GP DE MACAU DE FÓRMULA 3 – 1983 – BRAÇO DE FERRO

Ayrton Senna, GP de Macau de Fórmula 3 em 1983

Ayrton Senna brilhou na prova de rua do enclave português e dominou a disputa com os postulantes a uma vaga na Brabham.

Em meio as fervilhantes especulações sobre seu futuro na Fórmula 1, Ayrton Senna, recém-coroado campeão inglês de Fórmula 3, ainda participaria de um último desafio na categoria em 1983: o Grande Prêmio de Macau.

Ponto culminante do tradicional festival de automobilismo que acontecia desde os anos 1950 no território ultramarino português na China – e que contava com competições entre motos e carros de turismo -, a prova de Fórmula 3 era uma novidade que chegava para fazer aquela edição subir de patamar. Nos últimos anos, o evento principal vinha sendo disputado por carros da Fórmula Pacific; com a mudança, a prova se tornaria, na prática, uma espécie de Campeonato Mundial de Fórmula 3.

De fato, seria um encontro único entre as maiores promessas das pistas internacionais. A Theodore Racing, equipe de Hong Kong fundada pelo milionário Teddy Yip e patrocinada pela Marlboro, apoiaria as duas prinipais escuderias concorrentes ao título: a West Surray Racing, de Ayrton Senna, e a Eddie Jordan Racing, que alinharia, além de Martin Brundle, adversário de Senna na F3 britânica, também o colombiano Roberto Guerrero – este já um veterano, com duas temporadas de experiência na Fórmula 1. Nomes como o Italiano Pierluigi Matinri, campeão europeu de Fórmula 3 de 1983, e Gerhard Berger, outro dos destaques da categoria, também estariam presentes na competição.

Além do prêmio de 1,000 libras esterlinas e, claro, do prestígio pela inédita conquista, uma outra disputa esquentava o clima da corrida – e que envolvia apenas três pilotos do grid. Nos dias que precederam o GP de Macau, Senna, Guerrero e Martini haviam feito testes com a Brabham no circuito de Paul Ricard, na França – a equipe britânica procurava um substituto para o lugar de Ricardo Patrese, que acertara com a Alfa Romeo. Bernie Ecclestone já havia indicado que um desses três nomes ficaria com a vaga. Mas não eram apenas critérios técnicos que seriam levados em consideração – tão ou mais importante eram os aspectos financeiros, e nesse ponto, a vantagem era de Roberto Guerrero, que trazia debaixo do braço um patrocínio de US$ 2 milhões do Café da Colômbia.

UM PASSEIO

Ayrton Senna chegou a Macau apenas dois dias antes da corrida – teve pouco tempo para testar o carro, e, no treino de classificação, deu apenas três voltas, recolhendo-se logo aos boxes por conta de problemas no câmbio. Mas isso já foi suficiente para o brasileiro ficar com a pole-position: seu 1m22s02 não foi superado por nenhum adversário nas duas sessões de tomada de tempo. ( informação importante: era a primeira vez que Senna corria oficialmente com um monoposto em circuito de rua. ) Atrás dele, largariam, pela ordem, Guerrero, Brundle, Martini e Berger.

O Grande Prêmio seria disputado em duas baterias de 15 voltas cada. E as duas tiveram os mesmos resultados: Senna em primeiro, Guerrero em segundo e Berger em terceiro. Eu gosto de ganhar, afirmou o colombiano ao jornal South China Morning Post de 21 de novembro. Mas a partir do momento em que Ayrton acelerou, ele esteve sempre no comando. Não houve nenhum momento da corrida em que eu sequer imaginei poder ganhar dele. Senna devolveu a gentileza e fez um agrado ao inconsolável rival, que, no ano anterior, liderava a prova mas bateu a duas voltas do final. Eu sabia que Roberto viria com tudo depois do que aconteceu aqui no ano passado, então ganhar dele foi um feito e tanto.

No comunicado de imprensa dirigido aos jornalistas brasileiros, porém, Ayrton foi menos modesto. Tinha condições de me distanciar mais de dois segundos por volta, mas não quis arriscar uma prova que considerava ganha. Senti também cansaço, porque a corrida me obrigou a fazer uso do câmbio mais de 1.200 vezes. Meu carro estava perfeito, consegui andar rápido e havia ainda a satisfação de medir forças com os meus principais concorrentes na luta por uma vaga na Brabham. Com o resultado, demonstrei que, braço por braço, estou levando vantagem, E era isso que queria provar.

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