GP DA HOLANDA 1985; VITÓRIA LIMPA

GP da Holanda 1985, vitória limpa de Lauda

Hipótese de jogo de equipe da McLaren não se confirmou: Niki Lauda resistiu ás investidas de Alain Prost e triunfou em Zandvoort.

Logo após conquistar o título mundial de pilotos de 1984, superando Alain Prost por apenas meio ponto, Niki Lauda, ainda tomado pela emoção, garantiu que estenderia a mão ao azarado companheiro de equipe no ano seguinte. Se depender de mim, Prost será o campeão de 1985. Vou fazer tudo para ajudá-lo a chegar ao título, declarou o austríaco.

Com a temporada de 1985 entrando em sua reta final, qualquer empurrãozinho começava a ser muito bem-vindo pelo francês da McLaren. A seis corridas do término do campeonato, Prost estava rigorosamente empatado com Michele Alboreto, da Ferrari, no topo da tabela de classificação: ambos tinham 50 pontos, bem á frente de Elio de Angelis, da Lotus, o mais próximo concorrente com 28 pontos. Na prática, portanto, a briga estava restrita aos dois líderes do campeonato.

Por isso, a promessa de Lauda voltou a pauta as vésperas do Grande Prêmio da Holanda, marcado para 25 de agosto. Ainda que nenhum dos envolvidos admitisse publicamente, a hipótese de um jogo de equipe estava no ar, e não apenas do lado da McLaren, evidentemente. Afinal, não seria surpresa nenhuma se a Ferrari entregasse, mais ou menos discretamente, a posição do sueco Stefan Johansson para o fratello Alboreto.

NELSON NA FRENTE

As especulações, porém, acabaram diminuindo nos dois dias de treinos classificatórios, graças ao mau desempenho dos possíveis escudeiros. Enquanto Prost classificou-se na terceira posição, Lauda fez apenas o décimo tempo.

Pelo lado de Maranello, os dois pilotos decepcionaram: Alboreto ficou no longínquo 16a lugar, um posto acima de Johansson.

A pole position ficou com Nelson Piquet, que largava na frente pela primeira vez no ano; o piloto da Brabham havia quebrado o recorde da pista, com 1m11s074, credenciando-se como o grande favorito para vencer a prova. Keke Rosberg, da Williams, completava a primeira fila, com Ayrton Senna, da Lotus, largando em quarto.

FORA DO SCRIPT

Todo e qualquer roteiro lógico para a corrida, entretanto, foi descartado logo na largada. Quando pintou a luz verde, Piquet ficou parado no grid, acelerei demais e usei a embreagem na hora errada, admitiu após a prova. Rosberg aproveitou e pulou para a ponta, seguindo por Senna, Prost e Teo Fabi, da Toleman. E, já no fim da primeira volta, o pelotão de frente ganhava uma companhia de peso: Niki Lauda, que havia pulado da décima para a quinta colocação. O austríaco não estava para brincadeira.

Rosberg abandonou a prova na 20a volta, deixando a liderança com Prost, que havia ultrapassado Ayrton Senna; algumas voltas depois, Niki Lauda também ganharia a posição do brasileiro. Assim, quando o francês parou para a troca de pneus, na 34a volta, Lauda assumiu a liderança, seguido por Senna. Prost voltou em terceiro e ultrapassou novamente Ayrton na 47a volta, o rendimento da McLaren era superior ao da Lotus. Configurava-se então a situação ideal para o jogo de equipe: Lauda em primeiro, Prost em segundo. Hoje sim?

HOJE NÃO

O austríaco ignorou solenemente a promessa do ano anterior. Em um duelo eletrizante, resistiu aos incessantes ataques do francês e manteve a ponta até o final, conquistando a 25a vitória de sua carreira. Ayrton Senna, que por sua vez também segurou as investidas de Michele Alboreto, completou o pódio.

Eu não tinha nenhuma ordem de equipe para ajudar Prost e nunca essa questão surgiu ou poderia ter aparecido no meu trabalho. Sempre disputei cada corrida da melhor forma que pude, e nesta não seria diferente, declarou o desmemoriado Lauda a O Globo após a corrida, aproveitando para elogiar o comportamento de Prost. Foi infernal, mais bonito. Gostei muito dessa luta final, mesmo não querendo repeti-la.

Já o francês, agora líder isolado na classificação, com 56 pontos contra 53 de Alboreto, também saiu satisfeito, garantindo que nunca esperou que Lauda lhe cedesse a vitória. Em absoluto, isso nunca foi parte do nosso acordo com a equipe, que é um só: correr e vencer, se possível. Ele foi melhor e ganhou merecidamente.

 

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