Em uma temporada de tirar o fôlego, Senna conquistou o título com autoridade e se credenciou, definitivamente, a pleitear um posto na Fórmula 1.
Dick Bennets comanda a West Surrey Racing, jovem escuderia que havia chegado ao título da Fórmula 3 inglesa em seu primeiro ano de atividade, 1981, pelas mãos de Jonathan Palmer. Na temporada seguinte, a equipe batera na trava: o argentino Enrique Mansilla ficou a apenas dois pontos do campeão, Tommy Byrne, da Murray Taylor. Mas a compensação viria logo. Ainda no final de 1982, o astuto Bennets convencera Ayrton Senna que semana antes havia se sagrado campeão inglês e europeu da Fórmula Ford 2000, a correr com um de seus carros em uma prova especial de Fórmula 3 – um evento televisionado pela BBC e que seria uma espécie de vestibular para os candidatos a ingressar na categoria.
Nessa corrida em Thruxton, dia 13 de novembro de 1982, Ayrton pilotou o carro de Mansilla. E, praticamente sem ajustes, já estava voando: conseguiu a pole e uma vitória tranquila, 13 segundos a frente do sueco Bengt Tragardh. Mais importante, saiu de lá com o acerto verbal para correr, no ano seguinte, toda a temporada de Fórmula 3 pela West Surray.
O RECORDE
Não era apenas potência dos carros que a Fórmula 3 era um desafio inédito para Ayrton Senna. Competir naquele que era o último degrau antes da Fórmula 1 representava uma pressão extra para qualquer piloto: tratava-se de vencer ou vencer, especialmente para conquistar os patrocinadores que cobririam os custos colossais da máxima categoria do automobilismo – todos, afinal, querem se associar ao campeão e não ao segundo colocado. Seu principal rival seria o inglês Martin Brundle, da Eddie Jordan Racing – equipe que dividia chassis
( Ralt ) e motores ( Toyota ) com a West Surray.
Senna tratou de mostrar logo a que veio. Na primeira metade da temporada, alcançou um desempenho absolutamente arrasador, com nove vitórias nas nove primeiras corridas disputadas – a oitava delas, um triunfo magnífico em Brands Hatch, dia 8 de maio, sob chuva e com dificuldades com o câmbio. Com isso, já batia o recorde de triunfos da categoria, então pertencente a Nelson Piquet, que vencera sete provas – alternadas – em 1978.
O SUSTO
Mas o que parecia improvável aconteceu. Martin Brundle, que também vinha fazendo uma temporada consistente havia sido o segundo colocado em oito das nove provas vencidas pelo brasileiro – emendou uma série de vitórias a partir da 11a etapa, em Cadwell Park, e começou a se aproximar de Senna na disputa pelo campeonato. Ayrton sofria com problemas no carro, que o forçaram a abandonar em cinco ocasiões. E assim, na penúltima etapa, Brundle passava Senna na classificação: 123 pontos a 122.
O GRAN FINALE
Tudo se decidiria, então, na última corrida, marcada para 23 de outubro de 1983 em Thruxton. Apesar da sequência frustrante de resultados, Senna e a West Surrey estavam confiantes, pois acreditavam ter solucionado o problema do carro – Ayrton foi pessoalmente supervisionar o processo de remontagem do motor Toyota na fábrica da Novamotor, na Itália.
Fomos a Snetterton para um teste antes da última prova, e estávamos voando com esse novo motor. Se estivéssemos com ele umas seis ou sete provas antes, não teríamos tido metade dos acidentes, declarou Dick Bennets ao jornalista Tom Rubython, autor do livro The Life of Senna.
O chefão estava certo. A decisão tão esperada virou um show particular de Senna, que ficou com a pole, a melhor volta e a vitória, sem dar a menor chance a Brundle – o inglês chegaria apenas na terceira posição, atrás do norte-americano Davy Jones.
Foi a corrida mais limpa e a mais fácil de toda a temporada. Dessa vez tive o meu carro bem preparado, sem nenhum problema desde os testes de Snetterton, nos treinos de classificação de hoje e durante a corrida, declarou Senna ao jornal O Globo após a prova. E, em meio a festa, fez uma ressalva. Esse campeonato também me ensinou muita coisa, sobretudo depois de tê-lo liderado com mais de 30 pontos para chegar com um ponto na corrida decisiva.