A morte de Colin Chapman desnorteou a Lotus, mas a mão firme de Peter Warr e o talento do projetista Gérard Ducarouge recolocaram a equipe nos trilhos.
Nuvens carregadas pairavam sobre a Lotus no final de 1982. Quatro infrutíferas temporadas haviam se passado desde o último título da escuderia; nesse ínterim, em quase 60 Grandes Prêmios disputados, seus carros conseguiram uma única vitória. Nos últimos dois anos, a equipe havia terminado em sétimo e sexto lugares no mundial de construtores, posições constrangedoras que colocavam ainda mais pressão sobre a empresa, naquele momento a beira de um terremoto institucional. O governo britânico fechava o cerco para recuperar 10 milhões de libras que havia investido em 1978 no desenvolvimento de um carro de aço inoxidável que nunca saiu do papel, uma parceria da Lotus com a norte-americana DeLorean, cujo dono fora preso em outubro daquele ano por narcotráfico.
Parecia que as coisas não poderiam piorar. Mas pioraram.
Na noite de 16 de dezembro de 1982, Colin Chapman sofreu um ataque cardíaco fulminante, em Nortfolk. Aos 54 anos, o fundador da Lotus estava morto. E a temporada de 1983 batia a porta.
SUCESSOR A ALTURA
Diante do choque, Hazel, viúva de Colin, e seu filho Clive optaram pelo caminho seguro, deixando o comando da equipe a cargo de Peter Warr, braço-direito de Colin Chapman havia décadas. Ex-oficial do Exército, formado na famosa academia de Sandhurst, e ex-piloto de corridas – chegou a vencer o Grande Prêmio do Japão de Formula Junior em 1963 -, Warr atuava como manager na Lotus desde outubro de 1969.
Havia sido peça fundamental na engrenagem que gerou os títulos de Jochen Rindt, e, 1970, e de Emerson Fittipaldi, em 1972. Em 1976, trocou a Lotus pela Wolf Racing, passando para a Fittipaldi no final de 1979, mas dois anos depois já estava de volta á Lotus, convencido pelo próprio Chapman, que chamou sua ausência de período sabático. Agora, era Warr que teria de dar um jeito de superar a ausência definitiva de Chapman.
O MILAGRE DE DUCAROUGE
Apesar de Warr ter conseguido manter a equipe unida e motivada, o início da primeira temporada sem o fundador foi terrível. Os novos modelos entregues para os pilotos tiveram desempenho pífio – tanto a Lotus 92 de Nigel Mansell, ainda com motores Ford-Cosworth, quanto o Lotus 93T de Elio de Angelis, já equipado com o turbo Renault. Das sete corridas do italiano, seis terminaram em abandono e uma na nona posição. Já o inglês teve como melhor colocação um mísero sexto lugar.
A situação começaria a mudar com a chegada do engenheiro Gérard Ducarouge, na metade da temporada. Seus trabalhos na Ligier e especialmente na Matra, onde desenhou carros que venceram dois mundiais de Endurance, já haviam chamado a atenção da dupla Chapman-Warr nos anos 1970. Em maio de 1983, após o Grande Prêmio da Bélgica, Ducarouge aceitou a proposta de Warr – e já começou a correr contra o relógio: até julho, quando vencia o contrato de patrocínio com a Imperial Tobacco, a equipe precisava de uma carro que revertesse a maré de fracassos. Caso os resultados negativos persistissem, eram grandes as chances de a patrocinadora buscar novos ares – o que representaria, na prática, o fim da divisão esportiva da Lotus.
Assim, no prazo insano de pouco mais de cinco semanas, Ducarouge finalizava seu primeiro modelo: o 94T. Ao contrário do que poderia se supor, o carro não era uma evolução dos últimos modelos da Lotus – e sim um novo bólido montado sobre a estrutura do Type 91, que havia estreado no início da temporada de 1982. Nova suspensão, nova caixa de câmbio, nova célula de combustível e, claro, toda a adaptação para o motor Renault V6. Em sua estreia, no Grande Prêmio da Inglaterra, no dia 16 de julho de 1985, o 94T fez bonito: Nigel Mansell conseguiu a quarta colocação diante da torcida da casa – e, mais importante, convenceu a patrocinadora a renovar o contrato com a Lotus por mais três temporadas.
Mesmo que o carro tenha encontrado muitos problemas no restante do ano – o que era natural, diante de sua construção expedita -, o 94T ainda levaria Nigel Mansell a um muito comemorado pódio no GP da Europa, em Brands Hatch, na penúltima etapa do calendário. A Lotus conseguia, finalmente, enxergar a luz no fim do túnel.