Na estreia do novo traçado de Nurburgring, o novato brasileiro pisa fundo e deixa para trás nada menos do que nove campeões mundiais de Fórmula 1.
Oito anos depois, era chegada a hora de Nurburgring olhar para frente. Não que se fosse possível esquecer o terrível acidente que, no fatídico primeiro de agosto de 1976, havia deixado Niki Lauda entre a vida e a morte no hospital, após a explosão de sua Ferrari na curva Bergwerk.
Mas assim como o piloto austríaco, que não apenas voltou as pistas como ainda venceu mais um título do Mundial de pilotos no ano seguinte, o autódromo alemão, um dos mais tradicionais da Fórmula 1 – desde que, claro, devidamente remodelado e com condições ideais de segurança.
Foi o que foi feito: um novo traçado. de 4,5 km, foi projetado e construído para substituir os quase 23 km da antiga e perigosa pista usada na Fórmula 1, apelidada por Jackie Stewart de inferno verde. Com modernas e renovadas instalações, Nurburgring finalmente se reencontraria com a categoria em 1984, como palco de Grande Prêmio da Europa de 1984, programado para 7 de outubro. Antes, entretanto, era preciso celebrar oficialmente a reinauguração da pista – e assim, em parceria com a Mercedes-Benz, os alemães promoveram a Corrida dos Campeões, a ser disputada no domingo, 13 de maio de 1984.
O nome não podia ser mais adequado. Nada menos do que nove campeões mundiais de Fórmula 1 estavam entre os os 20 participantes: Niki Lauda, Keke Rosberg, Jack Brabham, John Surtees e Dennis Hulme. Completando o grid de largada estavam outras estrelas da Fórmula 1, como Alain Prost, Carlos Reutemann, Elio de Angelis e Jacques Laffite, além da grande sensação da categoria naquele ano, o brasileiro Ayrton Senna. Para deixá-los em igualdade de condições, a organização entregou a cada um dos convidados o mesmo carro: o sedã Mercedes 190E 2.3-16, com motor de 2,3 litros e 16 válvulas. A diferença estaria mesmo no braço de cada piloto.
DUELO DE GERAÇÕES
Mais de 100 mil pessoas foram a Nurburgring para acompanhar a prova, que teria duração de 12 voltas. Com um tempo de 2m5s92, Alain Prost havia garantido a pole position, seguido por Reutemann, Senna e Hulme. Mas o francês perdeu a ponta antes do final da primeira volta, quando patinou e permitiu a passagem do argentino. Na volta seguinte, porém Alan Jones já havia pulado para a primeira posição, ultrapassando Reutemann e Senna. Niki Lauda, que largara na turma do fundão porque não participara das tomadas de tempo, jantava com voracidade os adversários e já chegava também ao pelotão de frente.
Para uma disputa comemorativa, a Corrida dos Campeões estava animada até demais. Com o tempo, a disputa pela liderança ficou mesmo entre Senna e Lauda, em um duelo entre dois dos mais determinados competidores de suas gerações. E, ao menos aqui, o veterano bicampeão mundial de Fórmula 1 não conseguiu alcançar o jovem que, naquele ano, estreava na categoria. Senna em primeiro, Lauda em segundo, Reutemann em terceiro: uma sequência que soava como uma realidade imaginária para o brasileiro. Nunca me passou pela cabeça que eu um dia estaria ocupando o primeiro lugar num pódio ao lado de um Lauda, Rosberg, Reutemann e ouvindo o Hino Nacional Brasileiro e vendo a bandeira da nossa terra ser içada a minha frente, declarou Senna.
SABEDORIA GERMÂNICA
A vitória de Ayrton também deixou Gerd Kramer, organizador da prova, com um sorriso de satisfação nos lábios. O alemão havia sido questionado pela decisão de convidar para a prova o novato brasileiro, em detrimento de outros pilotos mais experientes. Hoje vocês puderam verificar o convite, declarou Kramer após a prova.
Temos certeza de que vitórias como a de hoje serão uma constante na vida desse jovem.