o melhor tempo de todos. Segundo, porque Ayrton estava uma arara com Michele Alboreto, da Ferrari. O Alboreto quase que me fez voar. Estávamos completando a Curva da Rascasse, ele tinha de entrar na reta e, em vez disso, foi me empurrando para que eu abrisse, e se eu não abro a batida seria inevitável, relatou a Janos Lengyel, que reproduziu o desabafo em O Globo do dia 19 de maio.

Seguindo os bons manuais do jornalismo, o correspondente do diário carioca foi ouvir o outro lado – e encontrou o italiano ainda mais possesso. Alboreto ficou revoltado com o fato de Senna, que fez sua volta rápida na primeira meia hora do treino, ter permanecido no circuito por mais 16 voltas, rodando e aumentando o tráfego. Ele não pode fazer isso, ficar na pista durante horas para atrasar todo mundo, depois de já ter garantido a sua vaga. Nunca vi igual em treino de classificação, disparou Alboreto, que admitiu ter feito a manobra que tirou o brasileiro do sério. Forcei o caminho, sim, já que não tinha dúvida dos propósitos de Senna.

Niki Lauda fez coro as reclamações de Alboreto, e, na qualidade de presidente da Associação de Pilotos de Fórmula 1, prometeu chamar Ayrton para dar explicações na etapa seguinte, na Bélgica. Quando Senna tentava seu melhor tempo e eu o percebi pelo retrovisor, quase parei meu carro para que ele passasse. Mais tarde, quando chegou a minha vez de buscar uma marca melhor, encontrei Senna andando tão devagar, pelo meio da pista, que meu único recurso foi frear para não bater. Este é um tipo de comportamento que não compreendo, principalmente partindo de um piloto como ele, sem dúvida alguma a maior revelação da Fórmula 1 nesta temporada, declarou ao jornalista Mike Doodson, da Associated Press.

Doodson também fez sua lição de casa e foi ouvir Ayrton Senna. O que aconteceu é que fui para a pista com pneus mais duros, que permitiram dar mais voltas do que eles, que tinham pneus mais moles, que duravam poucas voltas. Assim, toda hora eles estavam me encontrando, explicou.

AZAR DEMAIS

No domingo do Grande Prêmio, novamente a frustração marcou o retorno de Senna ao box da Lotus – dessa vez, por causa de mais um abandono forçado quando estava ponteando a prova. Depois do Brasil e da incrível história de Imola, mais essa é azar demais, principalmente porque fiz tudo certo, cheguei a pole position, larguei na frente, liderei a prova como queria. Mais do que seria impossível, afirmou em O Globo de 20 de maio.

POLÊMICAS E BOATOS

Dois dias depois da corrida, Senna já estava no circuito de Paul Ricard, na França, testando os pneus para a sequência do campeonato. O assunto dos treinos de classificação em Mônaco, porém ainda dava pano pra manga, e Ayrton voltou a rebater os rivais. Me acusam também de ter andado devagar, mas isso não é verdade e pode ser verificado nos registros de cada carro. Eu fui o pole position e era realmente o mais rápido, tanto que na última volta repeti o tempo que me garantiu a melhor colocação na largada, afirmou no Jornal do Brasil de 23 de maio. Não é do meu feitio a deslealdade e nunca tive o propósito de voluntariamente prejudicar alguém.

Com o tempo, a questão esfriou, e novas polêmicas surgiram, como a suposta negociação entre Ayrton e Enzo Ferrari para uma transferência do brasileiro para a escuderia de Maranello. Eu comecei a temporada na Lotus, estou indo bem e vou correr todas as provas até o ano que vem. Esses boatos não têm fundamento, esclareceu em O Globo de 12 de junho. Mas confesso que tenho muita vontade de conhecer o Comendador e penso em comprar uma Ferrari.

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